Você já percebeu como a
maioria de das pessoas age de forma rápida diante de uma adversidade na
busca por um escape, uma saída, uma contingência que alivie a tensão
criada por tal adversidade? Seja no trânsito, quando ao deparar-se com
um congestionamento, busca-se um ‘atalho’, um desvio; seja diante dos
problemas do dia-a-dia, quando muitos buscam alívio em meios não tão
lícitos para contornar a estafa e rotina; seja na vida espiritual – e de
modo específico aos cristãos – quando aparecem por aí as fórmulas
mágicas para fugir dos infortúnios da vida.
Não vamos nem nos ater
aos caminhos criados pela humanidade ao longo da história do universo
religioso, pois quantos são os caminhos criados sob a falsa ideia de que
tudo e todos levam a Deus? Diariamente um novo “produto” é posto na
prateleira.
Falando em vida cristã e
meditando no texto e contexto bíblico de João 14.1-6 pensemos juntos
sobre o caminhar cristão, diante de um mundo hostil, o mundo real. Diz o
texto:
Não se turbe o vosso
coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há
muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou
preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra
vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós
também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho.
Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos
saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a
vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14.1-6
Não se turbe
Veja o contexto que
abraça este cenário, Jesus estava ministrando aos discípulos por ocasião
da ‘última ceia’, à sombra da traição de Judas Iscariotes (Jo
13.2;21-30), sabendo também que Pedro o negaria (Jo 13.38) e na
iminência do sofrimento e morte de cruz. Ele tinha lavado os pés dos
discípulos alguns instantes antes (Jo 13.5) de modo humilde e servil.
Ele – amando os que são seus – estava prestes a passar pelo sofrimento
que traz a redenção e perdão, nos fazendo justos e santos, e ainda assim
estava consolando os discípulos e ecoando este maravilhoso consolo para
toda sua igreja, para você e para mim!
Ao pronunciar as
palavras de esperança e rogando que ‘não se turbe vosso coração’, o
Mestre usa um termo que teria como paralelo o mar agitado por fortes
ventos, ou seja, Jesus nos diz “não permita que o vosso coração seja
agitado como o mar impelido pelo vento”.
Qual o motivo que faz
com que nossos corações se agitem? Descansemos na Palavra do Mestre
sabendo que ele nos ama e nos amou até o fim (Jo 13.1). É agir não sob
uma confiança cega, mas descansar o coração diante daquilo que Jesus
disse.
Para o porvir
Sem ser simplista, mas
por observação, é notável que muitos dos que buscam rápidas soluções na
fé são aqueles que perdem o foco no eterno. É evidente que cada um sabe a
dor do calo em seu próprio pé conforme o sapato aperta, no entanto o
falso evangelho do imediatismo envenena o olhar naquilo que é eterno.
Não fosse por isso as
Escrituram não trariam tantas advertências para mantermos o foco no
Reino. Jesus fala sobre o caminho largo e o caminho estreito (Mt
7.13-14) para advertir sua igreja que a vida cristã também e feita de
lutas. Ele nunca prometeu um mar de rosas, mas prometeu estar com
aqueles que creem nEle por todo sempre. O próprio Senhor adverte na
sequencia – em Mt 7.15 – a respeito dos falsos mestres. Estaria Jesus
alertando seus seguidores que é preciso passar pelo caminho estreito e
que aqueles que apregoam uma vida cristã de calmaria e prosperidade,
riquezas e isenção de lutas, são os falsos profetas? Leia e responda por
si.
