Por Magno Paganelli
O que há nas igrejas que possa atrair pessoas? Pense.
Você iria a uma Igreja,
assumiria compromisso irrestrito com os programas que ela propõe, se
necessitasse um “milagre financeiro? Esse apelo atrai muita gente, mas
de certo os mais sensatos seguirão o conselho dado pelo bom senso e pela
Bíblia para cada um trabalhar (Mt 5.45; Ef 4.28; 2Ts 3.10).
Muitas pessoas que
precisam de aconselhamento talvez prefiram recorrer a um profissional
que estudou para isso; um psicólogo é uma boa alternativa – ainda que
não seja a melhor e nem a única.
Que outro motivo levaria alguém a uma Igreja?
Pessoas desanimadas,
cansadas da vida, poderiam procurar uma Igreja. Mas também poderiam ir
ao teatro, a um espetáculo do tipo stand up comedy. Também poderiam
assistir a uma palestra motivacional. Há muitas alternativas às quais se
possa recorrer que, convenhamos, são melhores do que muitas igrejas por
aí.
Pessoas da última e da
nova geração encontrarão dificuldade em procurar uma igreja, porque as
Igrejas não têm dado motivo que apele para tanto. As “respostas” que
parte das Igrejas tem dado são para perguntas que não têm sido feitas.
Em grande parte, os programas semanais e dominicais das Igrejas são
rígidos demais em torno do conforto e bem estar daqueles que sustentam a
estrutura – falta vida e sinceridade. Não há espaço para variações,
porque há um time ganhando com a manutenção desse modelo – e em time que
ganha ninguém mexe.
Mas procure fazer um
exercício de alteridade, olhar a Igreja a partir do olhar do outro, de
quem está fora da Igreja. Esqueça por um minuto o que você sabe sobre
salvação, sobre vida eterna, sobre inferno, sobre bênçãos, e tente
sentir-se atraído a uma Igreja pelo que ela oferece, comparando-a com as
ofertas existentes no mercado.
O que você consegue enxergar?
Seja honesto, e procure ser atraído a uma igreja como ela se mostra a partir do olhar do outro.
Houve um tempo quando as
Igrejas influenciavam a sociedade, davam opções de vida condigna,
mudavam leis, serviam de referencial moral, apontavam caminhos
alternativos razoáveis para toda a vida, tinham um modo de pensar
coerente e eram uma opção a ser considerada. Embora com poucos membros
em relação a população evangélica atual, as Igrejas formavam uma
sociedade diferente, vigorosa, alegre e que dava certo.
E hoje, quais as ofertas ela faz que justifiquem a adesão a qualquer delas?
Há Igrejas que são
clubinhos de egoístas, que só pedem coisas ao deus Mamón o tempo todo;
não conseguem enxergar o mundo além do próprio umbigo e do dinheiro que
ocupa suas fantasias e nada sabem sobre generosidade, compaixão e
comunhão com pessoas diferentes. Há Igrejas com música de mau gosto e
com pregadores sem qualquer capacidade para fazer uso do microfone;
homens e mulheres que mal sabem se expressar e assaltam a língua
portuguesa – e o ensino bíblico também. Não estou ridicularizando
pessoas simples; tenho em mente os aproveitadores da fé, que não
conseguiram um bom emprego no mercado de trabalho e migraram para as
igrejas a fim de ganhar o dinheiro de gente vulnerável a uma boa lábia.
Há muitas Igrejas que se
fecharam em si mesmas numa cúpula de pretensa santidade, e vivem
apontando o erro dos outros pensando que só eles irão para o céu. Que a
salvação não depende do comportamento reto é uma verdade que eles não
conheceram ainda porque nada entenderam das próprias palavras de Jesus.
Que atrativo, então, há
para pessoas de fora da Igreja? O que é que estamos fazendo de razoável
que chame a atenção de homens, mulheres, jovens e adolescentes para
Jesus Cristo hoje?
As Igrejas não dão nada a ninguém; só queremos para si e para acumular. Como escrevi aqui, só em 2011 a Igreja teve lucro (!) de R$ 460 milhões em rendimentos com ações e aplicações financeiras!
A Igreja não é mais uma
referência moral inconteste. Há políticos, empresários, artistas e
profissionais que adotam o mesmo condicionamento da cultura produzida
nas ruas, ou seja, o padrão “mensalão” de que tanto se fala. Em muitos
casos não temos sequer um discurso atraente, pois nos voltamos somente
para dentro, para a manutenção do que temos e do que conseguimos, e não
para o campo, para o mundo. Falamos linguagem de gueto, por códigos e
não por parábolas que usam as experiências cotidianas das pessoas.
Concordo que precisamos
treinar missionários, mas urgentemente é preciso fazer cristãos para
viverem suas atividades cotidianas como missionários. Precisamos pensar
em atender ao outro, ao de fora, resgatar o significado da palavra
Igreja, que no grego ecclesia, “para fora”, mas que só entendemos como
“para dentro e para nós”.
As nossas liturgias são
boas, mas são boas para nós. Os nossos programas são bons, mas são bons
para nós. Os nossos templos são bons, mas são bons para nós. Não gosto
nem de pensar em pastores e líderes que ordenam a retirada de pessoas
mal vestidas de seus templos. Isso daria um texto ais longo ainda!
Se eu consegui ser
claro, você entendeu que não quero acabar com tudo, “cuspir no prato que
tenho comido”. Se eu consegui ser claro, você entendeu que precisamos
nos arrepender, rever as prioridades e voltar à cena, reaparecer, ou
melhor, mostrar Cristo em nós, a esperança da glória.
… a quem Deus, entre os
gentios, quis dar a conhecer as riquezas da glória deste mistério, a
saber, Cristo em vós, a esperança da glória. (Colossenses 1.27)
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