Por Alan Brizotti
As
pessoas quando envelhecem tendem a ser desumanizadas pela sociedade. É
o caso de artistas, celebridades, executivos, líderes eclesiásticos.
Confunde-se a vocação com a pessoa. Muitos líderes eclesiásticos são
descartados quando a idade chega. Ignorados e esquecidos, sofrem de uma
solidão ministerial absurda que os leva a questionar até mesmo se
valeu à pena ter lutado tanto.
O
choque de gerações acirra ainda mais essa crise. Muitos “meninos” que
ainda não andaram sequer a primeira milha se julgam superiores a tudo e
a todos. Millôr Fernandes, no álbum do fotógrafo gaúcho Robinson
Achutti, escreveu:
“Qualquer
idiota pode ser jovem. Em poucos anos se consegue isso. Mas caras
jovens são fotograficamente aflitivas. Não têm biografia. Chapas sem
emulsão. Lisas. Pois é preciso muito tempo para envelhecer. E muito
talento. O supremo talento da sobrevivência” .
Davi
também passou por isso, e pode nos ensinar muito. Observemos dois
textos de dois momentos diferentes da vida de Davi: Em I Samuel 18.7, o
guerreiro – e jovem – Davi é celebrado nas canções: “As mulheres,
dançando, cantavam umas para as outras, dizendo: Saul feriu os seus
milhares, porém Davi os seus dez milhares”. Em II Samuel 21.16 e 17, o
velho Davi está em mais uma das muitas guerras contra os filisteus e
quase é assassinado:
“E Isbi-Benobe, que era dos filhos do gigante, cuja lança de bronze pesava trezentos siclos, e que cingia uma espada nova, intentou matar a Davi. Porém Abisai, filho de Zeruia, o socorreu, e feriu o filisteu e o matou. Então os homens de Davi lhe juraram, dizendo: Nunca mais sairás conosco à peleja, para que não apagues a lâmpada de Israel”.
Fico
imaginando como deve ter sido difícil para Davi. A dor do velho
guerreiro. Não mais o cabelo vermelho, os músculos; agora, a face
enrugada, a pele flácida, o cabelo branco denunciam que o guerreiro se
foi. Mas o que era para ser frustração, vira excelência (Sl. 92.
12-14). Surge um Davi melhor! Um cantor com muito mais experiência. Ele
não era só mais um guerreiro – ele era a “lâmpada de Israel” . Os
salmos mantinham a lâmpada acesa.
Nosso
problema no século XXI é que ainda buscamos os guerreiros e não as
lâmpadas. Deus procura por pessoas que não deixem sua luz se apagar.
Pessoas que saibam, como dizia um pensador antigo, que “se a chama que
está em ti se apagar, as pessoas ao teu lado morrerão de frio” . Minha
oração é para que as gerações mais novas não se percam na escuridão
pós-moderna, pois as lâmpadas ainda estão acesas!
Davi
é isso! Simplesmente fascinante. Nenhum personagem bíblico causa tanto
impacto em nós quanto ele. Davi não é descrito operando grandes
milagres como Moisés e Elias não têm a fé de Abraão, muito menos a
famosa paciência de Jó. Ele não tem a teologia elaborada de um Paulo,
não conhece os mistérios como Daniel. Davi é exatamente como Deus
queria que ele fosse. Por isso ele fascina tanto. Por isso sua história
não envelhece. Davi é nosso. Nosso irmão de caminhada. Quando peco, e a
crise me invade, Davi é meu confidente, companheiro e amigo. Quando
preciso de conselhos, sei a quem escutar. Quando o coração se aflige,
há sempre um salmo de Davi por perto .
Nenhum comentário:
Postar um comentário