Por Clint Archer
“Se o Super-homem fosse real, como ele nasceu em Krypton e não seria descendente de Adão, ele teria uma natureza pecaminosa?”
Já me perguntaram várias
vezes esse tipo de pergunta enquanto tentava ter uma conversa séria com
um não crente a respeito do evangelho. Alguns dos ateus que eu conheço
são muito versados em teologia e na Escritura e repudiaram o evangelho
após, dizem, pensarem bastante a respeito. Alguns expressam seu desdém
pelo evangelho por meio de enigmas elaborados para expor a inadequação
do evangelho, ou alguma aparente inconsistência em minha teologia.
Enquanto estou realmente
absorto na tarefa de apresentar o evangelho, tendo a me perder. Eu
realmente desejo que a pessoa creia e se arrependa e, por um momento,
esqueço que sua salvação não depende de mim, mas do Espírito Santo.
Assim, caio em uma armadilha que a maioria dos calvinistas equilibrados
não cairiam. Eu tento responder a charada proposta para mostrar o quão
consistente é a teologia cristã e como a Bíblia é suficiente para
responder cada questão metafísica.
O problema é que ela não
é. A Bíblia não pode responder todas as questões relacionadas à vida e à
piedade – apenas aquelas que, de fato, tem respostas.
C. S. Lewis, com seu
intelecto apologético colossal, também não poderia responder questões
que eram feitas a ele por seus pares acadêmicos, tais como “Deus pode
fazer um círculo quadrado?”. Em Anatomia de uma dor, Lewis escreve com
uma franqueza libertadora:
Pode um mortal levantar
questões que Deus é incapaz de responder? Facilmente, creio eu. Qualquer
questão absurda é irrespondível. Quantas horas cabem em uma milha?
Amarelo é quadrado ou redondo? Provavelmente, metade das perguntas que
fazemos – metade de nossos grandes problemas teológicos e metafísicos –
são assim.
Em O problema do sofrimento, ele simplesmente diz:
O absurdo continua sendo absurdo, mesmo quando estamos falando sobre Deus
A maioria dos
evangelistas em sã consciência diriam “como o Super-homem não é real,
isso não importa, então vamos voltar a falar de você, do seu pecado e de
como Jesus morreu para que você seja salvo”.
E eu faço isso agora.
Mas na primeira vez em que fui encurralado entre a cruz de ter que
desistir de uma conversa e a espada de ter de admitir em voz alta que eu
não sabia de algo, eu instintivamente tentei manobrar nesse caminho
tortuoso por meio da lógica. Sim, se o super-homem fosse real e não
tivesse um pai humano, ele não teria herdado uma natureza pecaminosa. A
razão que me leva a afirmar isso é que Jesus não teve um progenitor
humano e nasceu sem herdar a natureza pecaminosa de Adão.
Incidentalmente, eu
ainda penso que o Super-homem seria vulnerável à krptonita porque quando
Deus amaldiçoou o mundo, essa maldição abrangeu toda a criação (Romanos
8.22; veja tambémBuracos Negros, Universos-Bebês e outros Ensaios, de
Stephen Hawking, que explica como a entropia e outras coisas ruins
acontecem para estrelas boas).
Mas Paulo nunca escreveu uma epístola a Smallville,
no caso de alienígenas humanoides superpoderosos aparecerem. Na
verdade, ele instruiu o pastor Timóteo a admoestar “a certas pessoas, a
fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e
genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de
Deus, na fé” (1 Tm 1.3-4) e a rejeitar “as fábulas profanas e de velhas
caducas” (1 Tm 4.7).
Fique atento,
entretanto, porque a questão boba do Super-homem também aparece de
formas mais razoáveis ou inócuas. Você já afirmou que ninguém pode ser
salvo a não ser por acreditar em Jesus e logo em seguida foi confrontado
com essa pérola: “E os nativos do interior da Amazônia/África que nunca
ouviram o evangelho? É justo que Deus os mande para o inferno se eles
não tiveram a chance de crer?”. Isso pode soar mais sincero que
perguntar sobre alienígenas superpoderosos; mas no fim das contas, ambas
são tentativas de reconciliar a aparente incongruência entre o
evangelho e uma situação que o contesta.
Antecipar esse tipo de
resposta pode fazer com que cristão se sintam intimidados ao
evangelizar. Você talvez sinta que apenas aqueles com mestrado no
seminário ou conhecimento heurístico da apologética pressuposicional de
Van Til estão equipados para compartilharem sua fé.
Mas há uma solução muito
simples para essa ansiedade. Eu tenho visto isso funcionar em 8 a cada
10 vezes. Você simplesmente responde: “essa é uma pergunta muito boa, e
há uma resposta para ela, mas agora eu estou falando do que Jesus fez
pelo meu e pelo seu pecado”.
E então o Espírito de
Deus faz o resto e você pode botar a cabeça no travesseiro e dormir como
um calvinista, sabendo que não há nenhuma carta perdida de Paulo a
Smallville.
Fonte: Reforma 21
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