CRENTES ZUMBIS DE 20 E POUCOS ANOS
Por Pedro Pamplona
Aquele velho clichê de aniversário sempre aparece: “o tempo passa rápido”. E o pior é que passa mesmo. Um dia desses eu estava fazendo 18. Minha péssima memória ainda se lembra bem de quando tirei a carteira de motorista, parece que foi ontem (mais um clichê). E parece mesmo. O tempo não para quando nós paramos. O tempo não desacelera quando nós desaceleramos. Não existe segunda chance para o tempo e nem mesmo a opção de restart do vídeo game. Não é possível voltar o vídeo como fazemos no Youtube, muito menos apagar posts como no Facebook. O tempo é agora e mais tarde o agora já se foi. Mas qual a razão desse papo sobre tempo? Antes que pensem que estou ficando deprimido pela “velhice” dos meus 20 e poucos anos, deixem-me explicar: na verdade estou entristecido pela apatia cristã dos crentes de 20 e poucos anos. A fase com mais potencial das nossas vidas está nos fazendo de zumbis dentro da Igreja. Mortos e frios em relação a nossa missão. Temos sobrado em várias coisas e deixado outras importantíssimas e vitais de lado. Espero que isso mude, a começar por mim.
Sobra admiração, falta devoção
Temos admirado Jesus. É
até difícil afirmar que Jesus é o ídolo maior da nossa juventude cristã,
mas vamos ter isso como verdade. Andamos com camisas como o seu nome.
Está cheio de Jesus nas nossas páginas do Facebook. Nós falamos bem
dEle. Cantamos e até repetimos seu nome como uma torcida de futebol faz.
Jesus de verdade tem sido admirado, mas acaba por ai. Infelizmente
nossa cultura tem transformado Jesus em mais um ídolo gospel. Talvez o
maior, claro, mas não passa de um nome para ser admirado, gritado e
cantado.
Falta devoção em meio a
admiração. Jesus é Senhor sobre a criação e criaturas. Jesus governa
todas as coisas do seu trono. Jesus não é um ídolo ou personalidade
famosa. Jesus é Rei. Jesus não vendeu milhões de discos, deu sua vida em
nosso favor. Jesus não ganhou nenhum Nobel, mas a vitória sobre a
morte. Temos admirado, mas falta rendição ao senhorio de Cristo. Falta
obediência, entrega e temor a Jesus. Ele não é essa caricatura de pop
star paz e amor que fizeram dele. Jesus merece e requer nossa devoção, e
não apenas a admiração de jovens empolgados de 20 e poucos anos.
“Por isso, também Deus o
exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para
que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na
terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o
Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:9-11)
Sobra empolgação, falta adoração
Somos empolgados mesmo
nessa idade. Empolgados com a faculdade, com o emprego, com o namoro,
com o carro próprio e com o intercâmbio. Gostamos demais dessas
conquistas e de ver o que Deus está fazendo em nosso favor. Ficamos
empolgados com Deus também. É bom ir no culto, acampamentos, sair com o
pessoal da igreja e contar o que Deus está fazendo. Pulamos, vibramos,
marchamos pelas ruas, gritamos e cheiramos Bíblias. Saímos por ai
dizendo que somo loucos por Jesus, que somos príncipes e princesas, que
podemos tudo naquele que nos Fortalece e etc.
Mas falta adoração.
Falta o momento de pausar na presença de Deus para adorar quem Ele é e
não o que ele pode fazer pela sua vida de 20 e poucos anos. Falta a
satisfação simplesmente no caráter de Deus e sua obra de redenção. Falta
o primeiro amor do coração que se quebranta pelo simples fato de ainda
estar batendo. Falta o olho que chora de alegria pela beleza das
escrituras. Falta o momento calmo na presença de Deus só para adorar sem
pedir nada em troca. Deus não é um cartão de crédito universitário. Ele
nos colocou aqui não para o usarmos e trocarmos por vantagens, mas para
ser adorado e glorificado. Deus não quer só a empolgação de jovens de
20 e poucos anos que estão dispostos a crescer na vida. Ele quer
corações.
