Por Maurício Zágari
Você
sabe quem foram Bacio Pontelli, Giovannino de Dolci, Perugino,
Ghirlandaio, Rosselli, Signorelli, Pinturicchio, Piero di Cosimo,
Bartolomeo della Gatta, Rafael, Michelangelo Buonarroti e Sisto IV? Não?
Então aguarde um pouquinho que já vai saber. Mas antes vamos falar um
pouco sobre tesouros.
Com a renúncia do papa Bento 16, li diferentes reportagens que falam
sobre o local onde ocorre a eleição do líder católico: a Capela Sistina (foto ao lado).
Em muitas dessas matérias de jornais o texto referiu-se a essa Capela
como um “tesouro da Igreja”. Lembro bem das duas vezes em que tive a
oportunidade de visitar a Capela Sistina, uma maravilha da arte sacra,
um monumento da História da Igreja. Uma obra belíssima do bom gosto
humano. Fica no Palácio Apostólico, residência oficial do papa, na
Cidade do Vaticano. Seus afrescos (técnica de pintura em paredes) têm
beleza e valor incalculáveis.
No entanto, falando espiritualmente, sempre que penso na Capela
Sistina a imagem que vem a minha mente nunca são pessoas ajoelhadas em
contrição, vidas em arrependimento sincero por seus pecados, a pregação
genuína da Palavra de Deus, gente sendo discipulada, adoração de filhos
ao Pai celestial. O que me lembro das duas ocasiões é uma multidão de
turistas se espremendo, sentando no chão daquele santuário, uma
balbúrdia incontrolável, desrespeito por um lugar sagrado, indivíduos
desobedecendo todas as normas do lugar e guardas de segurança berrando
em inglês “No photos!” (“Sem fotos!”) o tempo inteiro, sendo solenemente ignorados pelos turistas.
Não é segredo para nenhum de nós que vivemos na época da Teologia da
Prosperidade que os males provocados por essa heresia e as igrejas que a
adotaram acabaram com a imagem da Igreja evangélica como um todo diante
da sociedade. Mas esqueçamos a Teologia da Prosperidade e seus
seguidores por alguns momentos. Pensemos nas igrejas sérias. Nas que de
fato têm lideranças honestas diante do Senhor, onde se busca discipular
bem os membros e glorificar a Deus, onde se pensa mais na eternidade do
que na vida terrena. Será que é possível ultrapassar até mesmo
inconscientemente os limites do uso do dinheiro nessas congregações
piedosas, corretas e de fato cristãs?
Sim, é.
Não é pecado os responsáveis por uma igreja se preocuparem com sua
estrutura e manutenção financeira. Na verdade, se não tratarem dessa
questão com muito zelo estarão sendo negligentes com a obra de Deus. É
preciso sobriedade e diligência na gestão econômica de uma igreja. Mas o
maior erro que cometem, muitas vezes sem maldade e sem perceber que é
um erro, é pôr o dinheiro acima de pessoas. E como isso pode acontecer?
Crendo ou agindo como se o tesouro de uma igreja fosse dinheiro ou
qualquer coisa relacionada a ele em vez de Deus e de indivíduos. Fazendo
mal a pessoas por causa de dinheiro. Pondo em qualquer instância
dinheiro acima de seres humanos.
Mateus 22.36-40 registra o diálogo entre Jesus e um fariseu: “Mestre,
qual é o grande mandamento na Lei. Respondeu-lhe Jesus: Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o
teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo,
semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.”
Eis a resposta. O tesouro de uma igreja, o erário de uma Igreja, não é
dinheiro: são Deus e as pessoas. A mais bela, imponente, rica e
suntuosa igreja já construída não vale um centavo aos olhos de Deus se
posto em comparação com o mais humilde e desconhecido dos indivíduos. As
magníficas pinturas da Capela Sistina têm zero de influência sobre o
destino eterno de almas humanas. E, por esse prisma, ela vale menos do
que qualquer igrejinha humilde de pau-a-pique de beira de estrada onde
se realize um culto para três pessoas.
