Por Ezequias A. Marins
Me parece que anda cada
vez mais difícil ser contra a alguma coisa em nosso meio evangélico.
Entre os pastores, a partir de "listas de discussão" tudo parece ser
muito monolítico, a opinião frágil da maioria rouba de cena os "senões"
de uma minoria. Quer ver um exemplo: a questão das pastoras no meio
batista!
Para você que não faz
parte de nossa denominação e está por fora dessa discussão, vou tentar
lhe situar: o fato é que já temos no Brasil pouco mais de uma centena de
mulheres que foram consagradas "pastoras" em suas igrejas, e uma
discussão bastante atual é se elas poderão fazer parte de nosso órgão de
classe, que denominamos "Ordem dos Pastores Batistas do Brasil". Só ai
já há um contrassenso, se são "Pastores Batistas do Brasil", agora terá
de ser: "Pastores e Pastoras do Brasil", uma vez que um grupo conseguiu
acesso à instituição por conta de uma deliberação truncada em uma das
Assembleias da Ordem.
O fato é que não se
discute a autonomia de uma igreja batista local de consagrar quem quer
que deseja para o ministério pastoral, isso é assunto passivo. O que se
quer trazer à baila é que, como a igreja não consagra nenhum ministro
(ou agora, "ministra") para si mesma, mas sim para a denominação, logo a
irmã que é investida do título pastoral tem de ter todos os direitos e
deveres dos outros, por uma questão de, digamos, isonomia. Então, eu
pergunto: agora, pertencer a Ordem é uma questão de forma apenas, logo, o
que se tem a fazer?
Mas, o que não pode ser
deixado de considerar é que estamos como Batistas quebrando o princípio
do governo da igreja estar biblicamente resignado aos homens, isso em
textos clássicos de Atos 20.28; I Timóteo 3.2; 5.17; Hebreus 13.7; além
de nossa "Declaração Doutrinária" que aborda termos no masculino para as
atribuições relacionadas ao governo da igreja (o negrito é meu):
XI- Ministério da Palavra
Todos os crentes foram
chamados por Deus para a salvação, para o serviço cristão, para
testemunhar de Jesus Cristo e promover o seu reino, na medida dos
talentos e dos dons concedidos pelo Espírito Santo. 1 - Entretanto, Deus
escolhe, chama e separa certos homens, de maneira especial para o
serviço distinto, definido e singular do ministério da sua Palavra. 2 -
O pregador da Palavra é um porta-voz de Deus entre os homens. 3 -
Cabe-lhe missão semelhante àquela realizada pelos profetas do Velho
Testamento e pelos apóstolos do Novo Testamento, tendo o próprio Jesus
como exemplo e padrão supremo. 4 - A obra do porta-voz de Deus tem
finalidade dupla: a de proclamar as Boas Novas aos perdidos e a de
apascentar os salvos. 5 - Quando um homem convertido dá
evidências de ter sido chamado e separado por Deus para esse ministério,
e de possuir as qualificações estipuladas nas Escrituras para o seu
exercício, cabe à igreja local a responsabilidade de separá-lo, formal e
publicamente, em reconhecimento da vocação divina já existente e
verificada em sua experiência cristã. 6 - Esse ato solene de consagração
é consumado quando os membros de um presbitério ou concílio de pastores,
convocados pela igreja, impõe as mãos sobre o vocacionado. 7 - O
ministro da Palavra deve dedicar-se totalmente à obra para a qual foi
chamado, dependendo em tudo do próprio Deus. 8 - O pregador do Evangelho
deve viver do Evangelho. 9 - Às igrejas cabe a responsabilidade de
cuidar e sustentar adequada e dignamente seus pastores.10
1 Mt 28.19,20; At 1.8; Rm 1.6,7; 8.28-30; Ef 4.1,4; 2Tm 1.9; Hb 9.15; 1Pe 1.15; Ap 17.14
2 Mc 3.13,14; Lc 1.2; At 6.1-4; 13.2,3; 26.16-18; Rm 1.1; 1Co 12.28; 2Co 2.17; Gl 1.15-17
3 Ex 4.11,12; Is 6.5-9; Jr 1.5-10; At 20.24-28
4 At 26.19,20; Jo 13.12-15; Ef 4.11-17
5 Mt 28.19,20; Jo 21.15-17; At 20.24-28; 1Co 1.21; Ef 4.12-16
6 At 13.1-3; 1Tm 3.1-7
7 At 13.3; 1Tm 4.14
8 At 6.1-4; 1Tm 4.11-16; 2Tm 2.3,4; 4.2,5; 1Pe 5.1-3
9 Mt 10.9,10; Lc 10.7; 1Co 9.13,14; 1Tm 5.17,18
10 2Co 8.1-7; Gl 6.6; Fp 4.14-18
Mas, me parece que tudo
isso é negado com a decisão de algumas igrejas em consagrar mulheres ao
ministério da Palavra. Logo, só tenho a lamentar, mas pelo quadro que
vivemos, essa é uma causa perdida. Algumas soluções que eu vejo:
(1) Convivermos com esse
"erro hermenêutico", mas pelo bem da causa de Deus mantermos nossa
cooperação como Batistas e persistirmos na proclamação do evangelho para
a salvação de milhões de pessoas no mundo que carecem de Jesus, e
deixarmos que questões como essas, sejam de somenos importância;
(2) Pressionarmos nossa
OPBB para que, mesmo com a inclusão das mulheres no seu rol, sejam
feitos fóruns para o esclarecimento de que essa posição não representa a
totalidade do pensamento batista, pois a Bíblia e a nossa Declaração
tem sido sacrificada no "altar da modernidade e do politicamente
correto";
(3) Orarmos por
misericórdia à nossa Denominação e insistirmos no respeito mútuo. Embora
eu respeite e considere minhas irmãs "pastoras", jamais as chamarei por
este título!
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