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Por Jorge Fernandes Isah
Primeiramente, queria dizer que este Salmo é um clamor e um agradecimento que, ao mesmo tempo, o Rei Davi faz a Deus.
Davi
louva o Senhor pois, mais uma vez, ele o havia livrado dos seus
inimigos. Davi era o rei de Israel; mas antes, foi alvo do ódio de Saul
que o perseguiu e intentou a sua morte. Tenho para comigo que durante o
reinado de Saul, ele não se preocupou nem mesmo com o seu povo, nem em
servir a Deus, mas exclusivamente ele tinha o objetivo maligno de
destruir Davi; como um ferroz inimigo daquele que o próprio Deus chamou
de um homem segundo o seu coração [1Sm 13.14].
Deus
se alegrava em Davi, o qual executou toda a sua vontade. E quem ouviu
isso da boca do profeta Samuel? Saul. Naquele momento, ele soube que
havia sido rejeitado por Deus, porque não guardou o que o Senhor havia
lhe ordenado. Saul soube que Davi era amado do Senhor, e de que ele e o
seu reino não subsistiriam. Daí em diante, Saul não mais seguia o
Senhor, e não cumpriu as suas palavras, ao ponto em que Deus diz se
arrepender de tê-lo posto como rei [1Sm 15.11]. Perseguir Davi
não foi o pior pecado de Saul. O pior pecado de Saul foi a
desobediência, o desprezar constantemente os mandamentos de Deus,
entregando-se ao estado de permanente rebeldia a ele. Por isso ele
perseguiu Davi enquanto teve vida; e não soube reinar conforme os
mandamentos divinos.
Davi,
portanto, era um homem acostumado ao perigo. Mesmo entre os do seu
povo, e mesmo entre os da sua própria carne. Davi foi perseguido, traído
e desejaram e maquinaram a sua morte. Era um homem de dores. Não como o
Senhor Jesus, mas um tipo do Senhor Jesus nesse aspecto. Interessante
que, como àquela época, ele hoje é desprezado por muitos irmãos! Temos
uma tolerância absurda e desproporcional para com os ímpios, para
conosco mesmo, com os nossos pecados, mas em se tratando de Davi e,
também, de Pedro, por exemplo, somos intolerantes... O que vem à nossa
mente é sempre o adultério do rei com Bate-seba, e a traição do apóstolo
para com o Senhor, momentos antes da Crucificação.
Esperamos
que eles fossem super-homens, quando nos assemelhamos a sub-homens em
relação a eles. Nem Davi, nem Pedro, ou qualquer outro homem foi alguma
coisa por seus próprios méritos. Como um instrumento inútil, eles
foram feitos úteis pelo poder de Deus. Assim como nós, não fizeram nada
além do que lhes era devido fazer, contudo, muito, mas muito mais do
que fazemos. Esquecemo-nos de que ambos foram poderosos nas mãos de
Deus; de como Deus os escolheu para obras grandiosas, para feitos que
resultassem no louvor e glória do seu nome. Deus os usou como nenhum de
nós jamais será usado. E por isso, Deus os exaltou em Cristo.
Por
outro lado, eles também sofreram na carne o que jamais sofreremos; e
souberam, mesmo nas tribulações, nas lutas, na injustiça, permanecerem
firmes e confiantes no Senhor, em uma fé inabalável de que Deus não
somente os sustentaria mas os ergueria caso caíssem; uma fé que muitos
de nós, nos menores reveses da vida, colocamos em dúvida, perdemos a
esperança, e nos entregamos à murmuração e ao desalento. Nos tornamos no
pior tipo de ingrato, aquele que é incapaz de reconhecer todos os
favores que lhe foi dado por Deus. Sem merecimento algum. Sem mover um
dedo para alcançá-lo. Exclusivamente pela bondade e graça do nosso
Senhor, quando a nossa recompensa, por aquilo que não fizemos e deixamos
de fazer, seria a condenação e o inferno.
Cada
um de nós deveria se espelhar no exemplo desse herói da fé, que a todo
momento sabia que Deus era aquele que o livraria dos seus inimigos, e
lhe daria a vitória sobre eles [v 1]. Quando Davi diz: "Exaltar-te-ei, ó Senhor, porque tu me exaltaste",
podemos ter a ideia errada de que o louvor a Deus deve ser dado
somente se recebemos algo de que queremos ou precisamos em troca. O
fato é que Deus não é um negociador. Tudo o que recebemos é por sua
graça, de tal forma que não há mérito algum no homem que obrigue a Deus
dar uma resposta que atenda os desejos e anseios humanos. O que Davi
está fazendo aqui é reconhecendo o favor de Deus, colocando-se na
posição de favorecido, de alguém que recebeu uma graça, e que, por
isso, como um agradecimento, uma forma de reconhecimento ao que Deus
fez, ele o exalta.
Pedro nos alertou de que sem humilhação não seremos exaltados: "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que ao seu tempo vos exalte" [1Pe 5.6].
