Por Maurício Zágari
Vivemos dias curiosos na
história da Igreja. Atualmente é muito fácil você se dizer cristão sem
que, necessariamente, tenha um coração como o de Cristo. Muita gente se
chama cristã mas não tem um relacionamento pessoal e íntimo com Jesus de
Nazaré. Existem algumas características que mostram com clareza quem
foi verdadeiramente alcançado pela graça do Cordeiro e ingressou no
reino de Deus. Precisamos examinar nosso coração constantemente, para
ver se não estamos fugindo do padrão que o Senhor estabeleceu para
aqueles a quem adota como filhos. E, de todas as características de um
cristão autêntico, uma se destaca: ele prioriza o próximo.
Assim como “Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16), quem é morada
do Espírito Santo entrega-se pelos outros. Devemos ter em nós “o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em
forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8).
Que exemplo! Numa época
em que muita gente nas igrejas crê e prega que o cristão é o
“vitorioso”, o que faz e acontece… Jesus nos ensina que é preciso
esvaziar-se de si mesmo, servir, nivelar-se aos pequenos, humilhar-se,
dar a vida pelos demais. Isso é ser cristão. “O grande mandamento na Lei
[é]: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a
ti mesmo” (Mt 22.36-40)
Época triste vivemos, em
que muitos acreditam que serão dignos se tiverem cargos de destaque na
igreja, títulos eclesiásticos garbosos, pompa e circunstância. É quando
olhamos para Jesus e vemos que aquele Deus – nascido numa estrebaria de
segunda categoria e posto no lugar onde bichos fedorentos se
alimentavam, cercados por moscas e cheiro de estrume – abriu mão de tudo
isso. Pelo contrário, lavou os pés dos pecadores. “Depois de lhes
ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes:
Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis
bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei
os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei
o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.12-15).
Seu palácio foi uma
carpintaria. Sua coroa não foi de ouro e diamantes, mas de espinhos. Seu
trono não foi uma poltrona no centro da plataforma, mas uma cruz. Seu
séquito não foi de bajuladores e serviçais, mas de escarnecedores que
cuspiam nele e lhe batiam. Sua glória foi ficar nu ante todos, rasgado e
furado enquanto o ofendiam. A lealdade que recebeu foi a traição e a
debandada daqueles por quem se entregou. Distribuiu amor; recebeu
bofetões, catarro, palavrões, abandono, traições, acusações falsas,
desprezo, dor.
Mas chegou o terceiro
dia. E, então, veio a perfeição. Aquele que serviu assentou-se à direita
do Pai e foi servido pelos anjos. Aquele que foi ridicularizado
tornou-se entronizado. Aquele que foi humilhado recebeu toda a glória.
Jesus, após muito sofrer, não descansou, mas permanece conosco todos os
dias, para levar sobre si os fardos de todos os que estão cansados e
sobrecarregados.
Nós, porém, não queremos
abrir mão de nada. Nosso coração inclina-se para o dinheiro, para
acumular pilhas de bens materiais, para receber reconhecimento e fama.
Queremos ter mais e mais seguidores nas redes sociais. Queremos
prestígio. Não abrimos mão de nosso tempo pelo próximo. Não nos
preocupamos com os demais de fato. Não choramos com os que choram, só
desejamos nos alegrar com os que se alegram. Queremos que lavem os
nossos pés – afinal, pagamos pelo serviço. Nosso coração está cheio de
nós mesmos e vazio de amor ao próximo. E nos chamanos “cristãos”? Jesus
disse: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim
como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão
todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo
13.34-35). Claro como água. Só é discípulo de Jesus quem ama o outro. E
isso inclui o xexelento, o fedorento, o intragável, o revoltado, o
desviado, o pecador, o leproso, o que não tem nada a lhe oferecer, o que
vive precisando de você, o chato, o que tem mau hálito, o que te
ofendeu e você não consegue perdoar. Aqueles que são tão ruinzinhos como
você e como eu. Quer ser discípulo de Jesus, isto é, um cristão? Ame
gente como você e eu: a ralé da humanidade, a escória.
Mas uma ralé por quem o Cordeiro de Deus entregou sua vida. Sim: a ralé vale o preço de sangue – e o sangue de Cristo.
Paulo escreveu: “Sede,
pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como
também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e
sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef 1.1-2). Imitamos Deus?
Andamos em amor? Nos entregamos como sacrifício? Negamos a nós mesmos e
tomamos diariamente a nossa cruz? Se não o fazemos, “cristão” é um
título que não nos pertence.
Amor! Só isso revela um coração cristão; um coração vivo e pulsante, que pulsa no ritmo do coração de Deus.
Precisamos nos examinar
diariamente. Como anda o seu coração? Para que ele se inclina? O que
você tem feito pelo próximo? Quem vem primeiro na sua vida? Quanto tem
perdoado? Quanto tem chorado com os desesperados? Quanto tem se alegrado
com a felicidade alheia que custou a sua?
Você quer ter um coração
cristão, isto é, um coração como o de Cristo? Um coração no qual
permanece o amor de Deus? Então ouça a voz do céu: “Se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1Jo 4.12).
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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