Por Maurício Zágari
Quantos tipos de pecados
existem? Serão dezenas, centenas, milhares, milhões? Confesso que não
sei ao certo, mas uma certeza tenho: são muitos. Muitos mesmo. Isso é
curioso, porque, embora existam tantas e tantas e tantas formas de
desobedecer a vontade de Deus, parece que concentramos nossa atenção em
um pequeno punhado delas. Veja se estou errado: o que escandaliza a
esmagadora maioria de nós são atitudes como embriaguez, fumo, consumo de
drogas, envolvimento em programações consideradas pecaminosas (boate,
bailes, carnaval, shows etc.) e aquilo que pomos no pináculo dos
pecados: práticas sexuais ilícitas. Tudo o que é pecado é pecado, logo,
não podemos ignorar o quanto qualquer uma dessas atitudes pecaminosas é
tóxica para nossa alma nem diminuir a gravidade de qualquer uma delas.
Mas o que me chama a atenção é como desenvolvemos o hábito de pôr no
paredão apenas um pequeno grupo de transgressões – em especial, os
pecados sexuais, considerados por muitos como piores do que a blasfêmia
contra o Espírito Santo – quando existem dezenas, centenas, milhares ou
milhões. Será que a eleição do sexo ilícito no imaginário popular como a
pior de todas as transgressões tem alguma implicação? Tem sim, e são
implicações sérias.
Acabei de ler um livro
em que, em síntese, o autor expõe sua visão do que faz um sacerdote ser
bem-sucedido, ou seja, o que seria sucesso no ministério. É uma obra bem
interessante e que tem o seu valor, mas algo chamou minha atenção.
Percorri com interesse suas páginas, até que cheguei ao capítulo que
fala sobre santidade. Quando vi o tema, imaginei que ele discorreria
sobre diferentes questões, como bom uso do dinheiro da igreja,
relacionamento saudável com a família, cuidados com a vaidade excessiva,
sexualidade sadia, humildade no uso do poder, justiça ao lidar com as
ovelhas, a importância de ser manso no trato com os diferentes, a
necessidade de não se corromper para obter facilidades, amar o próximo
como a si mesmo, e uma série de outros tópicos que, a meu ver, são
indissociáveis do tema santidade do ministro. Só que, para minha
surpresa, o autor começa o capítulo falando sobre sexo, prossegue
falando sobre sexo e o termina falando sobre… sexo. Cheguei ao final
desse trecho pensando: “Tá certo, concordo, mas… só sexo?!”.
É absolutamente
inquestionável que uma sexualidade santa é fundamental para a vida
pessoal e ministerial de um indivíduo, devemos estar em constante
vigilância para não cometer transgressões sexuais e, caso pequemos,
sempre buscar o arrependimento sincero e a mudança de atitude. Mas, do
jeito que o autor desse livro e muitos irmãos e irmãs tratam a questão, a
sensação que tenho é que ser santo é apenas ser sexualmente santo. A
pergunta é: e o resto? E as outras dezenas ou centenas, os outros
milhares ou milhões de pecados, que fim levaram?
A conclusão a que chego é
que nós criamos um ranking de pecados. E, no alto do pódio, triunfando
como os piores pecados de todos, estão os de cunho sexual. Uma distinção
que, é importante lembrar, a Bíblia não faz.
Não quero ser mal
compreendido, então preciso enfatizar algo: pecado sexuais são graves.
Nunca vou dizer o contrário nem vou passar a mão na cabeça deles. São
horríveis e ponto. Toda prática sexual ilícita é destrutiva e só gera
problemas, dor, morte e devastação. Sofro com um gosto amargo na boca só
de pensar nos erros que cometi nessa área (e se você está praticando
algo do gênero recomendo, por amor a sua vida e a sua alma, que pare
imediatamente, já – de preferência, ontem). Mas o grande mal de se
resumir os pecados graves a sexo é que todos os outros pecados graves
começam a ser praticados sem que se dê o devido peso a eles.
Se um ministro do
evangelho comete um pecado sexual, ele imediatamente é afastado de seu
cargo. E isso é correto, pois essa alma preciosa e valiosa está doente e
necessita ser tratada, cuidada, pastoreada, sarada e, só então,
reconduzida às suas atividades ministeriais. Mas não deveria ser assim
também com um ministro que peca pela inveja? Pela ganância? Pela
arrogância? Pela soberba? Pela corrupção? Falta de amor? Vaidade?
Maledicência? Dissensões? Partidarismos? Egoísmo? Egocentrismo?
Hipocrisia? Abuso de poder? Favorecimentos ilícitos? Violência verbal?
