É incrível como alguns
grupos por falta de conhecimento da história eclesiástica se escoram em
Constantino para suas posições a respeito do cristianismo. Estava lendo
um comentário de um judeu que afirmou que foi Constantino o “inventor”
do cristianismo. Já ouvi coisa semelhante de outras pessoas que
representam outros grupos … sempre Contantino leva a fama, mas será que
isso é verdade? Venha comigo há 2000 anos atrás para aprendermos se ele
foi de fato o responsável pela formação do cristianismo.
Nossa história não
começa em Constantino, mas começa no primeiro século, em uma manhã em um
cenáculo em Jerusalém onde 120 pessoas estavam reunidas, homens e
mulheres que haviam experimentado algo tremendo e sobrenatural, tinham
andado com um homem sem igual, alguém que não ensinava como os fariseus e
doutores da Lei, alguém que falava com autoridade, exortava com firmeza
e falava com uma ternura que era impossível não ser cativado. Um homem
que abria os olhos dos cegos, fez paralíticos andarem, restaurou a
dignidade das mulheres e até fez mortos voltarem a vida. As pessoas os
seguiam, o apertavam, exprimiam, queriam ser alimentadas, queriam ser
curadas, filas e filas de doentes eram trazidos aos seus pés e até os
ventos o obedeciam e os demônios se submetiam. Seus ensinamentos foram
sem igual, amar o inimigo, dar a outra face, orar pelos que nos
perseguem, perder pra ganhar, morrer pra viver… seu nome é Jesus de
Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo!
Após sua morte,
ressurreição e ascensão, os discípulos estavam reunidos no cenáculo em
Jerusalém, na verdade 120 pessoas estavam ali e a profecia de Joel (Jl
2:28) e a promessa de Jesus (Jo 14:16-18) foram cumpridas, o Espírito
Santo, o outro Paracleto, o Consolador, veio sobre eles e ali temos o
início da igreja!
Aqui já temos um ponto
que contradiz nosso jovem judeu que continua colocando a fama em
Constantino. A igreja não foi inventada por aquele Imperador Romano, a
igreja teve seu início no Pentecoste com a descida do Espírito Santo.
Logo após o derramar do Espírito houve a pregação do Evangelho e 3.000
almas entram no Reino de Deus (At 2:41). Mais uma pregação de Pedro e
outros 5.000 adentram (At 4:4), a igreja crescia (At 2:47), mesmo sob
perseguição, chegando a expandir em todo império (At 17:6).
Constantino (274-327
d.C.) já imperador nos territórios que hoje conhecemos como França e
Inglaterra, em 312d.C. expandiu seu reinado no Oeste quando venceu a
batalha de Milvia contra seu inimigo Maxentius. Ele teve uma visão de
uma cruz no céu com as seguintes palavras em Latim: “com esse sinal
vencerás” (Earle Cairns, O Cristianismo Através do Séculos, p.100). Ele
atribuiu sua vitória ao Deus cristão e conduziu o Império Romano pela
primeira vez à uma política pro-cristã. Em 313 d.C. juntamente com o
imperador Licinius (naquela época haviam 2 imperadores romanos, um no
oeste e outro no leste do império) formularam o Edito de Milão que
introduziu uma política de tolerância ao Cristianismo. Somente em 380
d.C., o imperador Teodósio I baniu o paganismo e elevou o cristianismo
ao status de religião oficial do império (Jeffrey Bingham, Pocket
history of the Church, p.45).
Percebe aqui que não foi
nem Constantino que formalizou o cristianismo como religião imperial? O
edito de Milão foi uma tolerância, tanto que o próprio Constantino após
se tornar o imperador supremo nunca se colocou sob a autoridade dos
professores cristãos e bispos, ele se considerava “o bispo dos bispos,” o
supremo pontífice mas ainda permitia o paganismo no império tanto que
ele praticava sua própria religião e diante da igreja ele não tinha sido
batizado ainda, o sendo no final de sua vida somente. Teodósio I foi
quem tornou proibido todo culto pagão e o cristianismo então se tornou a
religião oficial do Império Romano (Justo Gonzalez, The History of
Christianity, vol1, pp 137-41).
