Há a falsa premissa de
que todos os caminhos levam a Deus; e de que Deus pode ser tocado e
alcançado pelo esforço humano, seja qual for, desde que haja sinceridade
e empenho e alguma dose de sacrifício no homem para se achegar, pois
ele ama a diversidade e os esforços de união da humanidade [ecumenismo].
Ainda outro diz ser Deus amor, a tal ponto que nenhuma das suas
criaturas, mesmo o diabo e seus anjos, perecerá, pois Deus não pode
negar a si mesmo, logo, todos, sem exceção, serão salvos
[universalismo]. Temos outra mentira: a de que Deus amou o homem a tal
ponto que se colocou em seu próprio nível, descendo de sua condição de
Deus para a de um “deus”, de tal forma que não pode intervir em nada na
criação, estando tão impotente como um espectador diante de um filme
[teísmo aberto].
Não citarei outras
premissas equivocadas e falsas, pois estas são suficientes para
exemplificar o meu argumento. Vejamos o que elas têm em comum: um “Deus”
amoroso mas permissivo com o pecado e o erro.
Aos que são pais, ficará
claro que os argumentos das três doutrinas são um absurdo [e não é
necessário sê-lo para perceber o equívoco]. Por exemplo, qual de nós, em
sã consciência, não puniria o filho que, furtiva e sorrateiramente,
tomou dinheiro da nossa carteira? Alguns, talvez, não fizessem nada na
primeira vez, seja lá o temor que tivessem para não puni-lo. Acontece
que o filho, livre do castigo, iria uma segunda, terceira, quarta,
quinta vez até a carteira, sempre surrupiando valores maiores, num
crescente grau de delinquência. Por mais negligentes que sejam os pais,
chegará um momento que o abuso passará de todos os limites, e ele dará
um basta à situação [ainda que os motivos não sejam morais, mas
meramente financeiros]. Portanto, mesmo que o pai seja irresponsável e
não ame o filho, chegará um momento em que tomará a atitude de não
sofrer mais o dano, denunciá-lo e puni-lo. Ainda que a pena seja a
própria impossibilidade do filho continuar o seu crime [por exemplo,
colocando o dinheiro em um cofre-forte]. Em certo sentido, não permitir
que ele continue a praticá-lo é, em si mesmo, uma atitude ativa de
penalizar-lhe a não desenvolver e satisfazer o seu desejo perverso.
E no caso de Deus?
Há de se considerar
alguns pontos: primeiro, não se pode tirar nada de Deus. Segundo, Deus é
autoridade, e por ele todas as coisas foram criadas e sustentadas.
Logo, alegar passividade ou omissão da sua parte é ilegítimo e uma
injúria. Terceiro, Deus é santo, e convir com o pecado ou o mal afetaria
a sua santidade, o que faria dele um ser mutável. Se um pai, por mais
relapso e fraco, chegaria ao ponto de não permitir mais os abusos do
filho, o que levaria os adeptos dessas três doutrinas [entre outras] a
acreditar que o Deus Todo-Poderoso o permitiria?
Mas alguém pode dizer:
“O pai pode, simplesmente, conviver com os furtos do filho sem se
importar ou tomar alguma providência que o impeça de continuá-los. Sendo
conivente com eles…”. Realmente, seria uma hipótese, que o tornaria no
homem frouxo, amoral, omisso, negligente e cúmplice do filho. Ele seria o
co-autor da subtração, o estranho caso de alguém colaborar e participar
do crime contra si mesmo. E aí está a questão: alguém, que se diz
cristão, e em sã consciência, pode alegar que Deus agiria assim?
Este é o ponto: para
Deus ser o que os ecumênicos, universalistas e teístas-abertos
reivindicam, teria de ser imoral, fraco, negligente, permissivo,
participante do pecado e do mal; a transgredir sua própria lei; a
infringir danos a si mesmo. O problema é fazer de Deus um formador de
quadrilhas, a se associar ao crime. Por não punir o infrator, ele se
tornaria em partícipe, que colaboraria de alguma forma na conduta típica
do filho, o furto. Isso o faria ainda mais criminoso do que este; um
criminoso qualificado, visto ter uma atuação pessoal e própria na
qualificação do delito, ou seja, ele seria o fator estimulador, que
incitaria os homens a cometê-lo, visto não puni-los, tendo o poder de
fazê-lo. Assim Deus violaria sua própria lei, fazendo-se réu de si
mesmo. É claro que o juiz não pode ser réu no mesmo processo, então,
quem o seria?