A Bíblia mostra textos como este:
Sobrevieram, porém,
uns judeus de Antioquia e de Icônio que, tendo convencido a multidão,
apedrejaram a Paulo e o arrastaram para fora da cidade, cuidando que
estava morto. Mas, rodeando-o os discípulos, levantou-se, e entrou na
cidade, e no dia seguinte saiu com Barnabé para Derbe. E, tendo
anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram
para Listra, e Icônio e Antioquia, confirmando os ânimos dos
discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas
tribulações nos importa entrar no reino de Deus. Atos 14.19-22
Veja a luta da igreja em
seu começo e compare com nossa liberdade de culto nestes dias. Não
sejamos hipócritas a ponto de clamar a Deus por perseguições para que
nossa fé seja provada, longe disso! Mas sejamos um pouco mais maduros a
ponto de reconhecer que as lutas são parte da vida. Sou absolutamente
contra a filosofia da ‘teologia da prosperidade’, mas não comungo dos
ideais daquilo que pode ser chamado da ‘teologia do caos, desgraça e
miséria’.
Voltando ao Mestre,
vemos que Jesus mostrou isso em amor. E para que o eterno, o porvir, as
muitas moradas que estão sendo preparadas de fato o fossem, era preciso
ele passar pelo Calvário, logo, o sofrimento de nosso Senhor e sua morte
e ressurreição (velhas verdades tão esquecidas em nossos dias) eram os
passos iniciais para o regozijo eterno. Sua humilhação pelo nosso pecado
era o tiro inicial para a eternidade. Alister McGrath, em seu estudo
sobre o “Credo Apostólico” comenta sobre sua morte:
Jesus, portanto, foi
entregue “à absolutamente aviltante morte de cruz” (para citar as
palavras de Orígines, escritor cristão da Antiguidade). Dizer que Jesus
“morreu”, ou apenas que “foi executado” não dá a devida atenção à total
selvageria de sua morte. Todo o sadismo da natureza humana foi derramado
sobre Ele. Foi uma morte vergonhosa e degradante” [1]
Obrigado Senhor!
Obrigado por tudo que fizeste no Calvário, por seu sangue que nos limpa,
sua morte e vitória sobre a morte, ressuscitando, nos enchendo de fé e
esperança e preparando algo melhor para nós.
Linha divisória
A linha divisória está
posta entre os que estão em Cristo e os que não estão. Falamos sobre o
feito do Mestre, sobre o caminhar e sobre passar por esta vida sem tirar
os olhos daquilo que Jesus fez e ainda faz por sua noiva. Uma vez que
esta linha está posta, cabe a cada um de nós rendermos-se aos pés de
Cristo e agradecer por sua obra. A graça nos atinge em cheio, sem que
qualquer um possa dizer que possua mérito, honra ou direito sob justiça
própria. John Piper confessa:
Quando, pela graça e
Deus, vejo os efeitos desta corrupção, apego-me à cruz e mortifico o
“eu”. O que eu faria sem a grande segurança: “Porque Cristo… morreu a
seu tempo pelos ímpios… sendo justificados pelo seu sangue” (Rm 5.6,9).
Oh! Cruz de Cristo, minha liberdade e poder! Em ti, encaro este novo
dia, um pecador justificado e livre. [2]
Não somos de Buda,
Zoroastro ou Krishna. Não somos do esoterismo nem das falsas teologias
que prometem coisas que o Senhor não prometeu. Somos de Cristo! E por
isso quantas são vezes somos taxados por adjetivos depreciativos nestes
tempos de tamanha incredulidade, dureza de coração e falta de amor?
O Senhor prometeu, virá e
nos receberá para Ele (Jo 14.3). Trilhar em Cristo é estar “no caminho,
na verdade e na vida”. Sem Ele como caminho, não existirá avanço
espiritual, por mais alto que as falsas conquistas atestem um falso
avanço. Sem Ele não existe vida e toda pseudovida-abundante não passa de
palha.
Pensando em velhas verdades esquecidas, é sempre preciso repetir, mesmo que pela enésima vez:
E em nenhum outro há
salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre
os homens, pelo qual devamos ser salvos. Atos 4:12
E o testemunho é
este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho.
Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a
vida. Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de
Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no
nome do Filho de Deus. 1 João 5:11-13
Esteja nEle, Jesus não
nos deixou só, por mais alto que seja o som do mar impelido pelo vento, o
Senhor está conosco (Jo 14.16-21).
Soli Deo Gloria!
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