Davi se humilhava diariamente diante do Senhor, reconhecendo a sua
dependência, e por isso, Deus o exaltou diante dos seus inimigos, os
quais eram também inimigos de Deus.
Por isso ele disse "clamei a ti, e tu me saraste" [v.2];
porque a cura da dor, da aflição, do temor, da angústia e de todos os
males, somente pode vir do bom Deus. Hoje, esperamos por um alívio que
venha de vários lugares. Esperamos na ciência, em terapias, nos
prazeres, no poder, na diversão... de que sejamos capazes de curar a nós
mesmos; mas esquecemos que apenas Deus pode curar nossas feridas.
Novamente, Pedro nos diz: "Lançando sobre ele [Jesus] toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" [1Pe 5.7]; e o profeta nos garantiu:"Verdadeiramente ele tomou sobre si [Jesus Cristo] as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si" [Is 53.4]. Como o próprio Davi pode confirmar, ao dizer: "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará" [Sl 37.5].
Ele sabia, claramente, que no momento da angústia e da aflição, de uma
enfermidade, de uma injustiça, apenas Deus poderia curá-lo; por isso,
ele clamava pela misericórdia que somente podia vir do alto.
No
verso seguinte, Davi nos revela o estado em que se encontrava, como
que o de um morto. E não há como não nos lembrar do Senhor, que sofreu
toda a sorte de injustiças e crueldades por amor de nós, sendo
crucificado, morrendo, mas ressurgindo dos mortos, como o próprio Davi
revelou, profeticamente, séculos antes, em outro Salmo: "Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção" [Sl 16.10].
O
corpo de Davi, diferentemente do corpo do Senhor Jesus, viu a
corrupção, mas a sua alma foi preservada para a vida por Deus, e assim
como ele, também nós não veremos a morte, pois Cristo garantiu: "Na
verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê
naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação,
mas passou da morte para a vida" [Jo 5.24].
Ainda
que Davi esteja falando aqui sobre as aflições da vida, nas quais ele
se via como um morto, dado o grau de opressão sobre a sua alma, o fato é
que somente Deus pode nos livrar delas.
Então,
ele conclama todos os santos, todos os irmãos, a cantar e louvar o
Senhor, não por ter lhe dado um escape momentâneo, por ter solucionado
um problema circunstancial, mas como forma de gratidão pela maneira como
Deus cuida e concede ao seu povo o seu favor gracioso em toda a vida.
Como está escrito:"E sabemos que todas as coisas contribuem
juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito" [Rm 8.28]. Ou seja, a vida que o Senhor nos dá é suprida em todos os mínimos e mais imperceptíveis detalhes pela sua providência e graça.
Então, somos presenteados com versos da mais rara beleza: "Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida" [v. 5].
Que realidade fantástica o salmista nos revela aqui. Primeiro, de que
somos merecedores da ira divina. Pela desobediência e transgressões,
estávamos debaixo da ira de Deus. Estávamos mortos em ofensas e pecados,
segundo o curso deste mundo, e éramos por natureza filhos da ira [Ef 2.1-3]. Mas graças a Deus que nos vivificou em Cristo, por sua misericórdia e o seu muito amor com que nos amou [Ef 2.4-5].
E o salmista continua: "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã".
O que pode ser o choro? Pode ser momentâneo, uma dor passageira, algo
mesmo que não traga cicatrizes, nem marcas em nossas vidas. Mas pode
durar uma vida inteira, anos e anos e mais anos em dores. O choro pode
durar até a nossa morte; pode percorrer toda a vida do crente. Pode ser
tão duro de suportar que somente Deus para nos manter com vida, quando o
desejo é a morte iminente e o alívio da dor. O choro pode nos fazer
sofrer, mesmo que seja através de uma lembrança. Mas ainda que o alívio
não venha nesta vida, temos a promessa de que ele virá, enfim, na
eternidade. É o que João ouviu: "E ouvi uma grande voz do céu, que
dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles
habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e
será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não
haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as
primeiras coisas são passadas" [Ap 21.3-4]. Estejamos certos, meus irmãos, de que Cristo faz novas todas as coisas, porque, como ele mesmo nos diz: "Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" [Jo 16.33].
O
fato é que, todo este Salmo é um louvor a Deus; Davi nos revela como
devemos ser gratos, como devemos nos entregar à adoração, bendizendo o
nome do bom Deus, porque ele é bom, e sua misericórdia não tem fim. Como
filhos, devemos honrar o nosso Pai. Como filhos, devemos obedecê-lo.
Como filhos, devemos reverenciá-lo. Andando em temor e tremor, porque
também a sua justiça é certa. Graças a Deus por ter-nos tirado do
lamaçal do pecado, e ter feito de Cristo, seu Filho Amado, a nossa
justiça. Por isso, cada um de nós, irmãos, louvemos e glorifiquemos a
Deus, levantando mãos santas, corações contristados, e lábios puros em
agradecimento por tudo quanto o Senhor tem feito, e tem nos dado.
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