Por Maurício Zágari
A arrogância é uma
doença espiritual maligna e silenciosa. Um dos efeitos dessa moléstia é
que, em geral, o arrogante se acha a pessoa mais humilde do mundo – ele
não se vê como verdadeiramente é. Constantemente aponta os erros dos
outros mas não consegue perceber como a sua essência está contaminada –
e, se consegue, tem a arrogância de dizer que não é arrogante. Lá vai
bem longe o tempo de servos como Francisco de Assis, João da Cruz,
Thomas-à-Kempis e outros homens de Deus verdadeiramente humildes. Hoje
está totalmente disseminado o conceito antibíblico de que é possível
ser arrogante e ser um bom cristão. Não é. É absolutamente impossível
ser um homem segundo o coração de Deus e ser arrogante ao mesmo tempo.
São características que não cabem no mesmo indivíduo.
Arrogância é sinônimo de
orgulho, altivez, soberba, prepotência. Mostre-me um arrogante e lhe
mostrarei um homem sem Deus. Esse é um pecado tão grave que o salmista
diz ao Senhor em Salmos 5.5: “Os arrogantes não permanecerão à tua
vista”. Em 2 Timóteo 3.1-2, o apóstolo Paulo fala sobre o perfil dos
homens nos últimos tempos:“Sabe, porém, isto: nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos,
jactanciosos, arrogantes…”. Sim, o olhar altivo do arrogante é um dos
defeitos que Deus mais detesta, como Salomão deixa claro em Provérbios
6.16-19.
Essa é outra
característica sempre e sempre presente no arrogante: ele se acha o dono
da verdade. Se alguém discorda dele é porque é ignorante, atrasado,
desinformado, rebelde, não foi tão iluminado por Deus, não entendeu as
realidades do alto ou qualquer coisa do gênero. Isso acontece porque a
arrogância cega. Ela não deixa o arrogante se ver como tal. Assim,
qualquer verdade fora da sua verdade é inverdade. E ele trata quem dele
discorda como culpado de uma suposta ignorância proposital. Discordar do
arrogante é visto por ele praticamente como uma ofensa. Até porque, no
seu entendimento, as outras pessoas existem em função dele.
O arrogante geralmente
se prende a títulos e cargos para legitimar-se. Esteja ele em que grau
da hierarquia estiver. “Sabe com quem está falando? Eu sou o diácono
aqui”, empavona-se. Não se contenta em ser quem é, precisa do
reconhecimento e do garbo. Sem adjetivos a sua arrogância sente-se
ofendida. É por isso que nascem entre nós tantos “patriarcas”,
“apóstolos”, “ungidos do Senhor”, “doutores em divindade”, “profetas de
Deus”. “vice-deus” ou o que for – o arrogante em geral se esforça mais
por obter títulos do que empreender realizações. Enquanto o mais
importante e preeminente dos humildes contenta-se em ser chamado de
“Zé”, se for o caso, o arrogante exige para si títulos acessórios, que
ficarão pendurados em seu nome como penduricalhos na farda de um velho
general.
Mas, por mais que receba
o louvor alheio, o arrogante não se contenta com isso – precisa de
mais. Pois realmente acredita que merece mais – afinal, ele é um
escolhido de Deus. Daí surgem os impérios eclesiásticos, as empresas
evangélicas de um homem só, as capitanias hereditárias gospel, as
catedrais mundiais de qualquer coisa. E, para pôr tais empreendimentos
de pé, o arrogante se coloca acima do bem e do mal: faz associações em
jugo desigual para ter mais poder, dá propinas para ver avançar seus
sonhos pessoais, cria falsas campanhas espirituais como forma de
arrecadar dinheiro… enfim, faz o que for preciso para que seus projetos
avancem – e sempre tem uma boa desculpa para justificar-se de que aquilo
não é pecado. Peca porque, afinal, está fazendo para o Reino. Só que,
na verdade, está fazendo para si mesmo.
Não há arrogantes
admiráveis – pense nos homens de Deus que você admira e, se enxerga
neles altivez e prepotência, sugiro que deixe de admirá-los – pois não
são tão homens de Deus assim. Só continua a admirar arrogantes, após se
dar conta de que são arrogantes, quem admira a arrogância. E não se pode
admirar a arrogância e Jesus ao mesmo tempo.
É uma certeza quase
matemática, que não tem como dar errado. Como registra Isaías 2.17, “A
arrogância do homem será abatida, e a sua altivez será humilhada”. Fico
triste, realmente triste por causa dos arrogantes. Pois, em geral, foram
bons cristãos no início, mas, com o passar do tempo, começaram de fato a
acreditar que são mais do que os demais. Assim como Lúcifer era
perfeito, mas deixou seu coração enganá-lo, o mesmo processo ocorre com
todo arrogante. Seu fim, lamento crer, não será diferente. Se não for
abatido nesta vida, será na próxima.
O arrogante prioriza a si se aos seus. O humilde prioriza o próximo. Simples e bíblico.
Termino aqui, com uma
explicação. Não dediquei tantas linhas aos arrogantes para acusá-los.
Mas, primeiro, para compartilhar meu entendimento bíblico de que não
existem cristãos arrogantes, é um conceito impossível à luz das
Escrituras: se é de fato cristão não pode ser arrogante, se é arrogante
não é cristão. Segundo, para que você veja se tem seguido ou mesmo sido
alguém altivo e soberbo. E, por fim, para que oremos pelos arrogantes.
Devemos amar os tais e pedir que o Senhor os cure dessa doença tão
maligna – para que vivam e parem de contagiar ou ferir os que estão ao
seu redor. Oremos em especial para que venham a conhecer Cristo e tirem a
si mesmos do altar. Não devemos desejar o mal dos arrogantes nem
combater a arrogância com ataques, mas com oração e amor. Pois, se
atacarmos os arrogantes com ferocidade e nossas próprias verdades,
estaremos sendo tão arrogantes como eles.
Propor isso é muito arrogante de minha parte?
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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