segunda-feira, 18 de março de 2013
“Espírito x Escritura”
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Por Josaías Jr
Talvez
alguns questionem a relevância dos escritos de João Calvino para nosso
tempo. Como um teólogo do séc. XVI pode nos ajudar? Acredito que, por
sua dedicação em expor a Palavra com a maior fidelidade, os textos do
mestre de Genebra são bastante proveitosos para os cristãos hoje. Nosso
Cristo é o mesmo ontem e hoje, a Escritura não pode falhar tanto no
1536 quanto em 2010, e a humanidade continua debaixo da maldição de
Adão. Se o crente procura uma boa exposição da Bíblia, encontra ótimo
trabalho em Calvino, mesmo que não concorde em todos os pontos com o
reformador. É por isso que até hoje muitos (como eu!) dedicam seu tempo
a entender melhor o pensamento do controverso e mal compreendido
teólogo francês.
Um
bom exemplo é a forma como o Reformador lida com o problema daqueles
que menosprezam as Escrituras em detrimento de supostas orientações do
Espírito de Deus, muitas das quais contrárias à Palavra. Parece até que
o pastor francês enfrentava desafios idênticos aos que os crentes
atuais encaram. No capítulo nove, do livro I das Institutas, ele lida com muita lucidez esse problema. Lá, Calvino fala que “surgiram
em tempos recentes certos desvairados que, arrogando-se, com extremada
presunção, o magistério do Espírito Santo, fazem pouco caso de toda
leitura da Bíblia e se riem da simplicidade daqueles que ainda seguem,
como eles próprios a chamam, a letra morta e que mata” (1.9.1,
textos de Calvino sempre em vermelho). Com a ajuda do reformador,
vejamos como devemos evitar esse tipo de reinvidicação.
Provavelmente
nos virá à memória alguém que conheçamos, que pensa de maneira
semelhante aos contemporâneos do reformador, e outros leitores até
tenham se sentido mal por parecerem tão “insensíveis ao toque do
Espírito”. Talvez alguns de nós já fomos tratados como alguém que segue
a letra morta, ao invés de deixar-se levar pelos “ventos do Espírito
de Deus”. Mas o reformador sabe que nenhum dos apóstolos pensava assim.
“Eu,
porém gostaria de saber deles que Espírito é esse de cuja inspiração
transportam a alturas tão sublimadas que ousem desprezar como pueril e
rasteiro o ensino da Escritura? Ora, se respondem que é o Espírito de
Cristo, tal certeza é absolutamente ridícula, se na realidade concedem,
segundo penso, que os apóstolos de Cristo e os demais fiéis da Igreja
primitiva, foram iluminados não por outro Espírito. O fato é que nenhum
deles aprendeu o menosprezo pela Palavra de Deus.” (1.9,1)
Para Calvino, o Espírito e a Escritura estão unidos por um “vínculo inviolável”,
mas aqueles que tentam criar uma dicotomia entre esses dois elementos
cometem sacrilégio e desrespeito para com Deus, sua Palavra e o próprio
ministério do Espírito Santo.
“Logo,
não é função do Espírito que nos foi prometido configurar novas e
inauditas revelações ou forjar um novo gênero de doutrina, mediante a
qual sejamos afastados do ensino do evangelho já recebido; ao
contrário, sua função é selar-nos na mente aquela mesma doutrina que é
recomendada no evangelho.”
Como já vimos, crescimento espiritual e leitura da Palavra não se separam.
“Se
ansiamos por receber algum uso e fruto da parte do Espírito de Deus,
imperioso nos é aplicar-nos diligentemente a ler tanto quanto ouvir a
Escritura.” (1.9.2)
Porém,
existem aqueles que negam a necessidade do estudo bíblico e enfatizam
uma suposta orientação do Espírito Santo. Ainda hoje esse tipo de
heresia existe, e muitas vezes vemos alguém enganando a si, afirmando
ter uma revelação especial, quando aquilo que ela sustenta pode até ir
contra a Escritura.
A
resposta de Calvino pode parecer polêmica para alguns, mas, para ele, o
Espírito Santo não irá além daquilo que está escrito. Isto é, ele não
negará as Sagradas Escrituras, e nem pode fazê-lo. Evidentemente,
alguns dirão que estamos prendendo Deus em uma caixa, mas o reformador
responde:
“Alegam,
com efeito, que é afrontoso que o Espírito de Deus, a quem todas as
coisas devem ser sujeitas, seja subordinado à Escritura. Como se, na
verdade, isto fosse ignominioso ao Espírito Santo: ser ele por toda
parte igual e conforme a si mesmo; permanecer consistente consigo em
todas as coisas; em nada variar! De fato, se fosse necessário julgar em
conformidade com qualquer norma humana, angélica, ou estranha, então
deveria considerar-se que o Espírito estaria reduzido a subordinação.”
