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Por Roberto Vargas Jr.
Quem é Deus? E o que é a realidade, o que é tudo que existe?
Alguém
já disse, e eu concordo, que, se não existe Deus, este assunto é
insignificante. Mas se Deus há, então tudo que se refere a Ele é da
maior importância. E a verdade é que a resposta à segunda pergunta
depende muito do que se responde à primeira.
Pois
bem, nós, reformados, afirmamos que há um Deus e queremos saber quem
Ele é. O curioso é que temos sido acusados recentemente de criarmos um
Deus à nossa imagem. Não atino como isto se possa dar, pela maneira como
O pensamos, mas isso é uma reciclagem da velha acusação de interpretar a
Bíblia pelo calvinismo e não o contrário. Não vale muito a pena ficar a
rebater tal acusação. O melhor mesmo é irmos às Escrituras e buscarmos
responder à questão sobre quem é Deus com base nelas. Pois, sim, ainda
cremos e creremos sempre que as Escrituras são a Revelação que Deus faz
de Si mesmo!
As Escrituras, pela graça de Deus,
são pródigas em revelar Seus atributos. E o estudo destes é algo que
deveria ser feito por todo aquele que se chama cristão. Impossível não
se maravilhar com o caráter de nosso Deus! Impossível não louvá-lO por
Suas qualidades. Impossível não se prostrar perante Ele e impossível não
Lhe dar glórias!
Sim, muito haveria que se
dizer sobre quem Deus é. Uma resposta exaustiva não é possível, pois Ele
é o Insondável. E mesmo Sua Revelação nos fala apenas daquilo que
precisamos saber. E, também, queremos uma resposta mais breve. Uma que
seja apenas suficiente para nos indicar o caminho da resposta à segunda
pergunta. Assim sendo, creio não haver caminho melhor que aquele que
passa pelo nome que Deus dá a Si mesmo e que passa também pelo nome em
que Ele é o próprio revelar-Se!
O nome que Deus dá a Si mesmo
Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros (Ex 3.14).
Talvez
a associação mais imediata que fazemos ao lermos Deus dizer EU SOU é em
relação a Sua eternidade e outros atributos diretamente relacionados a
ela. “Deus é” significa, em certo sentido, que Ele foi, é e será. Ou
talvez seja melhor dito que Ele sempre foi, é e sempre será! Uma
aproximação em termos de tempo, sem dúvida, pois a eternidade é
atemporal. Transcende o tempo. Deus é eterno!
E
este “sempre ser” também sugere imediatamente imutabilidade. Se é,
eternamente, é sempre o mesmo. Pois mudar significa deixar de ser. Deus
não muda, é imutável! Daí inferimos imediatamente Sua fidelidade. Pois
se é e não muda, eternamente, as promessas feitas desde a eternidade
serão cumpridas sem sombra de dúvida! Deus é fiel!
Assim,
em um curto e rápido olhar, percebemos a riqueza desta revelação. Três
atributos apreendemos e mais outros tantos podem ser inferidos. Mas há
um sentido em especial, o sentido ontológico, que nos cumpre olhar com
um pouco mais vagar: Deus, e só Deus, é! Apenas em Deus o ser é
propriamente. Ou, dizendo de um outro modo, apenas Deus propriamente é.
Sei bem que esta linguagem metafísica é estranha a muitos, dado o
espírito positivo (empírico) de nosso tempo. Mas esforcemo-nos em
apreender o sentido destas palavras. E, talvez, o melhor meio para isso é
pelo contraste com o que somos. E o que somos? O que é homem?
“O
homem é como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa” (Sl
144.4). Ontem nós fomos e hoje somos. Mas amanhã passaremos. Sim, somos
limitados. No tempo (contra a eternidade) e no espaço (contra a
onipresença). Mas para além disso, o homem só pode ser, ele apenas é,
enquanto Deus o sustem. Ele não pode suster-se por si. Não importa quão
grande ele se sinta ou quão seguro esteja de seu poder e força. Ele não
pode ir além de sua contingência. Agora ele é, mas, no momento seguinte,
como saber?
Deus, ao contrário, é ilimitado em
tudo que é. Não apenas eterno e onipresente, mas também onisciente e
onipotente. Mas, acima de tudo isso, Ele é porque é. Ele não pode não
ser, pois o não ser é o nada. Mas Deus, o Deus EU SOU, Ele é,
necessariamente!
Tudo que é, é. Porém apenas em
Deus o ser encontra seu perfeito significado. Deus é o Ser, e todo ser
dEle depende, dEle recebe o seu próprio ser. Apenas Deus propriamente é.
Apenas Deus é, absolutamente! Tudo o mais é relativo a Ele. Eis aí um
significado do EU SOU fundamental para todo pensamento humano: Deus é
Absoluto!
Deus é o Absoluto!
O nome em que Deus é o próprio revelar-Se
No princípio era o LOGOS, e o LOGOS estava com Deus, e o LOGOS era Deus (Jo 1.1).
