Por Guilherme Barros
Venho meditando há um bom tempo na carta
aos Hebreus. E mais uma vez, ao ler as sagradas escrituras vejo que
mesmo sendo escrita há tanto tempo atrás, ela ainda nos alcança e traz
advertências sérias as nossas práticas hoje. Isso se deve a dois
detalhes muitos importantes. O primeiro é que nada é novidade, como já
disse o Rei Salomão: “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol.” Eclesiastes 1:9.
E o segundo é que tudo que nós conhecemos e vemos vai passar, mas a
palavra de Deus permanecerá para sempre. Nas palavras do próprio Cristo:
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão.” Lucas 21:33. A muitos outros motivos pelos quais a palavra de Deus fala para nós hoje, mas vou me ater a estes dois.
O livro de Hebreus foi escrito cerca de
70 anos após a morte e ressurreição de Cristo. Este período foi marcado
por uma terrível perseguição aos Cristãos por parte do império Romano,
que não aceitava o Cristianismo como religião, apenas o judaísmo.
Mediante a este cenário, muitos Cristãos
estavam enfraquecendo na fé. Visto que muitos deles não foram
testemunhas oculares de Jesus e sua ressurreição. Eles acreditavam nos
testemunhos de uma minoria que ainda estava viva.
Os Cristãos estavam abandonando o Cristianismo e voltando as velhas práticas judaicas.
O autor de Hebreus (não se sabe ao certo
quem foi) escreveu esta carta, para encorajar os Cristãos a permanecer
em Cristo. O apóstolo durante todo seu escrito mostra toda a riqueza da
vida e do ministério de Cristo, como sua superioridade a todas as coisas
existentes. Ele queria mostrar que Cristo é imensamente superior ao
Judaísmo. Nas palavras de Stuart Olyott: “Afastar-se de Cristo é
afastar-se de algo imenso para algo menor – muito, muito menor. É
afastar-se do ser mais glorioso que há em direção a algo comum. É dar as
costas ao esplendor da glória de Deus para andar nas trevas
exteriores.”
No período da Idade média (séculos V a
IX), a igreja proporcionou o que foi chamado de idade das trevas. Onde a
igreja era o estado, e como tal reprimia todo e qualquer
desenvolvimento cientifico, intelectual, e artístico, se tais
conhecimentos não fossem aprovados pela a instituição chamada igreja
católica. Se observarmos as obras artísticas, e cientificas, todas eram
relacionadas a questões religiosas. Esse período foi marcado pela forte
repressão religiosa da igreja, onde somente o clero poderia interpretar
as escrituras, e somente eles tinham acesso a tal.
Essa época foi marcada por fortes
distorções doutrinárias, e éticas vindas da própria igreja. Suas
convicções eram fundamentadas pela tradição, e as escrituras não tinha
sua autoridade dentro da igreja. A instituição se colocava como
mediadora entre Deus e os homens. Chegando a vender terrenos no céu (as
famosas indulgências.), e colocando o Papa como cabeça da igreja e
substituto de Cristo. Qualquer pessoa que se opusesse a tais “verdades”
era levada a julgamento pela inquisição, e muitas vezes condenados a
morte.
Diante deste cenário Deus levantou
grandes homens para batalhar pelas verdades bíblicas, e trazer a verdade
à tona. Entre eles estavam Lutero, Calvino, Zwinglio e etc. Estes
homens lutaram para romper com os falsos ensinos da igreja católica.
Entre os quais eu queria destacar 5 deles, e como o livro de Hebreus os
ajudou os reformadores a combaterem tais ensinos:
1. A igreja é a mediadora entre Deus e os homens.
2. A tradição e o papado tem tanta autoridade quanto as escrituras.
3. O Papa é o substituto de Cristo como cabeça da igreja.
4. Padres são sacerdotes a quem devemos nos confessar e ter nossos pecados perdoados.
5. A salvação vem pelo
sacrifício de Cristo, mas juntamente com isto tem de vir o dízimo, as
penitências e a participação em atividades eclesiásticas. Somente o
sacrifico não salva.
No Séc. XXI a principal afronta ao
Cristianismo não vem da Igreja católica, visto que tal já foi
identificada como herética. E há uma separação entre as igrejas
protestante e católica. Mas o maior inimigo, ao meu ver, do cristianismo
nos nossos dias é um movimento que vem surgindo dentro das nossas
igrejas, o chamado Neopentecostalismo.
Após 496 anos da reforma protestante
muita coisa aconteceu dentro das igrejas frutos da reforma. Muitas
divisões aconteceram, diferentes denominações surgiram por algumas
divergências doutrinárias, mas toleráveis. Visto que por sermos
limitados por nossa natureza pecaminosa, nunca chegaremos a unidade de
pensamento, pois enquanto não formos redimidos por completo nunca
chegaremos a conhecer a verdade de maneira plena.
Mas da década de 80 para cá, um
movimento chamado de Neopentecostalismo vem crescendo significativamente
no meio protestante. Esta SEITA (como eu gosto de nomeá-la…) traz
ensinamentos que ferem em grande parte o que foi defendido pelos
reformadores, levando mais uma vez a igreja a práticas muito parecidas
com as que praticava na idade das trevas.
