Por Jonathan Edwards
- Olhemos isto tendo em vista o ensino de Jonathan Edwards -
Se
alguém tem muitos tipos diferentes de inclinações espirituais, isso é
outro sinal não confiável, que não pode ser usado para determinar se a
sua espiritualidade é verdadeira ou falsa. Existem imitações de todas
as afeições verdadeiras. A maioria de nós sabe que o amor, por exemplo,
pode ser fingido facilmente. Namorados e namoradas que juraram amar-se
de verdade mais tarde mostraram que seu 'amor" era paixão desenfreada
ou interesse próprio grosseiro. Talvez nós mesmos tenhamos dito a
outras pessoas que as amávamos, e só mais tarde percebemos que não
sabíamos nem o mais elementar sobre o amor. A Bíblia está cheia dessas
declarações de amor superficiais. Por exemplo, veio um mestre da lei
que jurou a Jesus que o seguiria por onde quer que fosse. Mas quando
Jesus replicou que nem sempre sabia se teria nem mesmo um quarto à
noite, o homem foi embora (Mt 8.20). As multidões apregoaram sua
devoção a Jesus, mas o abandonaram quando ele se tornou politicamente
incorreto.
Arrependimento
religioso do pecado também pode ser fingido. Faraó, por exemplo,
parece ter-se arrependido sinceramente depois da sétima praga
(granizo). Ele se lamentou diante de Moisés: "Esta vez pequei; o Senhor
é justo, porém eu e o meu povo somos ímpios. Orai ao Senhor; pois já
bastam estes grandes trovões e a chuva de pedras. Eu vos deixarei ir, e
não ficareis mais aqui" (Êx 9.27-28). Assim que o granizo parou,
porém, "tornou a pecar, e endureceu o seu coração" (Êx 9.34). Novamente
recusou-se a deixar os israelitas sair do Egito.
Há
relatos de adoração falsa na Bíblia. Lemos dos samaritanos no século
VIII a.C, que "temiam o Senhor e, ao mesmo tempo, serviam aos seus
próprios deuses" (2Rs 17.33). Gratidão e alegria também podem ser
falsos. Pense nos ouvintes comparados ao solo pedregoso na parábola do
semeador e da semente que Jesus contou. São pessoas que ouvem o
evangelho e o recebem com gratidão e alegria, mas depois se desviam,
quando vêm dificuldades e perseguição (Mt 13.20-21). Podemos dizer a
mesma coisa de zelo e esperança. Os judeus do tempo de Paulo tinham
"zelo por Deus, porém não com entendimento" (Rm 10.2). Os fariseus
tinham a esperança convicta (a palavra expectativa está mais perto do
significado do termo grego geralmente traduzido por "esperança") de que
estavam indo para o céu, mas, de acordo com Jesus, eles estavam
tristemente enganados (Mt 23.13-15).
Também
é importante reconhecer que as afeições falsas geralmente andam
juntas. Cada afeição falsa quase sempre faz parte de um conjunto. Veja
as ações da multidão depois que Jesus ressuscitou Lázaro. Eles estavam
cheios de várias afeições falsas. Eles se mostravam atraídos por Jesus,
pois viajaram distâncias grandes para ouvi-lo, afirmaram amá-lo ao
exclamar hosana, evidenciaram reverência ao colocar suas vestes
exteriores no caminho para que ele pudesse pisar macio, cantaram
cânticos de gratidão e louvor, e demonstraram ter zelo pelo reino de
Deus quando exclamaram: "Bendito o que vem em nome do Senhor e que é
Rei de Israel!" (Jo 12.13). O ruído dos seus cânticos e exclamações
encheu o ar com o que parecia ser um júbilo santo.
Por
que as afeições falsas andam juntas? Porque, assim como o amor
verdadeiro inspira várias outras afeições verdadeiras, o amor falso
desperta muitas outras afeições falsas. Edwards definiu uma conversão
falsa como uma constelação de afeições falsas. Em primeiro lugar, ele
escreveu, a pessoa está aterrorizada e desesperada porque ouviu uma
mensagem prometendo a condenação aos que não são convertidos. Imaginar
os tormentos mentais e físicos do sofrimento eterno no inferno enche-a
de horror. Em segundo lugar, Edwards acha que o diabo lhe envia uma
visão ou voz prometendo-lhe salvação. "Você é um dos preferidos de
Deus", sussurra o diabo. A pessoa imediatamente se enche de alegria e
gratidão. Ela fica emocionada com a repentina suspensão da sentença e
não consegue parar de falar aos outros sobre a misericórdia de Deus para
com ela, insistindo com eles para que louvem a Deus. Ela reconhece que
é indigna desse presente glorioso e fala abertamente de seu pecado.
Só
que sua humildade recém-encontrada não é mais genuína que a do rei
Saul. Ao ouvir que tinha sido escolhido como rei, ele protestou:
"Porventura, não sou benjamita, da menor das tribos de Israel? E a minha
família a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que,
pois, me falas com tais palavras?" (lSm 9.21). A falsa humildade tem uma
semelhança esquisita com a humildade genuína que Davi mostrou quando
foi escolhido para o trono: "Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é a minha
casa, para que me tenhas trazido até aqui?" (2Sm 7.18).
O
novo "convertido" gosta de passar tempo com os que reconhecem sua
conversão e sente o que ele imagina ser indignação justa por aqueles que
não o fazem. Ele nega-se a si mesmo para promover sua nova causa e
aqueles que o apóiam.
Infelizmente,
diz Edwards, essa é uma conversão sem o verdadeiro arrependimento. Por
isso ela é falsa. Muitas afeições religiosas são manifestas, mas elas
são falsas, porque brotam do amor próprio, disfarçado de amor por Deus.
Edwards diz que este padrão de experiência espiritual pode provir ou
de influência demoníaca ou da natureza humana (dentro da tendência de
aliviar o terror religioso e reforçar a auto-estima). João da Cruz, o
grande escritor místico do século XVI, disse a mesma coisa. João
escreveu que o diabo muitas vezes aumenta o fervor dos orgulhosos e
transforma suas virtudes em vícios. Ao mesmo tempo João alertou que
muitos desejos fortes em relação a Deus ou às coisas espirituais são
simplesmente o resultado dos desejos humanos e naturais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário