Por Maurício Zágari
Um dos conceitos mais
falados na igreja mas menos compreendidos é o de avivamento. Há muitas
ideias erradas sobre o que isso significa exatamente – como, por
exemplo, o pensamento de que uma igreja avivada é aquela com muito
barulho ou muito movimento. E não é nada disso. Para compreendermos
exatamente o que avivamento significa, precisamos analisar muito bem o
que esse fenômeno envolve. Não vou listar aqui histórias de avivamentos
ou coisa parecida. Não desejo falar de “Pecadores nas mãos de um Deus
irado”, de John Wesley ou de George Whitefield. Tampouco quero discorrer
acerca dos grandes despertamentos da era moderna, muito menos do que
ocorreu na rua Azuza ou em Pensacola. Se você quiser se aprofundar no
tema, recomendo que leia o excelente livro “O Verdadeiro Avivamento”, de
John Armstrong (editora Vida) – a meu ver, o melhor já publicado no
Brasil sobre o assunto. O meu objetivo neste texto é apenas fazer uma
síntese de como enxergo o fenômeno do avivamento cristão e as principais
consequências disso para a sua vida.
A primeira pista está no
próprio nome. A maioria de nós entende “avivamento” como “o ato de
tornar vivo”. Ou seja, pegar algo morto e avivar, dar vida. Só que essa
não é a única definição. O dicionário explica que “avivar” também é “dar
vivacidade a algo”, “tornar mais vivo”, “renovar”.
Então,
“avivamento” não se refere somente a dar vida a algo morto. Se isso
fosse verdade, avivamentos espirituais viriam apenas sobre o mundo – que
está morto em seus delitos e pecados – e não sobre a Igreja. Só que
avivamentos acontecem justamente no Corpo de Cristo. Portanto, o
conceito essencial de avivamento cristão é “dar vivacidade à Igreja”,
“tornar a Igreja mais viva”. Assim, uma igreja que precisa de avivamento
é aquela que está viva por estar enxertada na Videira mas que se
encontra sem vivacidade – isto é, sem fulgor, energia, vigor.
A morte do mundo é não ter Deus. A “morte” no seio dos cristãos é viver como se não tivesse Deus.
Todo cristão crê que
Deus existe. Mas daí a viver como se ele existisse… a distância é
enorme. Eu posso crer que Jesus é meu Senhor e Salvador mas isso não ter
consequência alguma na minha vida. Seja franco e olhe ao redor: você
não vê isso acontecer aos montes? Assim, creio em Cristo mas vivo
pecando sem me arrepender; amo ao Senhor sem compartilhar esse amor com
os perdidos; valorizo a oração mas não tenho uma vida de oração; carrego
a Biblia para cima e para baixo mas jamais estudo o texto sagrado; sei
da importância do próximo mas não faço nada por ele… enfim, a perda de
vivacidade do cristão ocorre não no que tange à perda da salvação, mas
sim a um relacionamento tão mirrado com Deus e o próximo que o indivíduo
torna-se espiritualmente esquelético. Pele e osso.
A imagem que vem à minha
mente quando penso no cristão que precisa de um avivamento é a dos
sobreviventes dos campos de concentração nazistas na 2a Guerra Mundial.
Olhe para as fotos daqueles homens e mulheres raquíticos e me responda,
sinceramente: parecem pessoas plenamente vivas ou sem nenhuma
vivacidade… mortas em vida? Quase zumbis?
Aqueles homens e
mulheres estavam vivos, o ar entrava em seus pulmões e o sangue
circulava por suas artérias, mas… encontravam-se sem vida. Apáticos.
Acordavam de manhã sem propósitos. Sobreviviam, sem viço e sem vigor.
Compreende o que quero dizer? Do que aqueles sobreviventes do holocausto
precisavam assim que foram resgatados dos campos de concentração? De
vida. Ser avivados.
Ou seja: avivamento.
Aqueles esqueletos
ambulantes saíram do cativeiro famintos e sedentos, desesperados por
comer e beber e, assim, nutrir seu corpo. De igual modo, cristãos
espiritualmente esqueléticos que são tocados pelo Espírito Santo
tornam-se famintos e sedentos de Deus, desesperados por ter mais e mais
do Senhor.
Cristãos
sem fulgor, energia e vigor são como pessoas anoréxicas: estão
extremamente desnutridas mas não se dão conta disso. É quando chega o
avivamento: Deus os toca sobrenaturalmente e desperta neles uma fome
incontrolável, que antes não sentiam – e fome de Deus: avivamento leva
cristãos a buscar desesperadamente nutrição espiritual. De forma
prática, avivamento leva você ao joelho, numa busca ávida por
relacionamento com o Senhor. Também faz com que mergulhe nas páginas das
Escrituras, numa sede gigantesca por conhecer mais e mais do Criador.