Os líderes desse movimento estão muito
preocupados com a influência política da igreja, para satisfazerem seus
interesses. Montam grandes impérios com o dinheiro que ganham dos fiéis.
Com toda sua influência e oratória formam “crentes” a cada dia mais
ignorantes em relação as escrituras, botando-as em segundo plano em seus
púlpitos e reuniões.
Deste movimento queria destacar 5 pontos em que se assemelha a igreja católica:
1. As igrejas mais uma vez se
tornam mediadoras entre Deus e os homens. Grandes líderes detém o poder
de curas, milagres e outros tipos de poderes sobrenaturais. E as pessoas
que quiserem ter acesso a esses benefícios tem de procurá-los.
2. Com o surgimento de novos
“apóstolos”, vem novas revelações diretamente de Deus para esses homens.
Que muitas vezes vão de encontro as escrituras sagradas.
3. Esses grandes apóstolos
funcionam como os donos da verdade. O que é dito por eles é lei. Não se
pode contestá-los pois são “ungidos do Senhor”. E quem vai de encontro a
suas ideias são chamados de inimigos da fé. Alguns chegam a amaldiçoar
seus perseguidores. (Qualquer semelhança com o papado não é mera
coincidência).
4. As indulgências voltam, mas
disfarçadas de ofertas, “dízimos”, objetos abençoados e etc. Todas essas
coisas são vendidas aos fiéis com a promessa de alcançarem o favor de
Deus.
5. Diminuem a figura de Cristo a ponto de colocar em dúvida a sua Divindade.
Agora, tomando como base o livro de Hebreus vou apresentar Biblicamente o quanto essas práticas estão equivocadas:
1. Os capítulos 5, 7 e 8 de
Hebreus apontam para Cristo como mediador da nova aliança, apontando
para ele como sumo-sacerdote da ordem de Melquisedeque. Que diferente
dos sacerdotes comuns, não adentou no santo dos santos, mas sim na
presença do próprio Deus nos céus. Sendo desta forma o mediador entre
Deus e os homens. Somente nEle temos livre acesso a Deus.
2. O capítulo 1 de Hebreus trata
de afirmar a revelação messiânica como sendo a última e superior
revelação de Deus para nós. Superior as dos anjos e dos profetas. Sendo
Cristo a chave hermenêutica para se interpretar toda a bíblia. E que
qualquer revelação diferente da de Cristo deve ser descartada.
3. Porque Cristo precisaria de
substituto? A igreja católica age como se Jesus tivesse morrido e
continuado morto. E sendo assim precisa que alguém cumpra sua função.
Mas a Bíblia afirma que Cristo ressuscitou, e que continua comandando
sua igreja, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder. E diz
noutro lugar: “Tu és sacerdote PARA SEMPRE, segundo a ordem de
Melquisedeque”. Hebreus 5:6
4. A bíblia nos diz que cristo é
nosso advogado junto ao pai. Que nEle temos perdão de pecados. E que
devemos nos confessar a Cristo, pois ele está a direita de Deus
intercedendo por nós! (Hebreus 5,6 e 7)
5. A carta aos Hebreus nos
ensina claramente que o sacrifício de Cristo foi único e suficiente,
para nos redimir. Visto que os sacerdotes faziam sacrifícios uma vez ao
ano, para redimir os seus pecados e os do povo. Cristo se ofereceu uma
única vez por nós. Sendo ele mesmo entregue em sacrifício. O cordeiro
puro, imaculado, unigênito de Deus com sua morte nos garante a vida
eterna. (Hebreus 9 e 10).
É evidente o quanto foi importante o
estudo do livro de Hebreus para se combater os falsos ensinos da Igreja
católica da idade das trevas, e daí surgir o protestantismo, trazendo
Cristo de volta pro Cristianismo. E ainda hoje ele serve muito bem para
nos alertar sobre os ensinos heréticos atuais. Como se pode observar a
muitas semelhanças entre as práticas da igreja anterior a reforma e as
que estão sendo resgatadas pelo movimento Neopentecostal atual.
Não há nada de novo. A igreja já
combateu esses ensinos uma vez. E por meio desse texto venho convocar a
igreja para mais uma vez entrar na guerra pela verdade. Não deixemos
Cristo e sua obra mais uma vez serem postos de lado dentro de nossas
igrejas. Cristo é o DONO DA IGREJA. E tal só existe por que e Ele a
edificou!
Para terminar esse texto deixo o alerta
que o Autor de Hebreus fez aos Cristãos da época, que estavam querendo
descartar Cristo e voltar ao judaísmo. Que serviu muito bem na reforma, e
que serve para hoje, onde Cristo não tem lugar dentro de “nossas”
igrejas. Deus requer a glória devida ao seu Filho, e todos nós um dia
estaremos diante do Deus vivo para lhe prestar contas!
“Quão mais severo castigo,
julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que
profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o
Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: “A mim pertence a
vingança; eu retribuirei”; e outra vez: “O Senhor julgará o seu povo”.
Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!” Hebreus 10:29-31