Além de quebrar a sua
própria lei, ele criaria um código moral inútil, que seria rasgado a
cada delito cometido, ao ponto do pecado ser um delírio, uma divagação,
uma intolerável e inadmissível possibilidade dentro da impossibilidade.
Fazendo de “Deus” um artesão imperfeito, injusto, cínico… mas além disso
o mantenedor do caos, ao se aproximar dele sem impedi-lo, ou ao se
aproximar dele sem os meios suficientes para impedi-lo. No primeiro
caso, ele seria dissoluto, no segundo, incapaz.
Quando ecumênicos,
universalistas, teístas-abertos e outros, mesmo que se digam cristãos,
dizem que o Cristianismo bíblico faz de Deus o autor do pecado, podemos
replicar-lhes que os seus conceitos tornam-no o praticante do pecado. A
Bíblia diz que Deus é o criador de todas as coisas, materiais e
imateriais, boas e más, de sorte que nada, absolutamente nada,
escapa-lhe do controle e da criação. Deus idealizou o pecado e o mal
dentro de um plano perfeito, sábio e santo: o decreto eterno. Porém, ele
não faz o mal, por simplesmente não poder fazê-lo, sendo bom. Ele não
pode criar o caos, porque é o Deus ordeiro. Nem cometer o pecado, porque
é santo. Em sua perfeição, não há imperfeição. Em sua imutabilidade,
não há sombra de variação. Em seu poder, não há fraqueza. Em sua
sabedoria, não há tolice. Quem pratica o mal e o pecado são suas
criaturas, anjos e homens, segundo o seu poder e autoridade, mas não por
sua ação direta. O fato de Deus ser efetivo e atuante em tudo não o
torna no sujeito ativo de tudo [com isso não quero dizer que Deus seja
passivo, mas ele não é o agente ativo do acontecimento, ainda que esteja
a agir ativamente para que ele ocorra segundo o seu plano]. Com isso,
estou a dizer que o homem nunca é passivo em seu pecado. Mesmo quando
negligente ou omisso, o homem é ativo em pecar ou em concordar com o
pecado. O grau de culpabilidade não o exime do dano. Dependerá sempre de
sua decisão. E sua escolha o tornará réu do crime ou não.
Porém as doutrinas
não-bíblicas fazem de Deus, em algum aspecto, o autor do crime, ainda
que seja na condição de um espectador, uma testemunha de vista, um
voyeur sádico.
Assim, só há duas
religiões: a divina e a humana. Uma se contrapõe à outra. Infelizmente,
alguns crentes e denominações cristãs têm se apegado a parte da verdade e
não à sua totalidade, unindo-a ao paganismo e ao sincretismo para
construir uma cosmovisão demoníaca e anticristã, onde Deus é um mero
espectador, um observador lânguido a dar longos bocejos, ou a assentir
tacitamente os desvios das suas criaturas.
Esse padrão é muito
parecido com o da mitologia geral, em que deuses se misturam entre os
homens como se fossem iguais, igualmente errando sem que possam mudar em
nada o seu destino ou das suas criaturas. Em suas fraquezas, incertezas
e confusões como poderiam julgar ou punir? Esse conjunto de ideias é
como erguer casas no pântano ou na areia… desmoronarão irrevogáveis à
menor investida, sem qualquer resistência.
Dentro da cosmovisão
bíblica é impossível conservarem-se harmoniosas, racionais e lógicas.
Pois elas partem do pressuposto de que o mundo pode ser entendido a
partir dele mesmo, como se fosse auto-explicável, e de que não é
necessário Deus para torná-lo inteligível e aplicável, mas de que o seu
significado está muito além dele… de maneira que nem mesmo ele pode
compreendê-lo.
O objetivo é um só:
criar um conjunto uniforme de ideais que se oponha ao Cristianismo
bíblico; operando a partir do ponto de vista relativista, pragmático e
imanentista, colocando o homem como o ser supremo, o centro do universo;
ou quando não, ele se encarregará de colocar outro em seu “trono”, de
forma que será escravo de si pelos meios mais sórdidos e nefastos de se
auto-subjugar: a rebeldia contra Deus e o amor pelo pecado.