Isto
é: não há nada mais honroso que comparar o que o Espírito diz às
igrejas com aquilo que ele escreveu às igrejas. Caso utilizássemos
outra regra para definirmos o que é, ou não, verdadeiro, cairíamos na
heresia de conformar o Consolador a algum padrão inferior a Ele mesmo.
Deus não pode mentir, e aquilo que ele disse na Escritura, é aquilo que
Deus Espírito diz aos seus. Qualquer ensino que desvirtue isso é
anátema.
“Para
que o espírito de Satanás não se insinue sob o nome do Espírito, ele
quer ser por nós reconhecido em sua imagem que imprimiu nas Escrituras.
Ele é o autor das Escrituras: não pode padecer variação e
inconsistência para consigo mesmo. Portanto, como ali uma vez se
manifestou, assim tem ele de permanecer para sempre.”
Existe
ainda uma acusação comum contra aqueles que tentam manter-se fiéis à
Palavra, e desejam que somente as Escrituras falem no púlpito, através
de uma boa interpretação: eles seguem a letra morta, não o Espírito
que vivifica (uma distorção do texto de 2 Coríntios 3.6). Calvino
começa a última seção do capítulo 9 rebatendo essa falsa crítica.
“Portanto,
morta é a letra, e a lei do Senhor mata a seus leitores, quando não só
se divorcia da graça de Cristo, mas ainda, não tangindo o coração,
apenas soa aos ouvidos. Se ela, porém, mediante o Espírito, é
eficazmente impressa nos corações, se a Cristo manifesta, ela é a
palavra da vida, a converter almas, a dar sabedoria aos símplices.” (1.9.3)
Há
uma relação orgânica e viva entre Escritura e Espírito, de maneira que
só conhece corretamente a Escritura aquele que está no Espírito. Ao
mesmo tempo, somente pela Escritura podemos ter plena certeza das ações
do Espírito e identificar falsas manifestações.
“Pois
o Senhor ligou entre si, como que por mútuo nexo, a certeza de sua
Palavra e a certeza de seu Espírito, de sorte que a sólida religião da
Palavra se implante em nossa alma quando brilha o Espírito, que nos faz
aí contemplar a face de Deus assim como, reciprocamente, abraçamos ao
Espírito, sem nenhum temor de engano, quando o reconhecemos em sua
imagem, isto é, a Palavra.”
Para
Calvino, é ministério de Deus, em especial do Espírito, cuidar para
que a mensagem da Escritura permaneça na mente dos cristãos. É comum
ver igrejas que não seguem princípios bíblicos em seus cultos,
apresentando a desculpa de que foram movidas pelo Senhor a isso. Devemos
tomar cuidado com tais congregações.
“[Deus]
enviou o mesmo Espírito, pelo poder de quem havia ministrado a
Palavra, para que realizasse sua obra mediante a confirmação eficaz
dessa mesma Palavra… Cristo abriu o entendimento aos dois discípulos de
Emaús não para que, postas de parte as Escrituras, se fizessem sábios
por si mesmos, mas para que entendessem essas Escrituras.”
Criar
uma divisão entre o que a Bíblia diz e o que o Espírito Santo ensina é
colocar Deus contra Deus. Não que tenhamos um Livro como divindade,
mas porque devemos ter consciência de que ali estão guardados os
pensamentos do próprio Criador. Fugir da Palavra em nome do Espírito é
dizer que Deus, que não pode mentir, se contradiz, ou que o Consolador
deixou seu ministério a fim de trazer inovações no Cristianismo. Tal
postura é incompatível com a de um cristão e deve ser combatida. Que o
Espírito de Cristo nos ajude nisso.
Nossa oração é que o Espírito fale sempre, por meio do que Ele mesmo designou e nos preparou.
Em Cristo,
Josaías Jr
O grande ‘sim’ de Deus
Por Maurício Zágari
Quem
olha de fora, lê slogans como “Pare de sofrer” e “Uma igreja que faz
vencedores” deve achar que a vida do cristão é muito fácil. Afinal, em
nosso triunfalismo, parece que servir Cristo é um grande carnaval, uma
festa eterna, uma chuva de bênçãos. Prosperidade é o tom do momento.
