Por Igor Sabino
Durante muito tempo relutei em escrever
esse texto, não por vergonha ou por não querer reconhecer meus erros,
mas por medo de ser incompreendido e magoar pessoas que amo e respeito.
Porém, não posso mais guardar essa experiência apenas para mim. Espero
que este não seja apenas mais um desses textos de “apologética” que mais
parecem textos de fofoca gospel. Quero compartilhar minha experiência,
pois realmente me preocupo com os milhares de jovens que hoje fazem
parte do movimento “Gospel” brasileiro e que sequer conhecem o Evangelho
verdadeiro e caminham para o inferno.
Minha experiência com a cultura Gospel
começou cedo. Nasci em um lar cristão e quando ainda era uma criança o
Evangelho fez sentido para mim. Sempre gostei muito de música e comecei a
me envolver com o Gospel através dos CD’s infantis do Diante do Trono
que eram lançados anualmente. Ao me tornar pré-adolescente, comecei a
buscar alguns referenciais em minha caminhada cristã e foi aí que entrei
de vez no mundo Gospel. No início, eu ouvia apenas Diante do Trono.
Naquela época as músicas do DT ainda eram tocadas com muita frequência
nas igrejas e como a internet ainda não era muito acessada ninguém aqui
na Paraíba sabia ao certo o que acontecia na Lagoinha. Hoje vejo que
muito do que a Ana Paula Valadão prega e faz o que considero errado
teologicamente, já era praticado por ela há muito tempo atrás. Foi aí
que virei, digamos um “valadete”, embora não goste muito de usar esse
termo, pois nunca cheguei a extremos que hoje vejo os fãs do Diante do
Trono fazerem.
“Valadete” convicto
Eu sabia todas as músicas, é verdade,
mas não era desses de gastar dinheiro com produtos do DT ou ir a todos
os shows onde quer que fossem. Eu mesmo nunca fui à BH, tampouco conheço
a Lagoinha, a “meca” dos “valadetes”. Ao longo dos dez anos em que
acompanhei o DT só participei de 2 gravações e fui a 3 shows, todos aqui
no Nordeste. Hoje ao olhar para isso percebo com mais clareza o que me
levou a me envolver tanto com o Diante do Trono. Eu realmente amava a
Deus e tinha sede por Ele, ao mesmo tempo era um jovem adolescente em
busca de referenciais e deslumbrado com o mundo da música e da fama. O
que me fez buscar na Igreja aquilo que via meus colegas de escola
buscando no mundo, em seus ídolos musicais. O Diante do Trono, era na
verdade, uma grande fuga para mim, em uma série de aspectos.
Essa minha relação com o DT começou a
mudar de uns dois anos para cá. Mesmo tendo frequentado uma Igreja
Presbiteriana desde de criança só então tive contato de verdade com a
teologia reformada. Mas por estar em contexto pentecostal, não aceitei
tudo de primeira. A partir desse momento, comecei a ver o quanto a
cultura Gospel aqui no Brasil se distanciava cada vez mais do Evangelho
verdadeiro. Comecei a perceber o quanto o culto estava virando um show e
quis me distanciar disso. Fui a alguns shows do Diante do Trono durante
esse período e mesmo reconhecendo a idolatria que mantive por eles
durante tanto tempo (e me arrependendo disso), já estava apegado demais à
“adoração profética”; espontânea. Gostava daquele ambiente em que se
repetia diversas vezes as mesmas frases de uma música e de repente Deus
“começava a falar”. Palavras proféticas eram liberadas às nações e eu me
emocionava. Achava que aquilo realmente era bom.
Viciado em “Adoração Espontânea”
Foi nesse momento em que o DT se tornou
insuficiente para mim. Eu queria mais daquilo, eu queria “experimentar” a
presença de Deus. Foi aí que descobri a indústria Gospel americana.
Aprendi a falar inglês e assim como hoje, meu coração possuía um forte
desejo de ser missionário, de influenciar a sociedade com o Evangelho e
mudar o mundo! Foi exatamente isso que encontrei em movimentos como o
Jesus Culture e a Bethel Church. Só que isso nunca era suficiente para
mim. Sempre queria mais e foi aí que a “adoração” se tornou um vício
para mim. Eu baixava um novo CD em inglês de “adoração” praticamente
todo dia. Nesse período eu nunca deixei de ler a Bíblia, mas ainda assim
não conseguia enxergar o meu erro. Necessitava diariamente de um novo
hit, de uma nova canção de adoração para “experimentar” a presença de
Deus, mas quanto mais eu buscava a Deus dessa forma mais eu me
distanciava d’Ele.
