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Por John MacArthur
Martinho Lutero disse:
"Se o nosso evangelho tivesse sido recebido em paz, ele não seria o
verdadeiro evangelho". Se alguém já viu a verdade do Cristianismo
causar divisões entre pessoas e instituições, essa pessoa foi Lutero.
Ele pregou a verdade na Igreja Católica, mas essa verdade não trouxe
paz; ao contrário, ela criou a maior ruptura na história da religião.
Ela despedaçou o poder monolítico da hierarquia católica e deu início à
Reforma Protestante, a qual resgatou o verdadeiro evangelho do
sacramentalismo que o mantinha prisioneiro.
Na
realidade, Mateus 10.34 é paradoxal porque deveríamos esperar que o
Senhor trouxesse a paz. Afinal, João Batista era seu predecessor e ele
falou sobre paz. Quando os anjos proclamaram o nascimento do Messias
eles cantaram "Paz na terra". E, em João 14.27, Jesus afirma: "A minha
paz vos dou".
Em
pelo menos três lugares na carta aos Romanos, Paulo falou sobre a paz
que Deus nos dá (5.1; 8.6; 14.17). E verdade que existe paz no
coração daqueles que crêem, mas no que concerne ao mundo, não existe
outra coisa senão divisão. Sim, ele trouxe a paz de Deus ao coração do
crente, e, algum dia, haverá um reino de paz. O Antigo Testamento nem
sempre fez uma distinção clara entre a primeira e a segunda vindas. A
primeira trouxe uma espada; a segunda trará a paz perfeita
E
verdade que a primeira vinda trouxe uma paz parcial, a paz que
penetra o coração de todo que crê. Mas o Senhor advertiu os
discípulos: "Lembrem-se disto quando saírem: Vocês causarão divisão.
Causarão uma laceração e uma separação".
O
evangelho faz isso. E o fogo refinador que consome. Ele produz a
separação entre ovelhas e cabritos feita pelo pastor. Ele traz a pá do
agricultor que joga os grãos para o ar e o joio é separado. A entrada
de Cristo quebra e separa. Se Cristo nunca tivesse vindo, a terra
teria continuado unida, condenada ao inferno. Mas quando ele veio, uma
guerra estourou.
Em
Lucas 12, vemos algo disso. No versículo 49, Jesus diz: "Eu vim para
lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder".
Versículo 51: "Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo
afirmo; antes, divisão". Ele veio para trazer uma espada, não paz, no
sentido de que ele veio para colo¬car os membros de uma família uns
contra os outros. Ele afirmava que aqueles que fossem verdadeiros
discípulos estariam dispostos a criar uma divisão em seu próprio lar.
Isso
vai contra todos os nossos instintos, porque desejamos paz no nosso
lar mais do que qualquer outra coisa. E o nosso refugio, é o lugar onde
vivem as pessoas que mais amamos e melhor conhecemos. Não queremos
viver em desavença com eles. Mas quando nos comprometemos com Jesus
Cristo, se¬remos leais a ele, mesmo que isso destrua nosso lar, a nossa
vizinhança, nossa cidade, nossa nação. Se esse é o preço, pagaremos.
Jesus
expressou a severidade dessa ruptura na frase de Mateus 10.35: "Pois
vim causar divisão entre o homem e seu pai". Algumas traduções dizem:
"Pois vim colocar o homem em divergência com seu pai". A expressão
grega "em divergência com", ou "contrário a" é rara, e usada apenas
nessa passagem do Novo Testamento. Ela significa romper as relações.
Jesus dizia: "Eu separarei totalmente o homem de seu pai e todos os
outros parentes entre si. Destruirei as famílias de todas as maneiras
possíveis".
Esse
é o pior rompimento possível. Não é tão ruim quando estamos em
desavença com vizinhos, com o patrão, com amigos ou com a sociedade,
mas quando chega à família e o compromisso com Jesus Cristo significa
uma rup¬tura com os parentes, é aí que as coisas realmente começam a
se tornar difí¬ceis. Seu compromisso com Cristo vai contra o amor por
eles e a necessidade que sentimos da presença deles.
Seu
compromisso vai contra o desejo de viver em harmonia. Ser cristão e
seguir a Jesus Cristo pode significar uma divisão dentro do lar. Mas
essa é a marca do verdadeiro discípulo. Muitas vezes, unir-se a Cristo
significa o afastamento de membros da família que nos rejeitam porque
não rejeitamos o evangelho. Isso é especialmente verdadeiro em famílias
judias, assim como nas famílias que professam outras religiões
falsas.
Esse
é um padrão difícil, e muitas pessoas sentem que é sacrifício demais.
Algumas esposas não irão a Cristo porque temerão se separar do
marido. Al¬guns maridos não aceitarão a Cristo porque temerão se
separar da esposa. Os filhos podem não ir a Cristo por temerem seus
pais ou mães, e vice-versa. As pessoas não assumem sua posição ao lado
de Cristo porque desejam manter a harmonia familiar. Mas Jesus disse
que o verdadeiro discípulo deixará sua família, se for necessário
fazer tal escolha. Isso faz parte da auto-renúncia, aceitar
alegremente o alto custo de servir a Jesus para receber suas infinitas
bênçãos para os tempos de hoje e para a eternidade.