Sou favorável a termos um local de culto, um templo, um santuário.
Não junto minha voz à dos irmãos bem-intencionados que julgam que
igrejas nos lares ou “comunidades” são a resposta bíblica, embora
entenda suas razões. São meus irmãos em Cristo e compreendo sua repulsa
pelos templos institucionais, mas não coaduno de sua visão, por entender
que estão condenando algo que o Senhor não condena, oferecem soluções
que não solucionam e geram um debate que não leva a lugar nenhum. Não
quero entrar nesse mérito aqui, as razões que me levam a acreditar na
Igreja organizada já foi exposta em diversos posts deste blog (por
exemplo, Jesus nunca construiu templos).
Passo com frequência na porta de igrejas suntuosas, como, por
exemplo, a belíssima Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro. Você sabe
dizer quem idealizou sua construção? Eu não. Sabe quem foi seu
arquiteto? Eu não. Sabe os nomes dos presbíteros do Conselho que
aprovaram sua edificação? Eu não. Não sei nada de sua história. Mas
conheço diversas pessoas que ali conheceram Cristo e desenvolveram sua
fé. Pessoas que, junto com o Deus que ali é adorado, são o verdadeiro
erário, o tesouro daquele local. Aquele lindo templo não é a realização
de seus idealizadores e construtores: os seres humanos que passaram por
suas portas e por sua história são.
Fico imaginando quando chegaram ao céu os príncipes, reis e
sacerdotes da Europa que idealizaram e financiaram igrejas monumentais,
banhadas a ouro, com vitrais e rosetas coloridas, órgãos de tubos
magistrais e pés direitos de dezenas de metros; e Deus lhes perguntando:
“O que você tem a apresentar?”. Ao que responderam: “Ergui igrejas e
catedrais magníficas para ti, Senhor”. E, em meu exercício de
imaginação, consigo pensar em Deus balançando a cabeça e dizendo: “Não,
meu filho, você não entendeu a pergunta. Quero saber quantos seres
humanos você amou de modo desinteressadado. Quantas vidas você abençoou.
Quantas almas edificou. Qual o nome de cada indivíduo que entrou pelas
portas dessas igrejas, o que você fez para sanar suas dores, para dar
paz a seus corações. A quantos estendeu perdão real. Quem preferiu em
honra. Exerceu justiça com todos? Pois foi esse o erário que entreguei
em suas mãos para que você cuidasse”.
É natural que a preocupação de um pastor seja fazer a igreja que
lidera congregar no melhor templo possível. É compreensível e penso que
eu, se estivesse à frente de uma congregação, faria o mesmo. Nunca,
porém, erigiria uma construção suntuosa, prefiro um espaço onde se
consiga conhecer todos pelo nome e se pastorear bem as ovelhas, de
perto. No dia em que houvesse superlotação abriria congregações. Não
gastaria muito dinheiro na obra, para que sobrasse o suficiente que me
permitisse abençoar vidas, enviar e sustentar pelo tempo necessário
muitos missionários, ajudar os necessitados, construir talvez uma
pequena escola, editar livros que viessem a edificar e consolar vidas.
Enfim, administraria o “erário” não para que ele se tornasse uma Capela
Sistina – belíssima mas inútil para o Reino de Deus -, mas que fosse
investido para aproximar cada vez mais o verdadeiro erário de Deus do
maior erário que um homem pode ter: Jesus de Nazaré.
Nosso tesouro está no Céu, meu irmão, minha irmã. Enquanto estamos na
terra, nosso tesouro são pessoas e Deus. Que nunca nos esqueçamos que
aquilo que fazemos para os seres humanos e o nosso relacionamento com
Deus são o nosso verdadeiro foco nesta vida. Pois é única e
exclusivamente isso que nos fará sermos chamados “servos bons e fiéis”.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Maurício
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