Por Rev. Hernandes Dias Lopes
O apóstolo Paulo, o
maior bandeirante do Cristianismo, fechando as cortinas da vida, na
antessala de seu martírio, ordenou a Timóteo: “Prega a palavra…” (2Tm
4.2). Uma coisa é pregar a palavra, outra coisa é pregar sobre a
palavra. A palavra é o conteúdo da pregação e a autoridade do pregador. O
pregador não é a fonte da mensagem, mas seu instrumento. O pregador não
produz a mensagem, transmite-a. O pregador é um arauto; a mensagem não é
sua, mas daquele que o enviou. Seu papel não é tornar a mensagem mais
palatável aos ouvidos das pessoas, mas transmiti-la com fidelidade. Duas
verdades devem ser destacadas no texto de 2Timóteo 4.2.
Em primeiro lugar, a
supremacia das Escrituras. Paulo escreve: “Prega a palavra”. Paulo não
ordena a Timóteo a pregar suas próprias ideias nem o autoriza a pregar a
mensagem mais popular da época. Timóteo deveria pregar a palavra. Não
temos outra mensagem a transmitir a não ser a palavra de Deus. O
pregador não pode criar a mensagem; é sua incumbência transmiti-la. Não
tem o direito de sonegar parte da mensagem que recebe; deve comunicá-la
com inteireza. Hoje, muitos pregadores pregam outro evangelho. Um
evangelho que não tem boas novas de salvação. Um evangelho fabricado no
laboratório do enganoso coração humano. Um evangelho que atrai
multidões, mas não tem poder para transformá-las. Um evangelho
humanista, centrado no homem, e não o evangelho da graça, centrado em
Cristo e na sua obra redentora. Floresce hoje o espúrio evangelho da
prosperidade, prometendo aos homens as riquezas e glórias deste mundo,
mas sonegando a eles a palavra da salvação eterna. Recrudesce um
evangelho místico, sincrético, com fortes laivos de paganismo, desviando
os incautos da cruz de Cristo, para sua própria ruína e destruição. Ah,
é tempo da igreja voltar-se para o lema da Reforma: “Sola Scriptura”! É
preciso interromper essa marcha inglória de uma pregação cheia do homem
e vazia de Deus; uma pregação que promete curas, milagres e
prosperidade, mas não oferece aos perdidos a vida eterna em Cristo
Jesus. É preciso colocar em relevo a mensagem da graça e erguer o
estandarte da cruz onde os pregadores infiéis drapejam a bandeira de
perigosas heresias. Precisamos de uma volta ao Cristianismo apostólico,
onde a igreja reconheça a supremacia das Escrituras e coloque a palavra
de Deus no centro do culto, da pregação e da vida.
Em segundo lugar, a primazia da pregação. Paulo escreve: “Prega a palavra”. Uma
vez que temos a palavra de Deus, inspirada pelo Espírito de Deus,
inerrante, infalível e suficiente não podemos guardá-la apenas para nós.
A palavra que nos foi confiada precisa ser transmitida. A mensagem que
recebemos deve ser proclamada com fidelidade, entusiasmo e urgência. Não
basta reconhecer a supremacia das Escrituras; é preciso estar
comprometido com a primazia da pregação. Sonegar a palavra é privar as
pessoas de conhecer a graça de Deus. Reter a mensagem da salvação é uma
atitude cruel com os perdidos, uma vez que a fé vem pelo ouvir a
palavra. Deus chama os seus escolhidos por meio da palavra. A palavra de
Deus é poderosa. Tem vida em si mesma. É a divina semente, que semeada
em boa terra produz a trinta, a sessenta e a cento por um. Nunca volta
para Deus vazia. Sempre cumpre o propósito para o qual foi designada.
Cabe à igreja levantar-se, no poder do Espírito Santo, e pregar a tempo e
a fora de tempo essa palavra da vida. Cabe à igreja instar com os
pecadores para que se voltem para Deus em arrependimento e fé. É
responsabilidade da igreja corrigir, repreender e exortar a todos, com
toda a longanimidade e doutrina, pois multiplicam-se os falsos mestres,
movidos por sórdida ganância, atraindo para si aqueles que sentem
coceira nos ouvidos, entregando-se a fábulas, em vez de ouvir a mensagem
da graça. Que Deus traga sobre nós um poderoso reavivamento espiritual,
colocando a igreja de volta nos trilhos da verdade, a fim de que ela
entenda a supremacia das Escrituras e se comprometa com a primazia da
pregação.
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