É claro que Constantino
não foi fundador ou idealizador do cristianismo. É verdade que ele
participou de alguns pontos importantes de nossa história como por
exemplo a convocação do Concílio de Nicéia (325d.C.) e a oficialização
imperial do domingo como dia de adoração, algo que também não foi
instituído por ele, mas somente formalizado, uma vez que o cristãos por
causa do dia da ressurreição de Jesus (Mc 16:9) já se reuniam no
primeiro dia da semana para adoração e partir do pão (At 20:7; 1Co 16:2;
Jo 20:19; Ap 1:10 cf.Mc16:9) , contrariando a proposta adventista que
foi Constantino que instituiu o domingo como dia santo em lugar do
sábado.
Se Constantino foi o
suposto “fundador” do Cristianismo, o que dizer dos cristãos dos 3
primeiros séculos? São 300 anos de distância entre a descida do Espírito
Santo até Constantino. Esse período é conhecido como a Patrística da
igreja, a era dos mártires, seguida da era dos apologistas; muita coisa
se desenvolveu no seio da igreja nesses 300 anos muito antes de
Constantino aparecer no cenário:
ERA DOS PAIS DA IGREJA – O PERÍODO PÓS-APOSTÓLICO (100-150 D.C.)
Os apóstolos morreram e
outro grupo de cristãos começaram a liderar a igreja e a escrever com o
mesmo objetivo dos apóstolos, para corrigir, edificar, exortar e
ensinar. Esse grupo é chamado de pais apostólicos, ou pais da igreja.
Temos na parte ocidental
do império homens como Clemente de Roma e Hermas e no leste do império
Inácio de Antioquia, Policarpo, Papias. Esse homens continuaram firmes
na teologia apostólica da autoridade das Escrituras, da salvação somente
através de Cristo, trinitarianismo, divindade de Jesus, eclesiologia,
etc…
Nesse período tempos
também a era dos mártires, que se estendeu até Constantino, onde os
cristãos experimentaram a morte por causa de sua fé. Não se prostraram
diante ao panteão de deuses romanos, nem ao culto ao imperador, mas se
submetiam e adoravam somente a Jesus, sendo então acusados de ateísmo,
incesto, canibalismo e foram condenados a morte sendo jogados vivos aos
animais no Coliseu ou queimados vivos como verdadeiras tochas humanas,
dentre outros.
Chega a ser uma ofensa
pensar que o cristianismo começou com Constantino, sendo que muitos
cristãos deram suas vidas por Cristo, enfrentaram as feras pela sua fé, o
cristianismo estava vivo e atuante de uma forma que nós aqui no oeste
nunca compreenderemos claramente.
ERA DOS APOLOGISTAS (150-300 D.C.)
No oeste gigantes na fé
como Hipólito, Irineu e Tertuliano, no leste Justino Mártir, Clemente de
Alexadria, Orígenes e Atenágoras. O desenvolvimento teológico ainda
continuava através das escolas alexandrina e antioquiana, mas ainda
timidamente por causa da perseguição que estava a todo vapor
principalmente sob imperador Diocleciano e mesmo com a defesa de Justino
Mártir e Atenágoras, que tentavam explicar o cristianismo aos romanos,
eles continuavam sendo acusados e condenados a morte, sendo o bode
expiatório pelos maus tempos que império vivia. A igreja, além da
perseguição, lutava contra heresias que a sondava, Ebionismo, Docetismo,
Gnosticismo, Arianismo, Marcianismo, Apolinarianismo, dentre outros
então esse período foi denominado a era dos apologistas, pois houve a
defesa da fé contra os ataques heréticos.
Podemos rapidamente
perceber que os 300 anos do cristianismo que antecedem Constantino,
foram cenário do nascimento, crescimento e desenvolvimento da igreja.
Constantino não formou ou instituiu cristianismo apenas o tolerou, e
preparou o caminho para que se tornasse a religião do império trazendo
enormes benefício e prejuízos para a fé cristã, mas isso é assunto para
um outro momento.
Respondendo ao jovem
judeu que afirmou que Jesus era apenas um judeu e que o cristianismo foi
uma invenção de Constantino, temos a história como testemunha de que
Jesus sim foi o fundador do cristianismo e a igreja se iniciou com a
descida do Espírito Santo no Pentecostes e se desenvolveu tremendamente
nos 300 primeiros anos de história até chegar Constantino, então pare de
dar a fama a ele, pare de “culpá-lo,” pois ele foi apenas uma peça em
toda a nossa história. Uma peça polêmica, importante, mas somente uma
peça.
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