Desta forma, a religião
humanista [e nela, de certa forma, está contido o arminianismo] subverte
algo do Cristianismo para moldar a síntese de que todas as concepções
são legítimas, de que todos os caminhos são aceitáveis, vistos que eles
ensinam e se preocupam apenas com o bem-estar do homem ou a liberdade de
desejar e operar a autodestruição sem as consequências advindas dela: a
condenação e o sofrimento eternos.
A cosmovisão que declara
o verdadeiro estado de depravação e iniquidade do homem tem de ser
combatida a fim de se resguardar a integridade humana e a sua absolvição
diante de um tribunal que não julga e de um juiz comprometido com a
injustiça. A cosmovisão a declarar que somente Cristo é a única
possibilidade de reconciliação do homem com Deus, sendo ele o Verbo
encarnado, pelo qual os pecados não nos são imputados, é exclusivista, e
tem de ser erradicada. Um deus desobrigado consigo mesmo; ainda mais
irresponsável que suas criaturas, as quais abusam da sua tolerância de
consentir com aquilo que deveria impedir, é o arquétipo correspondente
às muitas formas de auto-idolatria humana.
Não há lugar para a
biblicidade, nem para Deus como o ser supremo, justo e santo, que irá
julgar esse mesmo homem. Por isso, criou-se a imagem de um “Deus”
paspalhão, um sentimentalóide tosco e tolo, que acaba por se sujeitar ao
padrão estabelecido pelo homem e que o próprio homem desconhece quais
serão as suas consequências. Esse “Deus” não é reconhecido na Escritura,
nem em momento algum é visto ou descrito por ela; o que os levará,
primeiramente, à necessidade de relativizar e desqualificar o texto
bíblico como a fiel palavra de Deus; colocando-o somente como mais um
manual ético-moral entre tantos outros criados pela mente humana, e que
nem mesmo deve ser observado, tendo-se em vista a sua contextualização
cultural e temporal; cujo prazo de validade expirou.
Com isso, estão a dizer
que a Escritura está ultrapassada, de que não há mais contato entre a
verdade e o mundo atual… a verdade não tem mais lugar no presente
século; tornou-se obsoleta, em um código que não exprime nenhuma
sintonia com os nossos dias, não sendo mais do que a alternativa pífia
para as mentes mais conservadoras, tacanhas e sub-desenvolvidas. E
inclui-se também e, urgentemente, a necessidade de se destruir qualquer
aspecto sobrenatural e histórico em suas páginas.
Num mundo subjetivo,
onde as “verdades” são mutáveis e adaptáveis a todas as formas de
corrupção, qualquer defesa da Bíblia, como a palavra fiel e inspirada de
Deus, deve ser combatida. E o Estado, com a falsa premissa de ser
laico, acaba por ser antireligioso, mas não o suficiente para impedir
que “técnicas religiosas” se convertam em métodos “científicos”
aplicados à satisfação humana. A prova está na aceitação pacífica do
yoga, da acupultura e da ecologia [o culto secular da deusa "Gaia"...
olha a mitologia aí, novamente] como o padrão aceitável de
espiritualidade e civilidade humana. Qualquer referência ao Absoluto
deve ser substituído por conceitos paliativos, que, quando muito,
entretêm e prolongam os desejos e esperanças inalcansáveis. Eles
sustentam a expectativa de que são possíveis, quando sua realização é
improvável, e não passam de vãs promessas.
Assim todas as formas
que possam se fundir ao humanismo são aceitas, exceto o Cristianismo
Bíblico, ortodoxo e histórico, o qual não é antropocêntrico, mas
teocêntrico, e por isso, tem de ser destruído.
Presenciamos a união
entre o secular e o religioso com o único objetivo de erradicar o Deus
biblico; e, para isso, têm de criar uma forma diluída ou
descaracterizada da verdade; iludindo os incautos de que a mentira pode,
em último caso, substituí-la eficientemente. Formas aparentemente
cristãs são criadas como sabotadores, intrusos que invadirão a seara do
Senhor e disseminarão o veneno da incredulidade e da dúvida; ou da
incerteza como única convicção a se defender.
Custe o que custar, a
esperança tem de morrer. Nem que para isso tenha-se de criar um “Deus”
covarde. Feito à imagem e semelhança do homem.
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