UM AMOR MAIOR
O
amor familiar é forte; sem dúvida é o laço humano mais profundo e
íntimo. Porém, ele não tem o poder que o amor por Cristo tem. Este é
tão forte que algumas vezes rompe os laços familiares. Uma jovem
senhora que conheço contou que se tornara crista vindo de uma família
totalmente paga e, como resultado, seu pai, a quem ela amava muito, se
recusava a falar com ela, quer pessoalmente quer por telefone; ele
desligava o telefone quando ela ligava. Disse ela: "Sempre penso que
ele deveria estar contente porque não sou uma alcoólatra, não sou
viciada em drogas, não sou uma criminosa, não passei por nenhum
acidente terrível que tivesse me deixado aleijada ou machucada. Nunca
fui tão feliz em minha vida como sou agora que me tornei cristã e, por
causa do meu amor por Cristo, ele não fala comigo". A razão é a
espada.
A
mesma espada caiu entre Caim e Abel. Abel era um homem justo, Caim
era injusto, e a ruptura foi tão grande que Caim não conseguiu
suportá-la — por isso matou o seu irmão.
Primeira
Coríntios 7 mostra-nos como a espada interfere num casamento cristão.
Se você tem uma mulher não-crente e ela concorda em permanecer com
você, não se divorcie dela. Se você tem um marido não-crente e ele
deseja permanecer com você, deixe-o ficar porque certa santificação
ocorre. Ou seja, as bênçãos de Deus que caem sobre o crente atingem de
modo temporal o parceiro não-crente. "Mas, se o descrente quiser
apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão
nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz" (v. 15). Esse é o
outro lado da situação. Uma vez que a espada caiu, então Deus nos tem
chamado à paz, e se o descrente deseja apartar-se, devemos deixá-lo
ir.
Tornar-se
cristão significa estar cansado do próprio pecado, ansiando por
perdão e pelo resgate do pecado atual e do inferno futuro, e afirmar
nosso compromisso com o senhorio de Cristo até o ponto em que estamos
prontos a abandonar tudo. Eu já disse isso antes e tornarei a dizer
novamente: não se trata apenas de uma questão de levantar a mão,
caminhar até a frente e dizer "Eu amo a Jesus". Isso não é fácil, não é
algo que nos tornará mais popular nem é uma resposta às necessidades
que o mundo diz que temos. Não é um mundo perfeito e cor-de-rosa no
qual Jesus nos concede tudo o que deseja¬mos. E difícil, exige
sacrifício e põe tudo de lado.
A
manifestação da verdadeira fé é um comprometimento que nenhuma
influência consegue abalar. Sem dúvida você ama sua família, seus
filhos, seus pais, seu esposo ou sua esposa. Mas se você é discípulo
verdadeiro, o compromisso com a salvação encontrada unicamente em
Cristo é tão profundo, tão intenso e tem um alcance tal que, se for
necessário, dirá não àqueles a quem ama por causa de Cristo.
John
Bunyan conheceu esse sofrimento de maneira muito especial. As
autoridades disseram-lhe que parasse de pregar, mas ele respondeu: "Não
posso parar de pregar porque Deus me chamou para isso". A resposta
foi: "Se o senhor pregar, nós o colocaremos na prisão".
Então
ele pensou consigo mesmo: "Se eu for para a prisão, quem cuidará da
minha família? Ao mesmo tempo, como posso fechar a minha boca quando
Deus me chamou para pregar?".
Bunyan
foi suficientemente forte, corajoso e fiel para entregar sua família
aos cuidados de Deus e permaneceu fiel e obediente ao chamado para
pregar, e eles o colocaram na prisão. E foi na prisão que ele escreveu
sua magnífica alegoria, O Peregrino, que tem abençoado tantos milhões
de famílias ao longo dos séculos com seu ensino sobre o caminho da
salvação. Sem ele, sua família sofreu, mas Deus cuidou dela. E mediante
esse sofrimento, Deus realizou obras maravilhosas na vida de
incontáveis pessoas.
Num apêndice à sua autobiografia Grace Aboundingto the ChiefofSinners, Bunyan escreveu:
A
separação de minha esposa e de meus pobres filhos tem sido
freqüentemente para mim neste lugar [a cadeia], como arrancar a carne de
meus ossos; e isso não porque eu seja de certo modo muito ligado e
aficionado a essas grandes Misericórdias, mas também porque eu sempre
tinha de trazer à minha mente as muitas dificuldades, misérias e
necessidades que minha pobre família teria de enfrentar se eu tivesse de
ser apartado deles, especialmente meu pobre filho cego, que permanece
mais próximo do meu coração do que qualquer um dos outros. O, o
pensamento das dificuldades que eu penso que o meu filho poderá
enfrentar, parte o meu coração em pedaços ... Mas, ainda assim,
relembrando o que se passou, eu pensei: preciso entregar todos a Deus,
embora eu esteja para deixá-los em breve. Nessa condição eu me percebi
como um homem que estava destruindo sua casa sobre a cabeça de sua
esposa e filhos; ainda assim, pensei, eu tenho de fazer isso, eu tenho
de fazer isso.'
Peço
a Deus que nunca tenha de tomar esse tipo de decisão, mas é uma
possibilidade. Você pode ter tido a necessidade de fazer essa escolha
porque confessou a Jesus Cristo, e certamente isso foi um fardo para
sua família. Mas essa é a maneira pela qual provamos a realidade da
nossa conversão. Aquele que diz: "Não estou disposto a fazer esse
sacrifício", não é genuíno. Em Mateus 10.37 Jesus diz: "Quem ama seu
pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim". Não podemos ser
seus discípulos e receber sua salvação se nossa família significa mais
para nós do que Cristo.