Por Maurício Zágari
O Senhor não resgata
ninguém para descartar depois. Se ele resgata é para tornar aquele
indivíduo alguém útil e produtivo, um servo ativo na obra de Deus e
plenamente capacitado e aprovado para atuar em prol do reino dos céus. É
um absurdo achar que Jesus busca a ovelha perdida para fazer dela um
peso morto, inútil. Esse é um pensamento antibíblico e, vamos concordar,
impiedoso e maldoso. Mas hoje importa começar esta reflexão com
palavras que não são minhas, mas de Jesus: “O Filho do homem veio para
salvar o que se havia perdido. ‘O que acham vocês? Se alguém possui cem
ovelhas, e uma delas se perde, não deixará as noventa e nove nos montes,
indo procurar a que se perdeu? E se conseguir encontrá-la, garanto-lhes
que ele ficará mais contente com aquela ovelha do que com as noventa e
nove que não se perderam’.” (Mt 18.11-13). No relato de Lucas, o Senhor
emenda essa parábola com a da moeda perdida:“Qual é a mulher que,
possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia,
varre a casa e procura atentamente, até encontrá-la? E quando a
encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois
encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há
alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende”
(Lc 15.8-10). E, em seguida, Jesus fecha com chave de ouro, contando a
famosa história do filho pródigo.
Creio que o conceito por
trás desses ensinamentos está claro: se uma ovelha, alguém que se
perdeu, um filho do Pai tropeça no meio do caminho, chafurda no pecado e
é resgatado por Cristo, o nosso papel é exultar, festejar, juntar-nos a
Deus e aos anjos na enorme alegria que representa o retorno dessa vida.
Não consigo ver em nenhuma dessas passagens que nossa postura deva ser a
de discriminar o arrependido que retornou – como fez o irmão mais velho
do filho pródigo, alguém que, certamente, não compreendia o que
significa amor nem graça.
Fiquei muito feliz
quando tive contato com essa Bíblia de Estudo; aliás, duplamente feliz.
Primeiro por ver um material do gênero à disposição da Igreja. E,
segundo, por ver que não só o filho pródigo, Swaggart, tornou à casa do
Pai, recebeu um anel no seu dedo, foi vestido de roupas novas e gerou
alegria entre os anjos do céu, mas também porque ele ganhou a
oportunidade de voltar a ser um membro produtivo do Corpo de Cristo – em
prol da edificação do Corpo de Cristo. Bravo, palmas para Jesus, que
cumpriu o milagre da justificação em mais uma alma que estava fora do
aprisco, e palmas para o Espírito Santo, que convenceu a ovelha pedida
do pecado, da justiça e do juízo. O Bom Pastor deixou as 99 ovelhas e
foi atrás de Jimmy Swaggart. Consta que seu arrependimento foi sincero e
Deus me livre de dizer que não foi, pois não compete a mim julgá-lo
neste momento de sua vida. Os frutos até o momento não o condenam, pelo
que me consta. E, vamos combinar: sendo eu este terrível pecador que
sou, que moral tenho para lançar a primeira pedra?
É a filosofia do “não o
resgate, mate. Mas, já que vai resgatar, pelo menos o esconda em algum
porão. E, se não der, desmereça tudo o que ele vier a fazer…”.
Eu não deveria mais me
espantar com isso. Afinal, já vi a impiedade se manifestar no seio da
Igreja muitas e muitas vezes e de muitas e muitas maneiras. Não em
poucas ocasiões testemunhei o apedrejamento de cristãos arrependidos de
seus pecados por grupos que consideram seus próprios pecados menos
graves do que os dos outros. Pior: vi gente que prossegue sem
arrepender-se de suas iniquidades não confessadas acusar e desmerecer
coisas feitas por iníquos que se arrependeram, confessaram e deixaram o
pecado. O que não é novidade nenhuma, Jesus mesmo falou sobre isso
(atente para o negrito):
“Propôs também esta
parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem
justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o
propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto
em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou
porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros,
nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o
dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não
ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó
Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado
para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado;
mas o que se humilha será exaltado” (Lc 18.9-14).
De tanto isso acontecer,
eu não deveria mais me surpreender ao ver tantos cristãos justificados
de seus pecados serem escorraçados por cristãos que não compreendem o
alcance do perdão e da graça de Deus. Aliás, permita-me confessar o meu
pecado: eu mesmo não entendia tempos atrás, encharcado de impiedade que
eu era, até o dia em que as asas da graça divina se estenderam sobre
minha vida e experimentei na pele e na alma o que é ser alvo da
compaixão do Senhor. Então, de certo modo, entendo os impiedosos, pois
já estive cego como eles estão. O que não quer dizer que eu não fique
muito, mas muito triste com atitudes como essas.
É duro ver ovelhas que
Jesus trouxe de volta ao aprisco se esforçando para fazer algo em prol
da edificação da Igreja e observar o fruto do seu esforço ser
desmerecido, desdenhado e boicotado por irmãos em Cristo. Gente que voa
na jugular, sabotadores da redenção da cruz. Será que o pai do filho
pródigo o recebeu de volta em casa para ele ficar sentado o dia
inteiro, sem fazer nada? O fato de o filho pródigo ter saído dos trilhos
por uma fase faz dele imprestável pelo resto da vida? O que Jesus diria
sobre isso? Quando Pedro traiu Cristo (três vezes, lembremos) e Jesus o
perdoou, o que o Mestre disse ao apóstolo? “Tudo bem, mas nem ouse
fazer a obra de Deus, esconda-se num canto e nunca mais faça nada”. É
isso? Ou ele manda o pecador arrependido apascentar as suas ovelhas?
Pare. Preste atenção: Jesus manda o pecador que o traiu três vezes fazer
nada menos do que pastorear as suas ovelhas, cuidar delas, guiá-las.
Que lição para todos nós!
Sinto arder na minha
pele a tristeza por ver homens impiedosos depreciarem todo o esforço de
Swaggart em elaborar essa Bíblia de Estudo, em vez de se alegrarem por
ele estar ativo na edificação do Corpo de Cristo. Que tipo de gente faz
isso? Que tipo de gente faz caretas e comentários maldosos e
maquiavélicos porque alguém que estava perdido foi encontrado e voltou a
ser útil? Deveriam estar se alegrando junto com os anjos no céu, por
Deus!
E note algo: em momento
algum estou falando de concordar ou discordar da teologia que ele prega,
de suas crenças soteriológicas ou do que for. Minha reflexão passa
longe disso. Estou falando de pecado, arrependimento e perdão de um
cristão, algo que perpassa absolutamente toda e qualquer divergência
teológica ou doutrinária.
Peço a Deus que sejamos
mais piedosos. Perdoadores. Graciosos. Amorosos. Menos ferinos na língua
que fustiga os outros e mais amáveis ao aplicar o bálsamo sobre as
feridas dos que se embrenharam pelo espinheiro do pecado mas foram
resgatados pela maravilhosa graça.
Volto a dizer: não sou o
Espírito Santo para dizer o que se passa no coração de Jimmy Swaggart.
Se ele abandonou a prática do pecado eu não posso garantir. Mas quero
crer que sim. E, até que me provem o contrário, o sangue de Cristo
repousa sobre a vida daquele homem, tornando-o inculpável. E herdeiro do
céu.
A ovelha foge do
aprisco. O Senhor parte em seu resgate. Ele a traz de volta. Os anjos no
céu fazem festa. O banquete é servido. O Pai se alegra. E depois?
Depois muitos de nós pegamos aquela ovelha e a espancamos com socos,
murros, pontapés e cusparadas. Que linda lição de cristianismo.
Obrigado, Senhor, pela
graça. Obrigado, Senhor, pelo perdão. Obrigado, Senhor, pela
restauração. E tem misericórdia de mim, pois não sou melhor do que
ninguém. Ó Deus, sê propício a mim, pecador…
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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