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Por Vincent Cheung
Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. (2 Timóteo 1.6)
Timóteo
recebeu “o dom de Deus” quando Paulo impôs suas mãos sobre ele. Isso
refere-se ao mesmo incidente mencionado em 1 Timóteo 4.14, onde é dito
que um corpo de presbíteros impôs as mãos sobre Timóteo (em cujo caso
Paulo teria sido um dos presbíteros), ou a um evento separado no qual
apenas Paulo impôs as mãos sobre ele. Não existe nenhuma evidência
bíblica para sugerir que a imposição de mãos, mesmo quando dons
espirituais são conferidos, está reservada para a ordenação formal
praticada hoje. Todavia, certo teólogo iguala o que Paulo descreve aqui
com a ordenação formal de nossas denominações. Então, ele observa que a
ordenação não é um reconhecimento de dons já presentes, mas uma
concessão de dons não possuídos anteriormente. E, adiciona, esse dom é a
autoridade para pregar.
Todos os três pontos são errados ou enganosos.
Primeiro,
há evidência bíblica insuficiente para estabelecer a teoria de
ordenação afirmada pelas denominações hoje. De fato, há evidência
bíblica insuficiente para estabelecer as próprias denominações formais.
Havia ordem na igreja, crentes trabalhando juntos em acordo, e
conferências de presbíteros para discutir questões doutrinárias, mas
tudo isso não se traduz numa instituição elaborada governada por
concílios regionais e nacionais. Se um grupo de crentes decide se unir
dessa maneira para fornecer apoio e prestação de contas mútuas como uma
questão de vantagem e conveniência prática, não me oponho a isso.
Contudo, seria errado eles desprezarem, criticarem ou de alguma forma
pensar menos de cristãos que agem de acordo com os princípios bíblicos,
mas diferem deles em detalhes não definidos ou restringidos por
princípios bíblicos. Os princípios bíblicos para o governo da igreja
são ricos, claros e inflexíveis, mas permitem muita liberdade nos
detalhes, e simplesmente não requerem uma estrutura denominacional, ou
muitas das teorias e práticas assumidas hoje. Se você impõe seus
próprios princípios de governo eclesiástico sobre outros quando a
Escritura não ensina ou os requer, então você está seguindo o exemplo
dos fariseus, no fato de você alegar proteger a ordem prescrita da
igreja, quando está na verdade protegendo tradições inventadas por
homens.
Segundo,
é enganoso dizer que a ordenação não é um reconhecimento de dons já
presentes, mas uma concessão de dons não possuídos anteriormente. Essa é
uma inferência muito ampla a partir de um versículo limitado e
específico. De acordo com a Bíblia, Deus concede dons espirituais de
diferentes formas. Algumas vezes eles são dados diretamente, sem
nenhuma agência humana. Outras vezes são dados em resposta à oração.
Por exemplo, Paulo diz que a pessoa que fala em línguas deve orar para
que possa interpretá-las. Então, algumas vezes eles são dados por meio
de agentes humanos, como quando os presbíteros e Paulo impuseram suas
mãos sobre Timóteo. O que chamamos ordenação é um reconhecimento
público do chamado. O chamado já existe, quer a igreja o reconheça ou
não. Os dons espirituais sempre seguem o chamado. Eles apoiam o chamado
da pessoa, e o capacitam a cumpri-lo. Mas os dons nem sempre são
concedidos através da ordenação, nem o reconhecimento do chamado pela
igreja é sempre necessário. E se Deus chama alguém para repreender a
igreja ou se opor a uma denominação? Quem o ordenou então? Ou isso
nunca acontece? Qual é a evidência bíblica que torna nossas
denominações e seu reconhecimento formal algo necessário? Não
existe nenhum princípio rígido de ordenação na Bíblia. Isso é uma
questão de ordem eclesiástica. Algumas vezes Deus a usa, outras não.
Deus ainda é Deus. Quer a política da nossa igreja permita Deus ser Deus
ou não, ele ainda pode fazer o que quiser.
Teólogos
frequentemente afirmam doutrinas que restringem as práticas corretas
àquelas já afirmadas por suas denominações. Eles começam a partir da
Bíblia, então adicionam suas tradições a ela, e o resultado são as
políticas denominacionais, que eles afirmam ser a pura doutrina
escriturística e criticam aqueles que discordam. Mas o ensino da Bíblia
deixa espaço para a soberania de Deus, muita variedade, e a liberdade
para adaptar. Os cristãos poderiam aceitar a ordem eclesiástica
prescrita por suas tradições como uma questão de conveniência prática,
mas uma vez que se torna mais que isso – uma vez que se torna uma
doutrina formal que define o certo e o errado – eles deveriam se
rebelar contra ela. Que ninguém te roube da liberdade que Cristo
comprou para você. Ai da denominação cuja rebelião contra o evangelho
está na ordem e política da igreja.
