Por John MacArthur
Esta não é, de modo
algum, a primeira vez que a guerra pela verdade se introduziu na igreja.
Isso tem acontecido em todas as principais épocas da história da
igreja. Batalhas pela verdade têm rugido na comunidade cristã desde os
tempos dos apóstolos, quando a igreja estava apenas começando. Na
realidade, o relato das Escrituras indica que os falsos mestres na
igreja logo se tornaram um problema significativo e amplamente difundido
aonde quer que o evangelho chegasse. Quase todas as principais
epístolas do Novo Testamento abordam esse problema, de uma maneira ou de
outra. O apóstolo Paulo estava sempre envolvido numa batalha contra as
mentiras dos "falsos apóstolos, obreiros fraudulentos", que se
transformavam em apóstolos de Cristo (2 Coríntios 11.13). Paulo disse
que isso era de se esperar. Afinal de contas, essa é uma das estratégias
prediletas do Maligno: "E não é de admirar, porque o próprio Satanás se
transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios
ministros se transformam em ministros de justiça" (w. 14-15).
Seria uma ingenuidade
deliberada negar que isso pode acontecer em nossos tempos. De fato, isso
está acontecendo em grande escala. O tempo presente não é favorável a
que os cristãos flertem com o espírito da época. Não podemos ser
apáticos quanto à verdade que Deus nos confiou. Nosso dever é guarda-la,
proclamá-la e transmiti-la à geração seguinte (1 Timóteo 6.20-21). Nós,
que amamos a Cristo e cremos na verdade incorporada nos ensinos dEle,
precisamos ter plena consciência da re-alidade da batalha que ruge em
nosso redor. Devemos cumprir nosso papel na guerra pela verdade, que já
dura muitas eras. Temos a obrigação sagrada de participar da batalha e
lutar pela fé.
Em sentido restrito,
a ideia motriz por detrás do movimento da Igreja Emergente está correta:
o clima atual do pós-modernismo representa realmente uma vitrine
maravilhosa de oportunidades para a igreja de Jesus Cristo. A arrogância
que dominava a era moderna está em suas agonias de morte. O mundo, na
sua maior parte, foi apanhado em desilusão e confusão. As pessoas se
sentem inseguras a respeito de quase tudo e não sabem que rumo tomar em
busca da verdade.
Entretanto, a pior
estratégia para ministrar o evangelho num clima assim é os cristãos
imitarem a incerteza ou ecoarem o cinismo da perspectiva pós-moderna — e
arrastarem a Bíblia e o evangelho para dentro dessa perspectiva. Em vez
disso, precisamos afirmar, de modo contrário ao espírito desta época,
que Deus falou com a maior clareza e autoridade, de modo definitivo,
através de seu Filho (Hebreus 1.1-2). E temos, nas Escrituras, o
registro infalível dessa mensagem (2 Pedro 1.19-21).
O pós-modernismo é
simplesmente a expressão mais atual da incredulidade mundana. Seu valor
essencial — uma ambivalência dúbia para com a verdade — não passa de
ceticismo destilado em sua essência pura. No pós-modernismo, não existe
nada virtuoso nem genuinamente humilde. Ele é uma rebelião arrogante
contra a revelação divina.
De fato, a hesitação do
pós-modernismo no tocante à verdade é a antítese exata da confiança
ousada que, segundo as Escrituras, é o direito de família de todo crente
(Efésios 3.12). Essa segurança é operada pelo próprio Espírito de Deus
naqueles que crêem (1 Tes-salonicenses 1.5). Precisamos valorizar essa
segurança e não temer confrontar o mundo com ela.
A mensagem do evangelho,
em todos os fatos que a constituem, é uma proclamação clara,
específica, confiante e autorizada de que Jesus é Senhor e de que Ele dá
vida eterna e abundante a todos os que crêem. Nós, que conhecemos
verdadeiramente a Cristo e recebemos aquela dádiva da vida eterna,
também recebemos da parte dEle uma comissão clara e específica de
transmitir com ousadia a mensagem do evangelho, como embaixadores dEle.
Se não demonstrarmos igualmente clareza e nitidez em nossa proclamação
da mensagem, não seremos bons embaixadores.
Mas não somos meros
embaixadores. Somos, ao mesmo tempo, soldados comissionados a guerrear
em favor da defesa e disseminação da verdade, face aos ataques
constantes contra a verdade. Somos embaixadores com uma mensagem de
boas-novas para as pessoas que andam em trevas e vivem na região da
sombra da morte (Isaías 9.2). E somos soldados — com ordens para
destruir fortalezas ideológicas e derrubar as mentiras e enganos
engendrados pelas forças do mal (2 Coríntios 10.3-5; 2 Timóteo 2.2-4).
Observe atentamente:
nossa tarefa como embaixadores é levar as boas-novas às pessoas. Nossa
missão como soldados é destruir idéias falsas. Devemos manter esses
objetivos no seu devido lugar; não temos o direito de declarar guerra
contra as próprias pessoas, nem de entrar em relacionamentos
diplomáticos com idéias anti-cristãs. Nossa guerra não é contra a carne e
o sangue (Efésios 6.12); nosso dever como embaixadores não nos permite
transigir com qualquer tipo de filosofia humana, engano religioso ou
outro tipo de mentira nem a nos alinhar com alguma delas (Colossenses
2.8).
Se parece difícil manter
essas duas tarefas em equilíbrio e na perspectiva adequada, isso
acontece porque elas são realmente difíceis.
Judas certamente
entendeu isso. O Espírito Santo o inspirou a escrever a sua breve
epístola a pessoas que estavam lutando com essas mesmas questões.
Contudo, ele as exortou a batalharem diligentemente pela fé, contra toda
falsidade, ao mesmo tempo que faziam tudo que lhes era possível para
livrarem almas da destruição: arrebatando-as "do fogo... detestando até a
roupa contaminada pela carne" (Judas 23).
Somos, portanto,
embaixadores e soldados; procuramos alcançar os pecadores com a verdade,
ao mesmo tempo que envidamos todos os esforços para destruir as
mentiras e outras formas de mal que os mantêm na escravidão mortífera.
Esse é um resumo perfeito do dever de todo cristão na guerra pela
verdade.
Martinho Lutero, aquele
nobre soldado do evangelho, lançou este desafio diante dos cristãos de
todas as gerações que o sucederam, ao dizer:
Se, com a voz mais
elevada e a exposição mais nítida, eu professar toda porção da verdade
de Deus, mas não confessar exatamente o pormenor que o mundo e o Diabo
estão atacando naquele momento, não estou confessando a Cristo, ainda
que esteja professando-0 com ousadia. Onde a batalha ruge, ali é provada
a lealdade do soldado. E ficar firme em todos os demais pontos do campo
de batalha é mera fuga e vergonha, se o soldado falhar naquele
pormenor.
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