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Por Samuel Falcão
Embora
todos não possam concordar em tudo quanto se refere a este problema
intrincado, há pelo menos três fatos que todos os teístas admitirão
neste particular: 1. A existência do mal, 2. O fato de Deus não poder
ser o autor do mal, e 3. O fato de Deus permitir que o mal exista.
a) O primeiro fato que todos temos de reconhecer é a existência do mal ou pecado no mundo.
Os sofrimentos a que todos estamos sujeitos; o egoísmo que
caracteriza todos os homens; os inúmeros atos maus que têm sido
cometidos por todos os membros da raça humana através das eras; a
existência de pecados como o orgulho, o ódio, a cobiça, os ciúmes, as
mentiras, a lascívia e um sem número de pecados semelhantes a estes,
pecados que nós mesmos experimentamos, e pecados que vemos ao nosso
redor, em nosso próximo. Todos estes fatos conspiram em provar o
triste, mas incontestável fato de que o mal existe no mundo. Quereis
uma prova do numa só palavra? A guerra. Já se disse que a história da
humanidade tem sido escrita com sangue, porque é a história de suas
guerras. E a guerra, a maior loucura e a maior crueldade que o homem é
capaz, revela a dolorosa condição do gênero humano sob o domínio do
pecado.
A realidade do mal é
tão evidente que os pagãos foram levados a pensar que existem no
mundo duas forças eternas e opostas entre si, as quais têm estado e
estarão em luta constante para todo o sempre. Nós, que cremos num
Deus eterno e onipotente, não podemos concordar com essa teoria. Não
cremos nesse dualismo. Mas não podemos negar a realidade do mal, não
só porque sabemos de sua existência por nossa própria experiência,
mas especialmente porque a revelação de Deus afirma essa existência e
anuncia sua final derrocada, no fim desta luta terrível. Sabemos que o
bem é eterno, porque tem sua fonte em Deus, que não teve princípio
nem terá jamais fim; mas o mal é transitório, porque começou no
tempo, com os seres criados, e acabará (no sentido de ser vencido) no
tempo marcado por Deus, depois de ter realizado seu propósito. E
assim, na eternidade, para onde marchamos, o bem reinará supremo, sem
oposição, (ver Rom. 16:20).
b) O segundo fato que todos temos de admitir é que Deus não é o autor do mal.
O Deus em quem cremos é infinitamente bom e perfeito. Não podia ser o
originador do mal. Todas as Escrituras ensinam que Deus é
infinitamente santo e por isso, não podia ser o autor de algo que é
exatamente o oposto de sua natureza. O verdadeiro conceito do mal por si
mesmo nega a possibilidade de se atribuir sua origem a Deus. O mal em
sua essência opõe-se, é contrário a Deus e suas perfeições, em suma,
viola suas leis. A Bíblia ensina que até certas coisas que em si
mesmas não são pecaminosas, podem tornar-se tais, se as praticarmos
contra nossa consciência, isto é, contra aquilo que supomos ser a
vontade de Deus (cf. Rom. 14:14, 23; 1Cor.8:8-13).
Que
o mal se opõe a Deus vem sugerido pela figura da luz e das trevas,
empregada pela Bíblia para designar a Deus e a Satanás,
respectivamente. “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (1Jo.1:5).
Mas o reino de Satanás é o reino das trevas (Ef.6:12; At.26:18; Col.
1:12,13). Que são as trevas? São a ausência da luz. Assim, pois, que é o
mal? E a ausência de Deus, de quem procede todo o bem. Portanto, Ele
não pode ser o originador do mal, visto como não pode contradizer-se a
si mesmo. Não pode ser ao mesmo tempo luz e trevas. Esta é a razão
pela qual Tiago declara em sua epístola: “Deus não pode ser tentado
pelo mal” (Tg.1:13).
Estas
considerações sugerem uma pergunta muito importante: qual é a
natureza e qual é a origem do mal? É o mal uma tendência impessoal, ou
se originou numa pessoa?
O
mal não pode ser uma tendência impessoal, porque neste caso teríamos
de admitir uma das duas: ou Deus e o autor do pecado, ou existem duas
forças opostas entre si no mundo. Noutros termos, se o mal fosse uma
tendência, ou seria ele criado por Deus (o que importaria em negar a
santidade divina), ou o dualismo seria uma verdade. E então, como
começou o mal?
A única
explicação possível da origem do mal é a existência de um ser
superior ou ser moral que, tendo sido feito livre, podia opor-se a
Deus. No momento em que Deus criou um ser moral, inteligente, livre e
responsável, dotado de vontade que podia opor-se à sua, ele criou a
possibilidade de se desobedecer a essa sua vontade e, portanto, criou
a possibilidade do pecado que, como já vimos, é algo contrário a Deus
ou é afastamento de Deus. Ser moral é o que é livre e responsável e,
portanto, tem o direito de obedecer ou de desobedecer a Deus. Além do
que, não há valor algum na obediência que não se acompanha da
possibilidade de desobedecer. Visto como Deus não se pode contradizer a
si mesmo, não podia negar a um livre agente o direito de
desobedecer-lhe; ou, noutras palavras, não podia tirar-lhe o que ele
próprio lhe houvera dado — a liberdade.