Alegra-me
o fato de Deus ter-se revelado como o EU SOU numa era pré-filosófica.
Pois o fato precede a metafísica e toda a profundidade do pensamento
racional sobre o ser. Que os homens, mesmo sem conhecer o Deus Vivo dos
hebreus, tenham apreendido esta profundidade e os cristãos mais tarde a
tenham identificado não me sugerem qualquer acaso!
Mas
quanto ao Logos, ao contrário, não em relação ao acaso, mas ao uso
racional do termo, não me parece qualquer despropósito que João o
tivesse incorporado conscientemente ao vocabulário cristão devido
justamente a este uso. Isto é, no primeiro caso o significado do nome
independe de qualquer filosofia. Mas, no segundo, a filosofia está mesmo
a enriquecer o termo pelo qual Deus inspira o apóstolo a dizer ser Seu
nome.
Nossas Bíblias traduzem o termo Logos por
Palavra ou Verbo, havendo a identificação com Cristo. Estão a enfatizar o
princípio racional Criador pela própria ação de criar: “Disse Deus:
Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). Jesus é o Verbo, a Palavra criadora de
Deus. Na verdade, aqui já se encontra todo o significado que o termo
encerra: o Deus Criador! Porém, aquele que crê faz bem saber da ligação
filosófica entre os termos “logos” e “arché”.
De
forma bem resumida, os primeiros filósofos procuravam a arché, um
princípio pelo qual tudo vem a ser, sendo, além da própria constituição
do que é, tanto origem quanto aquilo que mantém todo ser. Este princípio
é também racional, um logos, um princípio de ordem e de beleza. A
associação deste conteúdo filosófico com o Deus Criador não é óbvia? E
não é mesmo enriquecedora do termo?
Assim é que o
LOGOS é o princípio que a tudo sustem por Sua Palavra, dando ordem e
beleza a tudo que é, sendo mesmo a origem a partir do que tudo deve seu
próprio ser. E note que, sendo o princípio pelo qual Sua voz a tudo dá
significado, é também por este mesmo princípio, Sua Palavra, que Ele se
dá a conhecer, que Ele Se revela! Seu nome é o próprio revelar-Se!
Enfim, o EU SOU, o Ser, o Absoluto, é o próprio LOGOS, o Deus Criador: a Origem!
Deus é a Origem!
A realidade
Temos respondida a primeira pergunta. Mas, e a realidade? O que é ela?
Não,
é claro que não tenho a pretensão, neste pequeno espaço, de dar
qualquer resposta, breve ou longa, simplista ou exaustiva. Não é sobre a
resposta em si que pretendo falar, mas do caminho para ela. Pois o
homem passou um longo tempo iludido por sua razão e acreditando que dela
poderia inferir todas as respostas que deseja. Muitos ainda a mantém
uma rainha, sem perceber quão irracionais são em sua racionalidade. Mas
outros tantos já perceberam sua loucura. E se desesperam de poder obter
qualquer resposta. Saem afirmando aos quatro ventos a impossibilidade de
se afirmar. Não possuem absolutos, nem mesmo a razão. Desesperaram da
verdade, desesperaram de conhecer! Neste contexto, vemos não só a
relevância, mas também a atualidade do cristianismo e da Revelação.
A
razão sozinha, feita ela própria um absoluto, não pode encontrar um
fundamento sobre o qual conhecer, pois ela não é este absoluto. Ela é
apenas uma faculdade do homem. E este é contingente. É limitado no tempo
e no espaço e incapaz de se colocar como a medida de todas as coisas.
Como a razão deste homem poderá se colocar como absoluta? Como poderá
medir tudo o mais por ela mesma? Apenas a ingenuidade pode manter a
razão em seu trono.
Então está certo o homem em
se desesperar! Está? Eis aí Deus a Se revelar! Ele se mostra o Absoluto
sobre o qual construir, um fundamento, o único, do pensar. Ele se
apresenta como a Origem de todas as coisas, sendo possível por Ele e
nEle encontrar o significado de tudo que há! Basta ouvir o que Ele diz e
saberemos não apenas quem Ele é, mas o que somos e o que toda realidade
é. Apenas a rebeldia pode insistir no desespero!
Conclusão
Oh,
nações, oh, povos! Atentem para o que estão fazendo, dizendo e
pensando! Oh, pecadores! Oh, cada um de nós! Busquemos o Senhor enquanto
se pode encontrá-lO (Is 55.6)! Ele Se revela e Se dá a conhecer para
que vivamos com Ele eternamente. Sim, Ele assim o faz! Ouçamos o que Ele
diz!
E louvemos a Deus como Ele é: “o Absoluto,
o Criador, a Origem, o Logos, o Eterno, o Imutável, o Ser, a Razão de
ser de tudo o que há, que houve ou há de ser, Aquele que não apenas
pode, mas que efetivamente dá a tudo sua significação e Aquele em quem,
enfim, a razão é, efetivamente, possível!”[1].
SOLI DEO GLORIA!