Alegria todo dia. Viver feliz da vida. E é o que a Bíblia diz, não é?
Em Marcos 8.34, por exemplo, lemos as palavras de Jesus: “Então,
convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se
alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e
siga-me”. Opa. Espere um pouco. Tem algo estranho aí. Negar a si
mesmo? Tomar sua cruz? Isso soa como algo sacrificante. Parece ter a ver
com abrir mão de coisas que nos são importantes. Negar-se significa
dizer “não” para si mesmo. Então, se quisermos viver com Jesus Ele deixa
claro que vamos ter de dizer “não” para o espelho. Mas… como assim? Em
quê? O que afinal é esse “negar-se”, apontado por Jesus como o centro do
alvo?
Em primeiro lugar, é dizer não para os prazeres do mundo. “Sabe,
porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os
homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes,
blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis,
inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos
prazeres que amigos de Deus” (2 Tm 3.1-4).
“Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4.3).
“De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?” (Tg 4.1).
Essas e outras passagens deixam claro que os prazeres deste mundo não
coadunam com o gozo eterno. Que dificuldade! Admitamos, como é difícil
abrir mão das nossas vaidades e nossos benefícios em prol de uma
esperança que não vemos! Nós, humanos, buscamos instintivamente o que
nos dá prazer. Comemos doces e coisas gordurosas sabendo que nos fazem
mal. Mas é tão gostoso! Só que é tão nocivo… Portanto, a Bíblia é clara:
para andar no Caminho estreito que leva à Porta estreita é preciso
caminhar na contramão de nós mesmos e de nossas concupiscências.
Dizer “não” para si mesmo também significa soltar as rédeas de nossa
vida e confiar que Deus a está levando para o lugar certo. É abrir mão
de planos pessoais, conformar-se com os rumos indesejados que o Senhor
dá a nosso futuro, é lançar-se no vazio tendo a certeza de que o Criador
está no controle. “Entrega o teu caminho
ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará. Fará sobressair a tua justiça
como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia. Descansa no SENHOR e
espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu
caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios”
(Salmos 37.5-7). Entregar nosso caminho ao Senhor… que coisa difícil
para seres tão independentes como nós. Mas é preciso, pois a promessa é
que, se o fizermos, confiando, o mais o Todo-Poderoso fará.
Negar-se a si mesmo também implica em dizer não para antigas
prioridades e atitudes. É deixar de lado uma carreira bem remunerada no
meio secular para devotar seu tempo às coisas de Deus. É abrir mão de
um relacionamento afetivo com um não cristão por saber que o jugo
desigual desagrada Cristo. É perder o emprego por recusar-se a fazer
algo antiético que lhe é exigido. Negar-se é, em outras palavras,
priorizar Cristo em tudo: “Quem ama seu pai
ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou
sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua
cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem acha a sua vida a
perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará” (Mateus 10.37-40).
Negar-se a si mesmo é também engolir o orgulho e reconhecer o erro. É saber dizer não
para o amor-próprio e admitir que pecou. E então ter a humildade de
abaixar a cabeça, ralar os joelhos e deixar seu pedido de perdão sair
pelos olhos e por urros de contrição. Quando o amor-próprio é maior do
que a capacidade de reconhecer o pecado diante de Deus, confessá-lo e
abandoná-lo é sinal que estamos a anos-luz de distância de negar-nos a
nós mesmos. “Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia” (Provérbios 28.13).
Isso tudo é difícil até a medula. Mas se não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim… temos que viver conforme a natureza dele.
Você nunca vai me ouvir dizer que ser cristão é fácil. Não é. Quem
prega isso está mentindo. Pois quem em sã consciência diria que tomar
uma cruz é fácil? Arrastar um tronco de mais de 90 quilos por
quilômetros é tarefa para leão. Não, negar-se a si mesmo, tomar sua cruz
e seguir nos passos do Mestre é doloroso, sacrificante, mortificante.
Muitos, ao lerem isso, poderiam então se perguntar: mas se a vida do
cristão significa tanta abnegação e sofrimento, por que seguir Cristo?
Eu respondo: porque o que importa não é a vida do cristão, é a morte.
Pois, depois que tivermos de nos dizer “não” tantas vezes, nos
depararemos com a realidade de que “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Co 2.9).