Até que nessa minha busca por “adoração”
comecei a ler um livro escrito pelo Zach Neeze, um pastor da Gateway
Church dos Estados Unidos. Embora ele não seja um autor reformado, nem
defenda o princípio regulador do culto, encontrei em suas palavras
exatamente a resposta para o que eu estava vivendo. O Zach fala que o
movimento de “adoração” está cada vez voltado para nós mesmos, para os
nossos gostos e preferências e é por isso que muitas músicas
aparentemente voltadas para Deus, tem o intuito de satisfazer apenas o
homem. É aí que nos tornamos idólatras de nós mesmos. Após terminar a
leitura, percebi que muitas coisas estavam erradas em meu coração, foi
aí que me lembrei de uma outra pregação do Zach Neeze aqui no Brasil, em
um congresso do Diante do Trono no ano passado.
Cheio de Adoração, mas Distante do Trono
Essa pregação se encontra no Youtube e
nela o Zach se utiliza de uma mesa cheia de objetos aparentemente
lícitos para explicar o seu conceito de adoração com base atitude de
Jesus ao entrar no templo e virar a mesa dos vendedores no templo.
Segundo o Zach, adoração é virar as mesas dos nossos corações e tirar
tudo o que nos afasta de Deus, até as coisas lícitas, até a “adoração”,
em meu caso. Depois disso comecei a pedir a Deus que me mostrasse o que
me afastava d’Ele e como eu poderia virar as mesas do meu coração.
Confesso que não foi fácil descobrir isso, mas agradeço a Deus por ter
me respondido de uma forma que eu nunca poderia imaginar. Lembro-me de
alguns dias depois ao me aconselhar com meu pastor sobre outros
problemas que vinha enfrentando, algo aparentemente sem nenhuma ligação
com isso, o primeiro conselho que ele me deu foi: pare de ouvir as
músicas que você tem ouvido, até mesmo as inglês. Desde então, um longo
processo se iniciou em meu coração e aos poucos fui percebendo o quanto
estava Distante do Trono, mas agradeço a Deus por ser fiel em completar a
obra que Ele mesmo começou em mim!
Um culto cada vez mais feminizado
Por fim, gostaria apenas de fazer alguns
esclarecimentos com relação à Ana Paula Valadão e aos chamados
“valadetes”. Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que em momento
algum julgo o coração da Ana Paula ou de qualquer outra pessoa do DT. Ao
contrário, creio realmente que eles são crentes fiéis, mas que
infelizmente tem trilhado um caminho que embora lhes pareçam bom, não é.
Como diz Provérbios 16.2, “Todos os caminhos do homem lhes parecem
puros, mas o Senhor avalia o espírito.” Digo isso com base em minha
própria experiência acima relatada. Vemos um exemplo claro disso em 2
Samuel 6, quando Davi ao levar a Arca. Embora achasse que estava
adorando a Deus de forma correta não estava e trouxe morte ao invés de
vida para aqueles que estavam ao seu redor. Infelizmente é isso que tem
acontecido com o Diante do Trono.
Milhares de jovens tem seguido a Ana
Paula Valadão não para adorar a Deus, mas sim para adorar a ela. A Ana
infelizmente não passa de mais uma celebridade gospel, venerada por
milhares de jovens. Muitos dos quais não tem referenciais fortes de
masculinidade e acabam contribuindo para um culto cada vez mais
feminizado e distante dos referenciais bíblicos. Não é à toa que tantos
gays seguem o Diante do Trono…
Pelo fim da Cultura Gospel
Faço das palavras do Rodolfo Abrantes na
Lagoinha as minhas, e realmente oro a Deus pelo fim da cultura Gospel,
pelo fim do mercado Gospel, pelo fim dos cantores Gospel. Oro para que o
Evangelho verdadeiro seja pregado no Brasil. Oro para que o show acabe e
que Deus seja cultuado da forma que Lhe apraz, não satisfazendo nossas
vontades. Oro para que os jovens evangélicos realmente conheçam o
Evangelho e se deixem transformar por Ele. Oro para que a “adoração”
deixe de ser um ídolo em nossas igrejas. Oro para que outros jovens
assim como eu, reconheçam o seu pecado e o deixem.
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