![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8Rpw8GxhnkuXq0s5pTYqU93KiUTdNv5tgxoY5R9ZAaeqO8uoFrCxga6tOi5520qf0xIxLVWYF3GKsLLekEHEmADYp_RoHos9ehYS3raXT4QTVn7NKtcIu5-qlgtfURw_Z4x723YR_Ew/s400/poder-da-palavra-de-deus.jpg)
Por: R. K. McGregor Wright
Talvez
uma explicação calvinista do significado de responsabilidade ajude a
clarear o problema. Devemos começar com uma definição:
responsabilidade é simplesmente um sinônimo de “prestar contas”, e
significa que devemos responder diante de Deus, o juiz, por nossas
ações. Isso quer dizer que, se Deus nos chama para tratar de uma de
nossas ações, ficamos moralmente obrigados a responder por ela diante
de Deus. Somos “responsáveis” diante de Deus. Embora a Escritura não
use o termo abstrato responsabilidade, o fato de que seremos
finalmente chamados à juízo é frequentemente encontrado em toda a
Escritura. A Bíblia baseia a responsabilidade em quatro coisas.
Primeira, somos responsáveis diante de Deus porque ele é o Criador e nós somos criaturas.
Deus tem liberdade de chamar qualquer elemento de sua criação para
responder diante dele a qualquer hora — é simplesmente sua prerrogativa
como Senhor Soberano. O barro está sujeito ao Oleiro simplesmente
porque ele é o Oleiro. Em outras palavras, nossa responsabilidade está
baseada em nossa ontologia, ou em nosso ser, como criaturas.
Esta é a mensagem de Jó, quando Deus lhe responde do meio do
redemoinho (Jó 3 8.1 -4), e de Isaías, que contém uma longa polêmica
contra aqueles que se esquecem do Criador a fim de adorar a criatura
(40-57). Paulo sumariza os resultados dessa irresponsabilidade moral
em Romanos 1. Ele empresta de Isaías (29.16; 45.9; 64.8), de Jeremias
(18.1 -6) a imagem do Oleiro e do barro que ele usa em Romanos 9.21.
No final, todos nós compareceremos perante o tribunal de Deus (Rm
14.10). No final, “todo joelho se dobrará” (Is 45.23).
Segunda,
somos responsáveis diante de Deus porque ele é o ponto de referência
moral para o que é certo e errado, e não nós próprios. Isso é o que é
vinculado ao nosso reconhecimento de Deus como santo. Nossa
responsabilidade diante de Deus é uma necessidade ética, por causa de
nossa necessidade de um padrão fora de nós mesmos. Jó percebeu que como
Deus é soberano sobre sua criação, ele também é justo permanecendo
contra a pecaminosidade de Jó (40.1 -5; 42.1-6). Na verdade, Jó não
havia feito nada para merecer o tratamento que recebeu de Deus. Ele
havia sido mais reto do que seus amigos “confortadores”, e seu
entendimento da situação foi mais teologicamente correto do que as
explicações especulativas que eles ofereceram para os sofrimentos de Jó
(1.22; 42.7). Mas o próprio Deus é o padrão moral tanto para ele
próprio como para nós, como Eliú mostrou no capítulo 34. Portanto, Jó
tinha de submeter-se inteiramente ao que Deus fez, tenha ele entendido a
razão de tudo ou não. Nem o próprio Jó descobre o que o leitor do
livro sabe — que Jó é realmente peça de um jogo bem maior, na grande
disputa entre Deus e Satanás (1.6-12; 2.1-7). Deus não está obrigado a
dizer-nos todas as coisas. Antes, o pequeno conhecimento que temos é
um ato de misericórdia.
Terceira, somos responsáveis diante de Deus pelo conhecimento que
temos. Todos os pecadores pecam (mais ou menos) contra a luz e a
verdade. Ninguém é destituído totalmente da luz da consciência, e
seremos julgados de acordo com a luz que temos (Rm 2.12-16). Aqueles que
têm menos conhecimento serão julgados menos severamente do que
aqueles que pecam com mais luz. Daniel adverte o rei Belsazar de que
ele conhecia mais coisas a respeito dos tratos anteriores com Deus do
que seu pai Nabucodonosor: “Tu, Belsazar, que és seu filho, não
humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto” (Dn 5.22). Em
Lucas, o servo ignorante que desobedeceu é punido menos severamente do
que o servo que conhecia a vontade de seu senhor e, ainda assim, não
fez a sua vontade (Lc 12.42-48). Assim, há graus de responsabilidade
neste sentido. Podemos chamar isso de nossa responsabilidade epistemológica.
Somos responsáveis pelo que conhecemos — poderia ser dito que há uma
mordomia da verdade pela qual deveremos responder finalmente diante de
Deus.
Quarto, somos responsáveis
porque o propósito da criação é a glória de Deus (Is 43.7; Cl 1.16; Ap
4.11), e somos responsáveis como mordomos das bênçãos de Deus para
cumprir o fim ou o propósito de Deus em criar-nos no mundo. Deus ama
sua criação e finalmente “destruirá aqueles que destroem a terra” (Ap
11.18). Podemos nos referir a esta responsabilidade como sendo a
responsabilidade teleológica, porque ela diz respeito à nossa tarefa como servos no desígnio da criação, que é a de trazer glória a Deus.
Parece,
então, que longe de basear a responsabilidade humana em alguma teoria
do livre-arbítrio inato no ser humano, a Bíblia baseia-a nas
implicações da distinção entre o Criador e a criatura, e as relaciona
com as quatro áreas clássicas da ontologia, ética, epistemologia e
teleologia. Em outras palavras, por toda a Escritura, a
responsabilidade é um reflexo de nossa relação com Deus como Criador,
como a origem do significado moral, como nosso ponto de referência para
a verdade revelada e como aquele que dá propósito e direção últimos à
sua criação. E se Deus é, de fato, o ponto de referência máximo para o
significado nas quatro áreas do ser, do conhecer, da ética e do
propósito, onde poderia a criatura permanecer para elaborar uma crítica
racional de qualquer coisa que Deus possa fazer? Esse é o ponto
filosófico em que se baseia o desafio de Paulo em Romanos 9.20: “Quem
és tu, ó homem, para discutires com Deus?” Não há simplesmente nenhum
ponto de partida disponível para um ser finito num universo finito.
Para uma criatura, todos os pontos são relativos. Somente por ouvir
primeiro a revelação de Deus pode um ser finito ter qualquer ponto de
referência fixo. Este tópico será levantado novamente no capítulo 11,
onde trataremos da questão da localização da referência suprema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário