Por Flávio Santos
A graça comumente é conhecida como o favor imerecido de Deus ao homem pecador.
A teologia divide a
graça em comum e especial. A graça comum é aquela que é comunicada a
todos os homens, dando-lhes bênçãos sem medida. É por meio dela que Deus
controla o mundo para que este não sucumba. A graça especial é
soteriológica, pois é por ela que o homem é salvo. É a comunicação da
salvação de Deus ao pecador.
A reforma protestante do
século XVI afirmou que é tudo pela graça. O termo “sola gratia” define
isso, pois, tudo que o homem possui, e, em especial, a salvação, é pela
graça somente.
A graça de Deus é muito
difundida, mas pouco compreendida. Neste sentido, precisamos compreender
o que é a graça de Deus para que a difundamos com discernimento e
verdade.
I – A GRAÇA É UM ATRIBUTO DO SER DE DEUS.
E o Deus de toda a
graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de
haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará,
fortificará e fortalecerá”. I Pe 5. 10
Deus tem em seu ser toda
graça. É pleno de graça e favor. A graça é um atributo do ser de Deus.
Isto quer dizer que Deus é gracioso em essência e ação. Ele a revela
como qualidade de sua essência.
A graça é eterna como
Deus é eterno. Paulo escrevendo ao jovem Timóteo diz que: “Que nos
salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas
segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo
Jesus antes dos tempos dos séculos;”. Tm 1. 9. A graça já existia Nele,
na eternidade, antes de ser exercida aos homens. Ou seja, Deus é graça
em si mesmo, mesmo se não a tivesse comunicado na criação de todas as
coisas. A graça não depende de sua comunicação para ser graça, ela é
simplesmente graça porque faz parte dos atributos perfeitos de Deus.
Por outro lado, Deus é
gracioso ao comunicar sua graça aos homens. Paulo escrevendo aos efésios
diz:“Para mostrar nos século vindouros as abundantes riquezas da sua
graça pela benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Ef 2.7. Apesar de
Deus ser satisfeito em si mesmo pela essência graciosa que há Nele,
Paulo mostra que Deus é gracioso na demonstração e comunicação de sua
graça aos homens em Jesus Cristo. Aqui fica evidente que Deus comunicou o
seu atributo aos homens.
Este atributo nos dá uma
visão verdadeira de quem é Deus e, nos mostra, que não faz nada que não
seja fruto de Sua infinita graça. Mesmo o exercício de sua justiça e
ira são cheios de graça
II – A GRAÇA MANIFESTADA EM JESUS CRISTO.
“E o verbo se fez carne,
e habitou entre vós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito
do Pai, cheio de graça e de verdade”. Jo 1.14
O Verbo eterno de Deus
se encarnou e revelou plena e perfeitamente a graça de Deus. Um dos
propósitos do Evangelho de João era combater a heresia conhecida
gnosticismo, que afirmava que a matéria era má, e Deus, neste aspecto,
não poderia tocar a matéria, não poderia de maneira alguma ter criado o
mundo, e muito menos se tornado prisioneiro em um corpo. Para os
gnósticos, quem criou o mundo foi uma das emanações de Deus, e não o
próprio Deus. Neste sentido, João escreve que o divino Filho de Deus,
que também era Deus, encarnou-se e habitou entre os homens, e quem O
viu, contemplou a Sua glória como a do unigênito do Pai cheio de graça e
de verdade.
Daí ser Jesus a encarnação, manifestação e personificação plena da graça divina.
Jesus é a plenitude da
graça divina. João. 1.16 “E todos nós recebemos da sua plenitude, e
graça por graça”. A palavra usada para plenitude é “pleroma”, que quer
dizer, neste contexto, a soma de tudo o que se encontra em Deus. Em
Cristo estava manifestada e encarnada toda a graça divina. João, também,
diz que recebemos desta plenitude graça por graça, graça sobre graça,
graça em lugar de graça. A graça manifestada por Cristo é dinâmica, quem
a recebe sempre estará mergulhado em graça, saindo de uma graça para
outra graça.
2 Co 8.9 “Conhecereis a
graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rica, se fez pobre por
amor de vós, para que pela sua pobreza vos tornásseis ricos”.
Jesus é manifestação da
graça divina. “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo
salvação a todos os homens”. Tito 2.11. A graça divina se manifestou,
apareceu de modo súbito e surpreendente em Jesus Cristo. A graça se
manifestou, e é uma pessoa, e seu nome é Jesus. Esta Graça manifestada
trouxe salvação a todos os homens. Aqui há uma epifania da graça de
Deus.
III – A GRAÇA APLICADA PELO ESPÍRITO SANTO.
A Graça é aplicada ao
homem pelo Espírito Santo. Um dos principais pontos da teologia
reformada ou calvinista é a graça irresistível. É a afirmação de que
Deus por meio do Espírito Santo age no coração do pecador, tornando-o
inclinado a não mais resistir à graça de Deus.
A graça é irresistível
para aqueles que o Espírito Santo regenerou. A graça é irresistível para
aqueles que foram vivificados por Deus. A graça é irresistível porque é
operada pelo Espírito Santo, regenerando o rebelde, e fazendo-o não
mais resistente ao amor gracioso de Deus.
Por outro lado, a graça é
totalmente resistível. Os pecadores que não foram iluminados pelo
Espírito Santo, a resistem em todo o tempo. Os pecadores que ainda não
foram vivificados estão impermeáveis às ações da graça de Deus. Os
pecadores que não foram transplantados por Deus, que não trocaram o
coração de pedra pelo de carne, ainda estão endurecidos à graça de Deus.
A melhor forma de
entender a graça aplicada pelo Espírito Santo é discernindo a sua
eficácia. A graça é irresistível porque é eficaz. Ela cumpre o propósito
soberano de Deus na salvação do pecador. Ela é implantada eficazmente
no coração do que outrora era resistente à vida de Deus.
Para melhor entendermos a ação e aplicação irresistível da graça de Deus é necessário apreciar alguns textos das Escrituras.
Em Atos 7.51 lemos:
“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre
resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais”. Este texto
corrobora com a graça irresistível, dizendo que o homem em todo o tempo
resiste à graça Deus. Quem resiste à graça, são homens que ainda estão
com os corações incircuncisos, endurecidos pelo pecado, homens que ainda
não receberam a “circuncisão da graça”, que não receberam um novo
coração de carne, que pode receber os mandamentos da vida. Homens que
ainda não foram regenerados pelo Espírito Santo.
Em 2 Coríntios 4.4-6
lemos: “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos
incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos,
mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor
de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é
quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento
da glória de Deus, na face de Jesus Cristo”. Este texto, também, afirma a
graça irresistível, porque mostra que os olhos dos incrédulos foram
cegados pelo diabo, e estão impedidos de receber a luz do Evangelho de
Cristo. Isto acontece até que Deus, em sua soberania diga: “Haja luz”, e
os que estavam em trevas são iluminados e são resplandecidos em seus
corações pela luz da graça, que os traz ao conhecimento da glória de
Deus.
Em João 1.12-13 lemos:
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
Todos aqueles que o receberam e creram em seu nome, não nasceram de sua
vontade, mas foram regenerados pelo Espírito.
Em João 6.44 lemos:
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o
ressuscitarei no último dia”. Não há possibilidade de alguém que está
resistindo à graça de Deus ir até Jesus, se o Pai, pela vocação interna
do Espírito santo, não o trouxer. Este trabalho de trazer o pecador a
Deus é feito pela graça irresistível. O termo “trouxer”, no texto grego,
é “trazer à força”, para uma melhor compreensão do significado da
passagem, é preciso ter em mente alguns pescadores puxando com força a
rede cheia de peixes para dentro do barco. Mesmo que os peixes continuem
resistindo, não havia a mínima possibilidade de saírem da rede. São
trazidos à força. Isto quer dizer que a “força” da graça irresistível de
Deus vence a nossa irrestibilidade.
A Graça tem o seu
nascedouro em Deus, a sua revelação em Jesus Cristo e a sua aplicação
pelo Espírito Santo. Assim, com esta compreensão, devemos difundi-la ao
mundo
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