Vale a pena dizer “não” a si mesmo nesta vida e o fazemos com prazer,
se conseguimos enxergar essa suprema verdade do Evangelho: que a vida
eterna é o grande “sim” de Deus para cada um de seus eleitos.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Maurício
Não somos cães farejadores!
Por Josemar Bessa
O evangelho gera
exultação e alegria na obra perfeita de Cristo - Essa alegria caracteriza o
homem regenerado - Gera fome por Cristo, santidade pessoal, deleite em Deus...
E é assim que lutamos contra o erro - exultamos na verdade.
Muitos perderam isso (Ou nunca tiveram) - se tornando tão
obcecados com as heresias que perderam a capacidade de se alegrar na verdade da
doutrina de forma que todos vejam seu regozijo no pleno viver da verdade.
Se transformaram em
meros cães farejadores que ficam nos aeroportos tentando achar drogas... quando
não estão farejando drogas, não são nada, presos em tristes canis.
No Novo Testamento...
os apóstolos lutam pela pureza da igreja, mais jamais cometem o erro de não
proclamarem e viverem a alegria da salvação que nos santifica para nos
deleitarmos em Deus. Um homem mundano pode ser um "cão farejador" -
sua alegria é farejar o erro, mas jamais seu deleite completo é a Verdade. Hoje
muitos que dizem defender a verdade não tem nenhum amor pela igreja e a
comunhão dos santos. Paulo lutava pela verdade em amor pela igreja, e a razão
disso era Cristo. É impossível amar a Verdade, amar a Cristo sem a vida de
comunhão com o corpo de Cristo a igreja – Paulo diz: “Porque estou zeloso de
vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma
virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente
enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos
os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” -
2
Coríntios 11:2-3 - Sua luta contra o engano estava completamente
relacionada a edificação da igreja, na comunhão dos santos, para
apresentá-la como uma virgem a seu marido. Ele vivia na comunhão do
corpo, lutando pela pureza do corpo, sofrendo na comunhão dos santos...
por causa do seu amor a Cristo.
Por causa disso, Paulo
não mandou os Coríntios irem para suas casas – Já que havia tantos erros e
falsos líderes... Não, ele diz, na comunhão dos santos vos tenho preparado,
como igreja, para ser apresentada como uma virgem pura a seu marido – Cristo.
Paulo não é um cão farejador. Ele passa a maior parte do tempo edificando a
igreja com a Verdade, se alegrando na Verdade...
Lutero protestou por
amar a Deus, a verdade, a igreja - e não por amar o protesto - Os Reformadores amavam
a glória de Deus e pregaram sobre ela como ninguém - Não eram cães farejadores.
Olhe para Lutero e você
verá tudo, menos um cão farejador. Se
um homem se preocupa com o Reino, ele será encontrado envolvido em sua igreja
local. Junto com ela, orando por ela, contribuindo para sua maturidade,
envolvido em uma paixão sincera.
Pense em Martinho Lutero – poucos homens foram
tão usados para a edificação do Reino de Deus, mas como ele fez isso?
Em primeiro lugar,
Lutero foi um pregador em sua igreja
local – mais pregador que a maioria dos pregadores. Lutero conhecia o fardo
e a pressão da pregação semanal na
igreja local. Havia duas igrejas em Wittenberg, a igreja da cidade e a
igreja do castelo.
Lutero era um pregador
regular na igreja da cidade. Ele afirmou: "Se hoje
pudesse me tornar rei ou imperador, ainda assim não renunciaria ao meu ofício
de pregador". Era compelido por uma paixão pela exaltação
de Deus na Palavra. Em uma das suas orações, ele diz: "Querido
Senhor Deus, quero pregar para que o Senhor seja glorificado. Quero falar do
Senhor, louvar ao Senhor, louvar o teu nome. Mesmo que eu não possa fazer tudo
isso, será que o Senhor não poderia fazer com que tudo isso desse certo"?
Para sentir a força
desse compromisso, você precisa perceber que na igreja em Wittenberg não havia
nenhuma programação de igreja, somente louvor e pregação. Aos domingos, havia o
louvor das cinco horas com um sermão na Epístola, o culto das dez horas com um
sermão do Evangelho e uma mensagem da tarde sobre o Antigo Testamento ou
catecismo. Os sermões de segunda e terça-feira eram sobre o catecismo; o de
quarta-feira sobre Mateus; às quintas e sextas sobre as cartas apostólicas; e
aos sábados sobre João.