Injustiça? Traições? Quebra da ética pastoral? Mau uso do dinheiro da
igreja? Etc., etc., etc? Confesso que não consigo me lembrar de quase
nenhum caso de um ministro que tenha sido afastado do cargo por qualquer
um desses pecados. Graves, diga-se. Hediondos. Um pastor soberbo,
agressivo, corrupto ou vaidoso é uma anomalia espiritual. Precisa de
tratamento tanto quanto um viciado em pornografia na internet.
E não estou nem de longe
falando apenas de ministros do evangelho. O mesmo se aplica a cada um
de nós. Em um culto recente em minha igreja, um de meus pastores iniciou
a celebração convidando a congregação a confessar seus pecados a Deus.
Claro que me lembrei de meus pecado sexuais. Mas também me lembrei de
muitos e muitos e muitos outros tipos de pecados, a ponto de a oração
terminar e eu ter de interromper meu ato de contrição sem ter tido tempo
de conversar com o Senhor sobre todos. Poucas vezes nos derramamos em
lágrimas por termos sido, por exemplo, invejosos, iracundos,
gananciosos, espertalhões, abusados ou por termos usado o “jeitinho
brasileiro” (que é pecado, diga-se de passagem). Praticamos essas
transgressões contra Deus sem nenhum drama de consciência, enquanto
legiões de irmãos se deprimem por estarem, por exemplo, escravizados ao
vício em pornografia. Por ser uma situação tão inexistente, chega a soar
engraçado imaginar um líder ir a público dizer:
- Meus irmãos, preciso me licenciar do ministério pois não honro meu pai e minha mãe e tenho de me tratar espiritualmente.
Ou um membro de igreja que procure auxílio em gabinete pastoral afirmando:
- Pastor, preciso de libertação porque sou muito invejoso.
Você já viu alguém ser
disciplinado na igreja por ter praticado a glutonaria? Eu nunca. Na
verdade, em todos os meus anos de convertido nunca ouvi uma única
pregação, escutei uma música gospel ou li um livro cristão sequer que
fosse sobre esse pecado. Parece engraçado eu estar dizendo isso? Não
quando lemos na Bíblia que “não herdarão o reino de Deus os que tais
coisas praticam” (Gl 5.21). Meu irmã, minha irmã, isso é extremamente
sério! Essa passagem, por exemplo, me mostra que a glutonaria é tão
grave e tem consequências tão severas como a fornicação, por exemplo, e
outros pecados sexuais. E aqui reside o perigo, o xis da questão: se eu
te perguntar quantas vezes você adulterou na vida, pode ser que me
responda, indignado e ofendido: “Nunca!”; mas, sinceramente, quantas
vezes você foi glutão? Umas 50? 100? 200? 300? E será que ao menos se
arrependeu e pediu perdão a Deus por isso? Ainda: será que ter pecado
pela glutonaria sem arrependimento faz de você menos culpado diante do
Senhor do que se tivesse fornicado mas se arrependesse e pedisse perdão
com toda sinceridade?
A mesma passagem que
mostra a gravidade da obra da carne glutonaria a inclui no mesmo grupo
que “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias,
inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,
invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas” (Gl
19-21). Atravessamos a vida com nossa santidade sexual intocada mas
cultivamos inimizades, sentimos ciúmes, promovemos discórdias,
estimulamos facções, sentimos inveja e por aí vai – sem que nos
arrependamos ou peçamos perdão ao Senhor. Será mesmo que estamos tão
melhores assim na fita?
Todo pecado é grave. Mas
existe um tipo de pecado que, sim, é mais grave do que os outros: o
pecado não confessado. Enquanto ficarmos pondo corretamente o dedo na
cara dos pecados sexuais mas passando incorretamente a mão na cabeça dos
demais tipos de pecados, estaremos deixando de pregar contra eles,
continuaremos a praticá-los sem arrependimento, não os confessaremos a
Deus e, com tudo isso, seremos engolidos por atos hediondos para o
Senhor mas a que não damos tanta atenção porque, para nós, não são tão
hediondos assim.
Eis o grande mal da ditadura do sexo: deixamos de confessar nossos outros pecados, igualmente perniciosos.
Pode ser que você tenha
se casado virgem, nunca tenha se masturbado, viva uma vida livre de
adultérios e jamais tenha espiado pornografia na internet, entre outras
atitudes sexuais biblicamente ilícitas. Se esse é o seu caso, ótimo –
mas cuidado: sua sexualidade pode não te afastar de Deus, porém, de
repente, sua língua, seus olhos, seu coração, seu ego ou suas atitudes o
estão mantendo a anos-luz de distância do Senhor.
Quais são os pecados que
você comete habitualmente mas aos quais não dá muita importância?
Lembre-se de Provérbios 28.13: “O que encobre as suas transgressões
jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará
misericórdia”. Examine-se, pois, o homem a si mesmo… e alcance a
misericórdia do Pai.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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