“O combustível da
adoração é uma visão correta da grandeza de Deus. O fogo que faz o
combustível queimar com calor extremo é o avivamento do Espírito Santo. A
fornalha acesa e aquecida pela chama da verdade é nosso espírito
renovado. E o consequente calor da nossa afeição é a adoração poderosa,
que abre caminho por meio de confissões, anseios, aclamações, lágrimas,
cânticos, exclamações, cabeças curvadas, mãos erguidas e vidas
obedientes” (John Piper)
Sobra disposição, falta submissão
Estamos numa idade em
que disposição não falta. E aqui serei otimista de novo. Não falta
disposição para as coisas que nos interessam. Seja nos estudos,
trabalho, esportes e também na igreja. Queremos desempenhar um bom
papel. Queremos ser os melhores possíveis. As vezes perdemos até o foco
porque queremos abraçar o mundo com as mãos. Somos bem ativos. Servimos
na igreja, queremos sair para protestar, entregar alimentos aos pobres e
fazer nossa diferença. Mas toda essa ação e disposição não tem levado
em consideração algumas autoridades, não tem nos ensinado a escutar o
“não”.
Falta submissão em
crentes ativistas de 20 e poucos anos. Queremos fazer tanto que para
isso vale até passar por cima da Bíblia, pastores e líderes. Falta
submissão na hora de escutar o “agora não”, “assim não”, “por ai não” ou
simplesmente “não”. Queremos ser justiceiros e heróis pelas próprias
mãos. Não aceitamos que ninguém atrapalhe nossa missão. Mas esquecemos
de que ela não é nossa, não a criamos e nem a sustentamos, apenas
trabalhamos nela. E quem trabalha obedece a um superior. Falta submissão
a lei de Deus e autoridades. Até mesmo civis, como é o caso de crentes
que apoiam os black blocs. A missão deixada por Jesus é uma missão de
submissão. Deus quer pessoas humildes debaixo da sua mão soberana para
agir através da obediência. Deus não espera argumentos e ações
anarquistas de jovens de 20 e poucos anos. Ele nos chamou a submissão.
“Deus só é corretamente
servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade
de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação,
senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus” (João
Calvino)
Sobra argumento, falta fé.
Nossa fase é a fase do
argumento. Temos aprendido muito na faculdade. Admiramos nossos
professores e as disciplinas de filosofia, ética, política, etc. Temos
estudado também sobre Deus, Bíblia e assuntos afins. Apologética tem
ganhado fama no nosso meio. Sobram argumentos. Sobram achismos. Sobram
questionamentos a respeito da Bíblia. Sobram dúvidas a respeito da
revelação de Deus. Sobram conversas idiotas sobre temas em que a Palavra
não se pronuncia. Mas falta fé.
A racionalização deixou o
sobrenatural de lado. Queremos tornar ciência aquilo que é milagre e
mistério de Deus. Queremos explicar o inexplicável. Temos dificuldade de
crer que Deus abriu o mar (é melhor pensar que a maré secou). De crer
que Deus cura. De crer que Deus fala. De crer que Deus liberta das
drogas. E o pior, duvidamos que Deus possa salvar sem nossa ação ou
esforço de persuasão. Falta fé nos jovens de 20 e poucos anos. Deus não
te tirou do colégio e te colocou como intelectual de faculdade, Ele te
arrancou das trevas e te levou para Seu reino de glória e amor.
Argumentos podem faltar, mas sem fé é impossível agradar a Deus.
“Ora, sem fé é
impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima
de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Hebreus 11:6
Eu poderia continuar
dizendo várias outras coisas que sobram e faltam, mas essas 4 já nos dão
uma ideia do cenário. Poderia ainda escrever que sobra namoro e falta
casamento. Sobra auto ajuda e prosperidade e falta boa teologia. Sobra
carreira, empreendedorismo e concursos e falta reino. Sobra discussão
teológica pobre e falta oração. Sobra versículo solto na internet e
falta estudo da Bíblia. No final de tudo, sobra muito osso seco, mente
seca e coração seco. Pois as coisas desse mundo não tem vida. Por isso,
andamos que nem zumbis pela Igreja. Sem devoção, adoração, submissão e
fé num Deus real e sobrenatural. Esse é o tipo de vida em que a “letra
mata”, mas aquele mesmo Espírito que soprou sobre o vale de ossos secos
ainda vivifica. E através dEle ainda temos vida. Que esse Espírito sopre
sobre nossa geração de 20 e poucos anos. Não para sermos melhores
adultos, mas para sermos melhores cristãos e adoradores. Com fé, a letra
que antes matava agora é vida. Não podemos perder esse tempo precioso
da juventude, ele não volta mais. A boa nova é que não existe zumbi que
não ganhe vida diante do Deus criador de tudo. Que Ele nos ajude!
“No entanto, está
chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o
Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o
adorem em espírito e em verdade”. (João 4:23-24)
Soli Deo Gloria