Por Carlos “Catito” e Dagmar
Às vezes me pergunto
como é possível um cônjuge dizer ao parceiro a frase acima poucos anos
depois de terem jurado amor eterno um ao outro.
Na verdade, o que ocorre
é que cada um espera que o outro se amolde ao seu estilo de vida, e
isso não acontece. Além disso, as diversas tentativas de estabelecer
acordos para uma convivência harmoniosa fracassam e geram um sentimento
de amargura, que se transforma facilmente em agressão.
Fantasiamos que podemos
mudar o outro e transformá-lo “à minha imagem e semelhança”, mas isso é
uma grande ilusão. O outro é único e singular e possui uma forma
particular de perceber e interagir com a realidade, que é distinta da
minha. Isso é denominado por Ricouer1 de “ipseidade”.
No afã de transformar o
outro, as tensões aumentam e as frustrações também; até o ponto em que
“o pior sai de dentro de nós mesmos”. Ofendemos o nosso cônjuge com
palavras que pensamos que jamais falaríamos um dia. E o pior é que as
palavras uma vez proferidas não retornam à nossa boca. Um sistema de
queixas se instala no relacionamento e a ideia sempre presente é a de
que tudo seria mais fácil se o outro mudasse.
Nesta terceira etapa do
relacionamento (veja nas edições anteriores as características da
primeira e segunda etapas) também estão presentes uma série de jogos
manipulativos e ameaças silenciosas com o intuito de que o outro se
torne a pessoa que eu imagino que deva ser e cumpra a promessa de me
fazer feliz. Muitos utilizam o sexo ou o dinheiro para manipular o
cônjuge, o que produz apenas um maior afastamento.
Em geral, buscam um
aliado -- um amigo, o pastor, um conselheiro --, que está envolvido no
processo, na tentativa de que essa terceira pessoa convença o cônjuge a
mudar.
O grande desafio do
relacionamento conjugal é a busca da criatividade. Gerar harmonia a
partir de duas pessoas únicas e singulares e fugir da fantasia de que
podemos mudar o outro é tarefa do Espírito Santo e não nossa. O que
podemos e devemos fazer é incrementar o diálogo na busca de alternativas
que sejam boas para ambos. Um diálogo de escuta aberta e tranquila, e
não uma conversa “armada”, na qual não se permite que o outro sequer
complete sua ideia e fale tudo o que deseja, para que só então eu lhe
responda.
Um diálogo em que, antes
de eu tentar convencer o outro de que estou certo e ele, errado, tente
me perguntar: “Por que esta outra pessoa, que é inteligente, capaz, com
tantas qualidades e a quem eu amo entende esta situação de forma tão
diferente de mim?”. Assim amplio minha percepção da realidade e, por
conseguinte, enriqueço-me, pois ter duas perspectivas a respeito de um
determinado tema é sempre melhor que ter apenas uma.
Por fim, é necessário
compreender que o outro não é, não pode e não deve ser conforme a minha
imagem. Antes, na singularidade está registrada a multiforme beleza da
criatividade do Pai, que é infinitamente maior que nossas limitadas
capacidades de conceber a realidade e que se expressa na multiplicidade
de percepções de suas criaturas.