Ele pregou, por
exemplo, 117 sermões em Wittenberg
em 1522 e 137 sermões no ano
seguinte. Em 1528, pregou quase 200
vezes e no ano de 1529, pregou 121
sermões. Portanto, nesses quatro anos, a média foi de um sermão a cada dois dias e meio.
Como Fred Meuser disse no livro sobre a pregação de Lutero: "Ele nunca tirou um fim de semana de
folga. Nem mesmo um dia por semana de folga. Nunca tirou férias do trabalho de
pregação, ensino, estudo individual, produção e escrita. Esse é o grande
reformador tão grandemente foi usado por Deus para a edificação do seu Reino
aqui”.
Nós fazemos na igreja
da mesma forma como construímos grandes casamentos - compromisso real,
envolvimento e comunhão que faz uma diferença positiva de maneira prática. E,
assim, e só dessa forma, o Reino de Deus é edificado aqui na terra. Assim
fizeram os Reformadores.
Entre Roma e Nova Jerusalém
“Onde está na Bíblia que os evangélicos estão certos?”. A pergunta
foi feita em uma dessas discussões sobre a sucessão papal,
surpreendentemente por um evangélico. O tema em questão era a Igreja
Católica Romana e a possibilidade de cristãos orarem sobre o Conclave.
Sobre esse tema específico não pretendo gastar muito tempo falando.
Ore pelos bispos, pelo Vaticano, pelo Papa argentino e tudo mais. Mas
ore por arrependimento, conversão e verdadeira fé. Não aja como se
aquilo fosse meramente uma “tradição cristã” entre muitas, como se isso
relativizasse os fatos e igualasse os erros de Roma a mero equívoco ou,
pior, escolhas estéticas. Como disse P.T. Forsyth, “o catolicismo romano é o cristianismo do homem natural” e, como tal, é autônomo e rebelde em parte de suas raizes.¹
Mas eu me adianto.
Minha intenção é escrever uma série de textos sobre as diferenças
entre protestantes e a Igreja Católica Romana. Aproveitando que o
assunto logo morre, achei conveniente expor algumas das características
que historicamente dividem Roma e Nova Jerusalém (alguns diriam
Genebra). Como sou bastante desorganizado, duvido que conseguirei, mas
aqui vão os primeiros pensamentos.
Quem, ou o que, são “evangélicos”?
Antes de pensarmos, talvez seja útil falar de identidade. É claro
que, em um sentido, não podemos dizer que todos aqueles que se dizem
evangélicos são salvos. Como nos lembra Carl Trueman, há muita gente
debaixo desse nome para conseguirmos identificar bem o grupo como “os
evangélicos”, “A Igreja Evangélica” ou “o evangelicalismo”.² Nesse
ponto, concordo, a Bíblia não nos dá garantia de que todos os que se
chamam de “evangélicos” são salvos ou estão corretos.
Por outro lado, neste texto, entenderemos “evangélicos” como aqueles
que seguem de coração as doutrinas bíblicas da Escritura, identificam-se
(ainda que inconsistentemente) com os cinco Solas da Reforma, foram
regenerados e participam de uma igreja evangélica. Usarei o termo como
sinônimo de protestante, embora eu creia que haja diferenças de ênfases e
sentidos nos dois termos.
Nesse sentido, a Bíblia ensina sim que os evangélicos estão certos em
suas convicções. Além disso, esse sentido não nega que existam salvos
na Igreja Romana, mas, pelo fato de não participarem de uma igreja
evangélica, estão errados. Alguém pode ser salvo com um má eclesiologia,
no fim das contas. Essa não é a questão. O problema é quando todo o
sistema aponta para uma falsa mensagem. E é sobre isso que gostaria de
discutir. Não os casos individuais, mas os problemas gerais da igreja
romana.
Voltando à pergunta do colega, chama a atenção o conhecimento
(inconsciente?) de sua própria doutrina. Amigo, você já respondeu sua
pergunta – ao menos em parte.
A pergunta que já foi respondida
O que não percebemos é que formular uma pergunta do tipo “Onde está na Bíblia…?” é
(querendo ou não) admitir a Bíblia como autoridade suprema e
posicionar-se. Você já criou uma distinção entre protestantes e
católicos. Não digo que acontece em todos os casos, mas no contexto
evangélico, geralmente é assim que funciona. A pergunta já partiu de um
pressuposto: é preciso estar na Bíblia tal proposição para que tal proposição seja verdadeira.
Esse é um raciocínio que reflete a sua posição quanto à autoridade do
magistério e da tradição da Igreja – a saber, que elas são irrelevantes
ou estão debaixo da Palavra. Sem perceber, o evangélico já revela sua
“tradição” e descarta outra.