Desperta no seu coração um amor sem tamanho pelos perdidos, que conduz
invariavelmente ao compartilhamento ousado de Cristo – evangelismo.
Avivamento também acende em sua alma o fogo do amor ao próximo e o leva a
atos de devoção, entrega e caridade.
Em outras palavras, o
cristão avivado é o que deseja relacionar-se sempre e mais com Deus, e
que transborda de amor pelo próximo.
Infelizmente,
muitos de nós acreditam que avivamento é quando a congregação começa a
fazer muito barulho, berrar em línguas estranhas, ficar gritando “glória
a Deus” e coisas do gênero. Não é nada disso – e falo como pentecostal.
Tente visualizar aqueles esqueléticos sobreviventes dos campos de
concentração, sedentos e famintos por algo que lhes dê vida e, de
repente, começam a rodopiar, saltar, pular e gritar. Isso os faria ter
mais vida como? Acreditar que devolver a vivacidade a alguém é fazer com
que ele fique gritando e pulando é não compreender o significado de
“vida”. Precisamos compreender que o avivamento cristão é o surgimento
sobrenatural de uma necessidade desesperada e incontrolável por se
relacionar com Deus e se aproximar dele numa intimidade inédita até
então. E o Senhor não é surdo: podemos fazer isso sem barulho. Pois
relacionamento com barulho é relacionamento, mas barulho sem
relacionamento é só barulho.
Eu disse no início do
texto que “o conceito essencial de avivamento cristão é dar vivacidade à
Igreja”. Ou seja, é uma manifestação interna, que brota no Corpo de
Cristo. Mas há um detalhe: quando o avivamento ocorre, a vida passa a
fluir com tanto vigor e força pelas veias dos cristãos avivados que
torna-se impossível conter tanta presença divina dentro das paredes da
igreja. Portanto, sempre que ocorre avivamento, a vida transborda para
fora e acaba levando a muitas conversões. Sim, essa é outra marca de um
avivamento cristão real: salvação em massa. Centenas, milhares de
pessoas sendo alcançadas pela graça salvadora de Cristo. Se você ouve
dizer que em certo lugar está havendo um avivamento mas não há
conversões de pecadores, pode ter certeza de que não é avivamento. Olhe
para as imagens dos sobreviventes dos campos de concentração. Você
consegue imaginar esses seres humanos gerando novos seres humanos? Se
eles mal têm disposição para manter a si mesmos em pé, quanto mais gerar
novas vidas. Como uma mulher que é pele e 0sso conseguiria nutrir por
nove meses um feto, se mal tem vida para si? E como amamentar um bebê,
se não tem nutrientes? Mas, uma vez que essas pessoas forem nutridas,
alimentadas, saciadas, aí sim terão energia e forças para gerar novas
vidas. De igual modo, a igreja avivada gera muitos filhos. E, desse
modo, cresce.
Haveria muito mais a
dizer sobre avivamento. Mas esta é a essência: avivamento cristão é a
busca desesperada por relacionamento com Jesus de Nazaré. É a injeção
caudalosa de Deus nas veias de almas apáticas, improdutivas e
espiritualmente esqueléticas. É a seiva da Videira fluindo com tal força
que transborda e espirra para todos os lados, fazendo mais e mais
galhos se ligarem ao seu tronco.
Historicamente,
avivamentos ocorrem por iniciativa única e exclusiva do Senhor. É uma
ação unilateral. Eu não posso “produzir” um avivamento. Mas, quando
olhamos para os grandes avivamentos da história, vemos um aspecto em
comum às igrejas, denominações, cidades e nações onde brotaram
avivamentos: sempre havia nesses lugares um pequeno núcleo de cristãos
que oravam incansavelmente, clamando a Deus que mandasse um avivamento. É
só o que podemos fazer: pedir e esperar, exatamente como os
sobreviventes dos campos de concentração: eles não tinham como produzir
alimento ou vida a partir do nada. Mas podiam pedir. No dia em que o
exército aliado libertou os sobreviventes do holocausto, a primeira
coisa que aquelas pessoas lhes pediram foi comida e bebida. E receberam.
Você quer experimentar
um avivamento? Ore. Peça. Clame. E, se aprouver a Deus promover um
verdadeiro avivamento, prepare-se para sentir a maior fome e sede de
Jesus que já sentiu em toda a sua vida.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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