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Por R. C. Sproul
Há grande debate e controvérsia em nossos dias sobre qual é a adoração
correta diante de Deus. Como eu tenho lutado com essa questão, continuo
voltando ao Antigo Testamento. Eu sei que essa é uma prática perigosa,
porque agora vivemos na era do Novo Testamento, mas o Antigo Testamento
nos dá instruções detalhadas e específicas sobre a adoração, enquanto o
Novo Testamento é quase que silencioso a respeito desta conduta. No
Antigo Testamento, eu encontro um refúgio da especulação, da opinião do
homem e dos caprichos do gosto e da preferência humana, porque lá eu
encontro o próprio Deus exigindo explicitamente que certas coisas
aconteçam na adoração. Eu acredito que é possível e correto extrair
princípios para a adoração do Antigo Testamento, pois os livros do
Antigo Testamento continuam fazendo parte do cânon das Escrituras e,
mesmo que haja certa descontinuidade entre o Antigo e o Novo Testamento,
há também uma continuidade que não devemos desconsiderar.
Um dos princípios que aprendi do Antigo Testamento é esse: a pessoa deve
ser envolvida por inteiro na experiência da adoração. Certamente, as
mentes, os corações e as almas dos adoradores devem estar envolvidos,
mas quando vamos ao culto no domingo pela manhã, não chegamos com as
mentes, os corações ou as almas desencarnados. Nenhuma das nossas
experiências é puramente intelectual, emocional ou espiritual. A
experiência da vida humana também envolve aspectos físicos. Isso
significa que todos os cinco sentidos estão envolvidos na experiência da
vida. Somos criaturas que vivem a vida não apenas com as nossas mentes,
corações e almas, mas com os nossos sentidos de visão, audição, olfato,
paladar e tato.
Eu não tenho espaço suficiente neste breve artigo para abordar como os
cinco sentidos estão envolvidos na adoração, ou mesmo para explorar
todas as dimensões de apenas um desses sentidos. Então, quero considerar
apenas uma forma pela qual o sentido visual pode ser impactado, para
que os nossos corações sejam movidos a adorar.
Pesquisas rotineiramente nos dizem que as duas razões principais pelas
quais as pessoas ficam longe da igreja são porque elas acham o culto
chato e a igreja irrelevante. Essas razões, especialmente a primeira, me
deixam surpreso. Eu sempre disse que, se o próprio Deus anunciasse que
ele apareceria na minha igreja num domingo de manhã, às 11 horas,
pessoas compareceriam a ponto de algumas ficarem em pé somente nessa
hora marcada do culto. Tenho certeza de que ninguém que viesse a esse
culto e testemunhasse a chegada de Deus iria embora depois, dizendo: “Eu
fiquei entediado”. Quando lemos os relatos bíblicos de encontros de
pessoas com Deus, podemos ver todas as gamas de emoções humanas. Algumas
pessoas choram, algumas clamam de medo, algumas tremem, algumas
desmaiam. No entanto, nunca lemos sobre alguém que tenha ficado
entediado na presença de Deus.
Então, visto que a adoração é, em seu sentido mais básico, um encontro
com Deus, como podemos explicar as pesquisas que nos dizem que as
pessoas saem entediadas da igreja? Devo concluir que elas não estão
experimentando a presença de Deus em nenhum sentido. Isso é trágico,
porque se as pessoas não sentem a presença de Deus, elas não podem ser
movidas a adorar e a glorificar a Deus.
Um dos elementos que ajudam as pessoas a sentir a presença real de Deus é
a forma do ambiente de culto. Eu gostava de perguntar aos meus alunos
do seminário, que eram protestantes, se eles já haviam estado em uma das
grandes catedrais góticas católicas romanas. Muitos haviam estado, por
isso eu lhes pedia para compartilhar suas profundas reações ao andarem
por uma catedral. A maioria dizia: “Tive uma sensação de temor” ou “Eu
senti a transcendência de Deus”. Isso me dava a oportunidade de mostrar
como a arquitetura das catedrais, o formato do ambiente de culto nessas
construções, colocava meus alunos no “clima” para a adoração, por assim
dizer. É claro, as catedrais foram projetadas para despertar essa exata
reação. Grande cuidado e reflexão foram empenhados no projeto das
catedrais. Os projetistas queriam um formato que estimulasse nas pessoas
uma sensação da sublimidade de Deus, da alteridade de Deus. Eu me
entristeço ao ver que os protestantes não costumam ter o mesmo cuidado
no projeto das igrejas. Nossos ambientes de culto são muitas vezes
práticos. Os templos são projetados de acordo com o design de cinemas ou
estúdios de televisão. Tais ambientes não têm nada de errado, mas
muitas pessoas testemunhariam que esses ambientes não as inspiram à
adorarem da mesma forma que o interior das igrejas tradicionais fazem.
Cabe a nós, penso eu, observar o grande cuidado com o qual Deus deu ao
seu povo os planos para o tabernáculo, o primeiro ambiente de adoração.
Como o templo que veio em seguida, o tabernáculo era um lugar de beleza,
glória e transcendência. Era como nenhum outro lugar na vida do povo
de Deus. Precisamos entender que a arquitetura da nossa igreja comunica
algo aos nossos sentidos visuais e, portanto, essa arquitetura pode
favorecer ou dificultar a nossa percepção da presença de Deus.
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