A doutrina católica da revelação envolve um “banco de três pernas”: a
Escritura, o magistério e a tradição. A primeira você já conhece. A
segunda envolve os ensinos dos intérpretes oficiais da Escritura. O
magistério é “o encargo de interpretar autenticamente a Palavra de
Deus, escrita ou transmitida, foi confiado exclusivamente ao Magistério
vivo da Igreja, ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele, cuja
autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo”. Esse ensino deve ser
recebido com a mesma autoridade que a Escritura, é tão revelação quanto
ela e precisa ser venerado da mesma forma que a Bíblia.
Isso quer dizer que certa proposição poderia não estar na Bíblia, mas
um bispo romano poderia dizer: “ora, pela autoridade do magistério,
digo que é assim”. Se todos fôssemos católicos, meu amigo diria “onde na
Bíblia diz que os católicos estão certos?”. O Papa poderia responder:
“eu digo”. E ele aceitaria. Mas como ele é evangélico, só pergunta com
base na Escritura. Você já se acusou.
Pode-se dizer que a tradição é o conhecimento guardado, transmitido e desenvolvido pelas gerações. É a “transmissão da mensagem de Cristo”, feita “mediante a pregação, o testemunho, as instituições, o culto e os escritos inspirados”. Da
mesma forma, ela deve ser recebida como autoritativa e também poderia
ser parte da pergunta ou da resposta sobre “quem está certo?”.³
Uma Diferença Fundamental
Assim, a diferença entre o protestante/evangélico e o católico é que
essas três pernas têm a mesma autoridade para o segundo, enquanto o
primeiro pode até respeitar magistério e tradição (por exemplo, no uso
de credos e comentários bíblicos), mas os reconhece como regra regulada.
Isto é, padrões que podem ser seguidos, mas que estão debaixo de um
padrão superior (ou de uma qualidade completamente diferente), a
Escritura.
Em um sentido, temos também uma qualidade tripla em nosso
entendimento da revelação. Mas os três aspectos envolvem a Escritura.
São eles:
- Sola Scriptura – o princípio de que a Palavra tem a primazia sobre as outras regras, tais como tradição, magistério e credos. Somente ela é autoridade final.
- Tota Scriptura – a ideia de que toda a Bíblia é inspirada e proveitosa para o crente. Antigo e Novo Testamento são igualmente divinos e os dois se interpretam.
- Claritas Scriptura – Conhecido também como “perspicuidade”, ou clareza. É a doutrina de que o crente pode compreender a Bíblia. Normalmente nos esquecemos desse ponto, mas é pressuposto em tudo que dizemos sobre a Palavra. A pergunta do meu amigo envolvia a pressuposição de que ele entendeu ou entenderia a Bíblia (e que ela falaria ou não sobre evangélicos estarem certos).4
Esse último ponto é uma grande vitória da Reforma, pois retirou a
exclusividade de compreensão da Escritura do magistério e da tradição, e
a entregou aos sacerdotes – todo o povo de Deus. Ele não quer dizer que
todas as coisas são igualmente claras e que não precisamos de mestres.
Significa que as partes mais importantes são compreensíveis e mais
óbvias.
O curioso é que os evangélicos que tentam mostrar-se tão perdidos
quanto católicos às vezes usam a posição para demonstrar tolerância e
humildade em relação aos outros grupos. Não digo que é sempre este o
caso, mas é um caso comum. A ideia é a seguinte: se eles observarem como nós somos amorosos ou se nós mostrarmos que somos tão ruins quanto eles, eles se unirão a nós.
Eu concordo que em nós mesmos nada temos a mais que qualquer outro
grupo. Porém, se nenhuma posição é vindicada pela Bíblia, se nenhum
grupo está mais certo que outro, por que desejaríamos que eles se unissem a nós?
Ou pensamos que nossa posição é melhor, ou pensamos que não há
diferença nenhuma entre as duas. Se for o caso, não deveríamos apelar
para a Bíblia como autoridade suprema, afinal, isso nos identificaria
com certo grupo cuja identidade fundamenta-se no famoso Sola Scriptura.
Há uma diferença. E ela é fundamental no sentido mais puro do termo.
Onde está na Bíblia que os evangélicos estão certos? Tecnicamente, em
lugar nenhum. Mas a Bíblia diz que somente ela é certa e somente ela
define o que é certo. E cabe a nós sermos definidos por ela.
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