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Por Augustus Nicodemus Lopes
Os que acreditam que Deus, no final, vai
perdoar, receber e dar a vida eterna a todos os seres humanos são
geralmente chamados de universalista ou restauracionistas. Esta última
expressão vem de apokatastasis, termo grego tirado de Atos 3:21. Ali, o
apóstolo Pedro fala da “restauração de todas as coisas”. Apesar de Pedro
estar se referindo à restauração da criação, os universalistas entendem
que a salvação de toda a raça humana está incluída no processo.
O universalismo, portanto, é a crença de
que, ao final da história deste mundo, Deus haverá de salvar todos os
seres humanos, reconciliando-os consigo mesmo mediante Jesus Cristo.
Nesta crença, não há lugar para a doutrina da punição eterna, a saber, a
ideia de um inferno onde os pecadores condenados haverão de sofrer
eternamente por seus pecados.
Muitos podem pensar que o universalismo é
coisa recente de pastores modernos, como o famoso Rob Bell, por
exemplo. Todavia, a salvação universal de todos é uma ideia muito
antiga. O conceito já era encontrado entre os primeiros mestres
gnósticos, e constituiu uma heresia que ameaçou o Cristianismo no
primeiro século. Cerca de cem anos depois de Cristo, pais da Igreja como
Clemente de Alexandria e seu famoso discípulo Orígenes defendiam
explicitamente o universalismo. Orígenes acreditava, inclusive, que o
próprio diabo seria salvo no final. Já na Reforma do século 16, Lutero,
Calvino e os demais protagonistas das mudanças na Igreja igualmente
rejeitaram a ideia da salvação universal de todos ao final.
O principal argumento usado em defesa do
universalismo é que a Bíblia descreve Deus como sendo essencialmente
amor: A consequência lógica é que o amor de Deus haverá de vencer ao
final, salvando todos os homens da condenação merecida por seus pecados.
Mas, será que a Bíblia diz que o Senhor é
somente amor? Encontramos no Novo Testamento quatro afirmações sobre o
que Deus é, e três delas são feitas por João: Deus é “espírito” (João
4.24); “luz” (1João 1.5); e “amor” (1João 4.8,16). A quarta é
contundente: “Deus é fogo consumidor” (Hebreus 12.29, reiterando o texto
de Deuteronômio 4.24). É claro que essas afirmações não são definições
completas de Deus – não têm como defini-lo no sentido estrito do termo
–, mas revelam o que ele é em sua natureza. “Deus é amor” significa que
ele não somente é a fonte de todo amor, mas é amor em sua própria
essência. É importante, entretanto, reconhecer que, se Deus é amor, ele
também é espírito, luz e fogo consumidor.
É preciso manter em harmonia esses
aspectos do ser de Deus, pois só assim é possível compreendê-lo como um
Senhor que é amor e castiga os ímpios com ira eterna. “Fogo” e “luz” são
metáforas, é verdade; porém, metáforas apontam para realidades. No
caso, elas querem simplesmente dizer: “Deus é santo e verdadeiro; ele se
ira contra o pecado e não vai tolerar a mentira. E punirá os pecadores
impenitentes.”
O maior problema que os universalistas
enfrentam é lidar com as passagens da Bíblia onde, claramente, se
estabelece uma divisão na humanidade entre salvos e perdidos e aquelas
outras onde, abertamente, se anuncia o inferno como o destino final dos
pecadores não arrependidos. A divisão da humanidade em salvos e perdidos
é central nas Escrituras do Antigo Testamento (Deuteronômio 30.15-20;
Jeremias 21.8; Salmo 1; Daniel 12.2 e muitas outras). Foi o próprio
Jesus quem anunciou esta divisão de maneira clara no seu sermão
escatológico, ao profetizar o juízo final onde a humanidade será
repartida entre ovelhas e cabritos – sendo os segundos destinados ao
fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, ao contrário daqueles
destinados à felicidade eterna (Mateus 25.31-46).
Foi o próprio Jesus quem anunciou a
realidade do inferno, mais do que qualquer outro personagem do Novo
Testamento: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o
de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o
teu corpo lançado no inferno”(Mateus 5.29); “Não temais os que matam o
corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer
perecer no inferno tanto a alma como o corpo (10.28). Mais adiante, no
capítulo 23 do evangelho de Mateus, a advertência de Cristo é clara:
“Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”
No evangelho de Marcos, uma série de
admoestações alerta sobre a realidade do inferno. Ao longo de três
versículos do capítulo 9, o Mestre diz que é melhor ao fiel perder uma
mão, um pé ou um dos olhos a ser “lançado no inferno”, caso aqueles
membros o levem ao pecado. Já Lucas registra um diálogo travado entre
Abraão, o patriarca, e um homem rico e impiedoso que foi lançado no fogo
eterno, descrito como um lugar de “choro e ranger de dentes”. E,
finalmente, uma passagem do evangelho de João explica bem a diferença
entre morrer crendo ou rejeitando a salvação: “Se alguém não permanecer
em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham,
lançam no fogo e o queimam”(João 15.6).
O universalismo é um erro teológico
grave. Na verdade, mais que isso, é uma perigosa heresia. Além de não
pertencer ao mundo teológico dos autores do Antigo Testamento e do Novo
Testamento, a ideia da salvação universal traz diversos riscos.
Em primeiro lugar, por enfraquecer e,
finalmente, extinguir todo espírito missionário e evangelístico. Se
todos serão salvos ao final – inclusive os ímpios renitentes, pecadores
não convertidos, incrédulos e agnósticos –, por que pregar-lhes o
Evangelho? Os universalistas transformam a chamada ao arrependimento da
Igreja num simples anúncio auspicioso de que todos já estão salvos em
Cristo, e traveste sua missão em apenas ação social.
Segundo, porque essa doutrina falsa,
levada às últimas conseqüências, acarreta necessariamente no ecumenismo
com todas as demais religiões mundiais. Se todos serão salvos, as
religiões que professam não podem mais ser consideradas certas ou
erradas, e se tornam uma questão indiferente. Logo, o correto seria
buscar uma união de todos, pois ao final teremos todos o mesmo destino.
Por último, o universalismo é um forte
incentivo a uma vida imoral. Por mais que sejamos refratários à ideia
das pessoas fazerem o que é certo por terem medo do castigo de Deus,
ainda assim, temer “aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a
alma quanto o corpo” (na descrição de Mateus 10.28) ainda é um dos mais
poderosos incentivos de Jesus para que vivamos vida santa e reta. A
tendência natural do pecador que está seguro de que não sofrerá as
consequências de seus pecados é mergulhar ainda mais neles. Assim, o
universalismo retira os freios da consciência e abre as portas para uma
vida sem preocupações com Deus.
O fato de que eu defendo a verdade
bíblica do sofrimento eterno dos ímpios não significa que eu tenha
prazer nisto. Só deveríamos falar deste assunto com lágrimas nos olhos e
uma oração pelos perdidos em nossos lábios.
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