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por Fernando Rizzolo
Chovia
muito e a estrada de terra escorregadia fazia o carro deslizar como que
se estivesse sobre uma fina manta de gelo. De longe avistei Reinaldo,
um rapaz pobre, agricultor, alcoólatra, que com a camisa ensopada pela
água da chuva, tentava esquivar-se dos pingos segurando com firmeza sua
Bíblia. Ao me aproximar parei e lhe ofereci uma carona. Meio sem jeito,
agradeceu com um olhar desarmado e me disse que voltava do culto
evangélico. Tinha, enfim, tornado-se “crente” e afirmou isso com certo
orgulho, patente no seu gesto determinado e temente a Deus.
Ao
chegar em sua casa agradeceu-me e convidou-me para um dia conhecer sua
igreja, mesmo sabendo que não sou cristão. Aquele simples trajeto em
meio a uma chuva fina, me fez refletir sobre as transformações
espirituais que toda religião induz nas pessoas, pois de forma nobre
afloram da alma as melhores intenções do ser humano. Reinaldo é um dos
26 milhões de evangélicos do Brasil, segundo censo de 2000, número que
com certeza, nos dias de hoje, deve ter-se elevado consideravelmente.
Não
poderíamos deixar de reconhecer que as igrejas evangélicas,
independentemente de seus segmentos, contribuem de forma decisiva para a
formação da ética, da moral, dos bons costumes, preenchendo uma lacuna e
um espaço fértil onde a desesperança, a miséria e a desventura
prosperam face à fragilidade sócio-econômica e à falta de oportunidade
que ainda persistem no nosso meio, conduzindo os jovens à criminalidade,
ao vício e à desintegração familiar.
As várias denúncias
elencadas nos últimos anos em relação aos líderes de igrejas evangélicas
nos assustam e certamente, cabe ao Judiciário, como já o fez inúmeras
vezes, apurar os fatos baseando-se no princípio de isenção religiosa,
como é sua marca no Brasil. Contudo, nos parece pertinente uma reflexão
sobre o papel da imprensa em relação a essa questão que envolve, de
certa forma, essa grande parcela da sociedade brasileira, pois desta
feita, quem está sendo julgado são seus líderes religiosos.
Com
efeito – e me abstendo da questão criminal em si ajuizada – cabe ao
provimento jurisdicional julgar. Mas o que se observa é que existe nos
meios de comunicação uma insinuação velada de que ser evangélico no
Brasil é sinônimo de estar sendo enganado, ao mesmo tempo que, pouco se
demonstra ou valoriza, os atos dos fiéis, a mudança em suas vidas, a fé
despertada, a vida reconstruída. Tudo mais é enaltecido: os maus atos
dos líderes e a improbidade religiosa, o que por consequência,
desqualifica o espírito evangélico renovador, coisa que não deveria
acontecer. Nos EUA os evangélicos são responsáveis pelas maiores doações
a Israel e no Brasil, observa-se que a simpatia dos evangélicos pelo
povo judeu faz com que as diferenças religiosas sejam superadas através
do entendimento pela paz e da busca quanto à harmonia das idéias.
Não
seria justo que o lado bom de qualquer religião fosse ofuscado pela
postura dos líderes, mas assim como é necessário denunciar as
improbidades, também é dever da imprensa reconhecer e dar espaço às boas
coisas, prestigiando aqueles que como Reinaldo, através da religião,
tiveram o firme propósito de renascer com a sua fé, de superarem-se
através do amor que nutrem por Deus e com orgulho, dirigem um olhar
sereno segurando uma Bíblia, quando dizem: “ – Eu mudei, sou evangélico,
estou renascendo. Deus te abençoe.”
Fernando
Rizzolo é Advogado, Pós Graduado em Direito Processual, Professor do
Curso de Pós- Graduação em Direito da Universidade Paulista (UNIP),
Coordenador da Comissão de Direitos e Prerrogativas da Ordem dos
Advogados do Brasil da Secção São Paulo e membro efetivo da Comissão de
Direito Humanos da OAB/SP. É também articulista colaborador da Agência
Estado e editor do Blog – www.blogdorizzolo.com.br