A
Bíblia dá a entender que toda vez que Deus criou um ser moral,
submeteu-o a uma prova para ver se lhe obedecia ou não, dando-lhe uma
oportunidade de decidir ser a favor ou contra Deus. Foi este o caso
dos anjos, e foi igualmente o caso do homem, no princípio. O mesmo
aconteceu até com o homem Jesus Cristo, quando o Espírito o impeliu ao
deserto para ser tentado pelo diabo. Apesar de ser Filho, precisou
aprender a obediência através de seus sofrimentos (Heb.5:8).
A
Bíblia não diz exatamente quando e como o mal começou, mas revela
que por causa do orgulho, Satanás deu-lhe origem. Quando Deus criou o
homem, o mal já existia, visto como, antes da queda, proibiu-lhe
comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Penso que esta é
a razão por que Deus proveu redenção para o homem, porém não para
Satanás e seus anjos. Não foi o homem que originou o espírito de
revolta contra Deus, e de certo modo foi vítima do grande adversário de
Deus. Note-se nesta conexão que o inferno não foi feito para o homem,
mas foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Mat. 25:4l).
Concluímos,
pois, que o mal começou com a desobediência de um ser moral, que se
rebelou contra Deus e levou o homem a seguir-lhe as pegadas. Depois de
começar com um ato de desobediência e revolta, o mal tornou-se uma
tendência nos seres desobedientes. Temos aí por que todos os
descendentes de Adão nascem com uma natureza pecaminosa, como o
declarou Davi: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha
mãe” (Sl.51:5). Deus é o único que pode modificar e extinguir essa
tendência mediante uma completa transformação chamada nas Escrituras
novo nascimento.
c) O terceiro fato que precisamos admitir, com referência a este assunto, é que Deus decidiu permitir o mal, permitir que o pecado entrasse no mundo.
Admitir a santidade de Deus é reconhecer que Ele não podia ser o
originador do mal, como já vimos. Mas, por outro lado, crer em sua
onipotência é reconhecer que o mal não podia vir a existir sem que Ele
o permitisse. É claro que Ele decidiu, por algumas razões não
reveladas de todo, permitir que o mal penetrasse no mundo. Contudo não
precisamos inquietar-nos com as razões de Deus, porque Ele mesmo nos
tem dito em sua Palavra que “as coisas encobertas pertencem ao
Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos
filhos para sempre” (Deut. 29:29). Todavia não devemos esquecer que,
permitindo a existência do mal, Deus é capaz de controlá-lo e também de
extingui-lo no devido tempo, como é certo que vai fazer.
Que
Deus domina o mal e os seres malignos vemo-lo no fato de Satanás não
poder fazer qualquer mal a Jó, enquanto Deus não lho permitiu, e ainda
assim somente até onde Deus permitiu. Mesmo para entrar nos porcos,
os demônios precisaram pedir que Cristo lho permitisse (Mat.8:31,32).
O desejo de Satanás, durante muito tempo, fora naturalmente destruir
Jó, mas nada pôde fazer sem a permissão divina. Porém, pelo fato de
permitir que Satanás fizesse o que desejava, Deus merece censura pelos
atos do maligno? Certo que não. O mesmo se diga dos homens. Todos
nascemos em pecado, e nossa tendência é cada vez mais para o pecado.
Deus entretanto domina em nós essa tendência, interferindo ou deixando
de interferir permitindo ou não permitindo que nos afastemos dele até
onde queiramos. Algumas vezes Deus coíbe as ações dos homens, como
no caso de Abimeleque, a quem Ele disse: “Daí o ter impedido eu de
pecares contra mim, e não te permiti que a tocasses” (Gen.20:6). Que
Deus é capaz de dominar até os desejos dos homens vem declarado em Ex.
34:24, onde lemos: “Ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para
comparecer na presença do Senhor teu Deus três vezes no ano”. Outras
vezes, no entanto, Deus permite que os homens procedam como querem,
abandonando-os às suas próprias tendências e desejos. Lemos, por
exemplo, que “nas gerações passadas, Deus permitiu que todos os povos
andassem nos seus próprios caminhos” (At.14:16). Lemos também que
“lhes fez o que desejavam” (Sl.78:29). Ainda lemos em Rom.1:24,28
que, por causa do orgulho, da ingratidão e da vaidade dos homens,
Deus “os entregou à imundícia, pelas concupiscências de seus próprios
corações, para desonrarem os seus corpos entre si; e por haverem
desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma
disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes”.
(Leia-se também Deut. 8:2; 2Cron. 32:31; Os.4:7).