Terceiro,
quanto à autoridade para pregar, isso pelo menos precisa ser
esclarecido. A Bíblia ensina que todos os cristãos são sacerdotes em
Cristo (Apocalipse 1.6). E visto que todos somos sacerdotes, a
implicação irresistível é que todos os cristãos podem pregar e
administrar a ceia e o batismo. A coisa curiosa é que nem todas as
igrejas e denominações que admitem o primeiro (que todos os crentes são
sacerdotes) irão ao mesmo tempo reconhecer o último (que todos podem
pregar e administrar as ordenanças sagradas). Isso acontece porque as
pessoas nessas igrejas e denominações são hipócritas. Eles dizem o que
dizem para distingui-los dos católicos, mas então praticam a mesma
coisa em suas congregações. O Novo Testamento de fato ensina que deve
haver líderes dentro das congregações, e como uma questão de ordem
eclesiástica, eles são geralmente aqueles que pregam e administram a
ceia e o batismo. Isso é para manter a excelência na atividade da
igreja e para impedir o caos e a confusão. Contudo, outros cristãos não
estão impedidos dessas coisas como uma questão de doutrina e
princípio.
Deus
é maior que nossas tradições e nossas denominações. Muitíssimas
pessoas dizem que creem nisso, mas negam em suas doutrinas e práticas.
Se Deus quer ordenar a alguém, ele na verdade não precisa de nenhuma
aprovação ou reconhecimento humano. Ele frequentemente arranja o
reconhecimento humano para manter a boa ordem, mas nada na Escritura
indica que isso deva acontecer ou que deva acontecer de
determinada forma. Cristo é o único mediador entre Deus e os homens.
Não devemos permitir algo em nossa política eclesiástica que pareça
negar isso.
Se
Deus quer entregar suas palavras ou suas bênçãos por meio de homens,
isso é direito seu. Mas se Deus deseja entregar essas diretamente, não
cabe à igreja proibi-lo. A igreja é uma comunidade de pessoas individualmente redimidas
e chamadas por Deus. Ele arranja pessoas para crerem no evangelho pelo
ministério de agentes humanos, tal como a pregação de um pastor ou
membro de uma igreja particular. Ele faz isso por inúmeras razões, tais
como a ordem estabelecida, a comunidade e os relacionamentos entre os
homens, e para exercitar e recompensar aqueles que pregam. Mas Deus não
precisa de agentes humanos mesmo quando diz respeito à pregação do
evangelho, e não devemos ressentir ou rejeitar alguém se ele recebe
algo da parte de Deus sem nossa mediação.
Se
você teme que isso levaria ao caos, então isso mostra que você adotou
grandemente a mentalidade dos fariseus e católicos. Essa é a
mentalidade que pensa que precisamos usar tradições humanas para
reforçar os preceitos divinos, e isso removendo-se a liberdade que a
revelação divina permite, incluindo a liberdade que Deus reserva para
si. Se alguém se converte à fé cristã ou possui um ministério à parte
do nosso controle, sua fé e ministério ainda estão sujeitos à palavra
de Deus, e podem ser testadas pela palavra de Deus. E essa é a única
base legítima para testar sua conversão ou chamado ao ministério. Ele
não tem nenhuma obrigação de responder ou se submeter a tradições
humanas que não prometeu cumprir. E se essas tradições violam a palavra
de Deus, ele tem obrigação de romper com elas.
Pode
ser verdade que a igreja está em tempos difíceis. Muitas pessoas estão
se afastando das congregações locais, e as falsas doutrinas abundam.
Contudo, a resposta não é uma teologia de controle por meio de
tradições feitas por homens, mas uma teologia de liberdade em Cristo.
Que Cristo atraia o povo que ele escolheu e chamou! Quanto aos
cristãos, eles são responsáveis perante Cristo, não as tradições
humanas. Portanto, desafie-as quando apropriado e necessário. É
frequentemente aceitável se submeter a costumes humanos em prol do amor
e da ordem, mas não porque seja requerido de você como uma questão de
princípio.
Marcos
9 nos diz que um homem estava expulsando demônios em nome de Jesus,
mas os discípulos disseram-lhe para parar de fazê-lo por não ser um
deles. Jesus respondeu: “Não o impeçam. Ninguém que faça um milagre em
meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra
nós está a nosso favor”. Quem ordenou a essa pessoa? Por mãos de quem
Deus conferiu dons espirituais a esse homem? Nem mesmo Jesus na Terra
fez isso. Mas Deus no céu o fez, e aparentemente sem qualquer agência
ou aprovação humana. Como observa um estudioso do Novo Testamento, o
próprio Jesus não teve sanção humana oficial para o seu ministério. As
tradições humanas são frequentemente tão perigosas quanto as ameaças à
ordem que elas procuram eliminar. E eles frequentemente se afastam da
ortodoxia que alegam proteger, ao ponto que até mesmo ordenariam o
assassinato do próprio Filho de Deus. Todos os cristãos devem ser
livres para servir a Deus, sob as diretrizes estritas, mas algumas
vezes amplas, da Palavra de Deus, e não das restrições de tradições
humanas.
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