Por Luiz Fernando Dos Santos
“A sua misericórdia estende-se aos que o temem, de geração em geração”. (Lc 1.50)
A vida cristã é uma experiência de pura misericórdia. Misericórdia que
podemos alargar a sua compreensão quase que exponencialmente. Não se
trata apenas daquela bênção de Deus em lidar com os nossos pecados, com
os sofrimentos que deles decorrem, de tratar com brandura a nossa
rebeldia e derramar perdão sobre as nossas vidas. Misericórdia tem a ver
com todos os recursos dados por Deus para fazermos a travessia desta
vida em meio às muitas contradições, paradoxos e contingências de nossa
experiência humana que escapam por completo de nosso controle. Gostaria
de apresentar nesta pastoral pelo menos quatro grandes aspectos da
presença da misericórdia em nossas vidas que podemos e devemos desfrutar
e repousar confiantemente nela.
1. Ansiedade e medo do futuro. A misericórdia de Deus nos ensina
que as necessidades de hoje serão supridas com as respostas para hoje.
Que devemos ocupar-nos com um dia de cada vez: “Portanto, não se
preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta
a cada dia o seu próprio mal" (Mt 6.36). Misericórdia aqui significa
que podemos contar com o auxílio de Deus assim como os israelitas
contaram com o maná no deserto para sua porção diária de suprimentos
numa terra inóspita: Lv 19.6; Dt 8.16.
2. Medo de sucumbir às provações. Aprendemos da misericórdia do
Senhor que Ele mesmo não tenta, não induz a nossa ruína: “Quando alguém
for tentado, jamais deverá dizer: ‘Estou sendo tentado por Deus’. Pois
Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tg 1.13), mas
Deus nos prova e permite a provação, a citação de Deuteronômio acima
fala disso: “para humilhá-los e prová-los, a fim de que tudo fosse bem
com vocês” (Dt 8.16). Contudo, a misericórdia diz que o mesmo Deus que
prova ou permite a provação, providencia a força para a suportarmos e o
livramento dela: “Não sobreveio a vocês provação que não fosse comum aos
homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam provados além
do que podem suportar. Mas, quando forem provados, ele lhes
providenciará um escape, para que o possam suportar” (1Co 10.13).
3. Tempos de necessidades espirituais. A misericórdia nos ensina
que em tempos de sequidão da alma, frieza espiritual ou de qualquer
outra necessidade, ela estará sempre à disposição para suprir nossas
carências com a Graça: “Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça
com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos
graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4.16).
4. Há misericórdia suficiente e para sempre. Esta é uma notícia
maravilhosa. A misericórdia de hoje é para os fardos de hoje, para as
tentações de hoje, para as necessidades espirituais de hoje. Todavia,
elas não se esgotam. Quanto mais nos recorremos a ela, quanto mais dela
confessamos ter necessidade, quanto mais nela depositamos a nossa
confiança, tanto mais ela abunda sobre as nossas vidas. E mais,
colecionar misericórdias, tê-las todas na memória agradecida do coração é
grande fonte de paz e consolação: “Todavia, lembro-me também do que
pode dar-me esperança” (Lm 3.21). Esta sentença foi proferida por um
homem que conheceu abundância de tormentos, decepções e tristezas: o
profeta Jeremias. Contudo, ele não se deixou consumir por suas tristezas
e aflições. Antes, trazia na memória as misericórdias do passado, se
fiava nelas, cria inarredavelmente que Deus não muda, não sofre
variações, é imutável em seu amor, logo, suas misericórdias também não
mudam, não diminuem, não desaparecem, eis o que ele nos ensina: “Graças
ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois suas
misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se a cada manhã” (Lm 3.22,23).
Misericórdia nova para um novo dia. Misericórdia adequada para cada
circunstância. Misericórdia em tempo, sem demora, para cada estação da
vida.
Quero convidá-lo a tornar-se conscientemente um dependente visceral da
misericórdia de Deus. Busque-a, deseje-a, conte com ela e também use em
suas relações, afinal de contas o Senhor Jesus a requer também de nós:
“Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não
sacrifícios’. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores" (Mt 9.13).
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