Por Fabio Campos
Texto base: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. – João 3.3 ARA
Alguém já disse que “a
diferença entre Deus e o homem não é moral, mas ontológica, pois pecado
não é o que faço, mas o que eu sou”. Quando estudamos a história da
igreja percebemos o quanto, aos poucos, a eclésia foi dando mais ênfase
na “tradição elaborada por homens”, através de um rigor ascético, do que
propriamente no ensino dos Profetas e Apóstolo, os quais trataram a
conversão com base no “novo nascimento” e do “novo coração”.
Impor compulsoriamente
as regras morais foi um artifício muito usado no decorrer dos séculos.
Longas listas do que “pode” ou “não pode”; purificação através de ritos;
purgação de pecados através da negação dos prazeres legítimos; tudo era
utilizado para avaliar quem de fato era salvo ou não. A teologia cristã
foi rarefeita por diversas vezes por conta disso. Alguns ensinos tinham
por objetivo coagir as pessoas a não pecarem. Esta era a forma
utilizada pela liderança eclesiástica para refrear os impulsos
pecaminosos. Com isso muitos foram se distanciando do ensino
escriturístico do “novo nascimento”, enveredando-se para os “preceitos e
doutrinas de homens”. Como bem disse o Apóstolo: “Tais coisas, com
efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa
humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor nenhum contra a
sensualidade” (Cl 2.23 ARA). Infelizmente muitas denominações têm
afastado as pessoas por conta dos “usos e costumes” a qual erradamente
se referem por “doutrina”.
Quando analisamos o
Ensino bíblico [a verdadeira e única Doutrina] a respeito do pecado e da
salvação pela graça em Jesus Cristo, não é difícil de entender que Deus
se compraz “em um coração contrito e quebrantando” ao invés de
“sacrifícios feitos pelas mãos dos homens” (Sl 51.16-17). Muito mais
importante do que sacrificar é obedecer, pois não é o exterior quem
contamina o homem. É do coração que procede todo tipo de pecado. Somente
um novo coração pode obedecer, pois a carne não está sujeita a lei de
Deus, nem mesmo pode estar (Rm 8.7). O cristianismo não se trata de um
sistema moral, mas de um novo nascimento. Não é aquilo que é ou deixa de
ser lícito; mas do que convém. Não é algo tangível a ensinar: “não
toque nisso”; “não proves aquilo”; “não toques aquiloutro”. Transcende
isto tudo! O Reino é Paz e Alegria no Espírito Santo.
Mesmo correndo grandes
riscos prefiro não usar da persuasão humana na pregação para coagir
pessoas no que devem ou não fazer. Apenas exponho a Palavra e deixo a
tarefa de convencer para o Espírito Santo. A pregação não é a exposição
moral do que pode ou não pode. A pregação é luz nas trevas, simples e
exclusivamente para conduzir o homem a examinar-se a si mesmo, e
descobrir pelo crivo da Verdade, as intenções reais do seu coração
enganoso e perverso. Não vai adiantar abrigar “vinho novo” em “odres
velhos”. Ambos se perderão. O vinho novo precisa ser posto em odres
novos. O Cristianismo é a mudança daquilo em que você se alegra. Posso
me alegrar no meu moralismo e estar na condição de hipócrita - honrando a
Deus apenas com os lábios - mas com um coração longe dEle.
Nossa ministração será
mais eficaz no dia que ousarmos abrir mão de ensinos morais tentando
guiar as pessoas através de cabrestos. A verdadeira conversão passa pelo
teste da liberdade. Tenho a oportunidade de fazer algo, mas conheci
algo muito melhor e que traz mais satisfação ao meu coração: a saber, “a
comunhão com Deus”. A confissão de todo Cristão genuíno: “Para onde
iremos nós se só Tu tens palavras de vida eterna”. O contrário também é
verdade com o sujeito que ainda nasceu de novo. Ele se reprime e não
peca a princípio por temor aos homens e para cumprir o check-list de
“santarrão”. Certamente, hora menos horas, a carne vai ceder!, e a
demanda reprimida de pecados que havia naquele coração tornará seu
estado muito pior do que o primeiro.
Ser bom moralmente para o
cristão não é algo que exige esforço. É como os ramos de uma árvore;
produz os frutos sem perceber. Todavia, é a raiz que sustenta os ramos. A
figueira não pode produzir azeitonas e a videira produzir figos. Um
“cristão” mau-caráter não é um cristão. Somos salvos pela graça,
mediante a fé. A fé se evidencia pelas obras. Logo pelos frutos seremos
conhecidos.
Não escaparemos do que
disse Jesus: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de
Deus”. Os “usos e costumes” e a santidade que teve o crivo elaborado
pela tradição humana é válida para o julgamento dos homens, mas diante
de Deus, é “trapo de imundícia”. Pois o Senhor não vê como o homem vê. O
homem analisa o exterior; o Senhor prova o coração. O reino de
Deus não abriga gente de boa conduta, mas apenas aqueles que nasceram
da água e do Espírito através de Jesus Cristo. Como bem disse John
Wesley:
“Uma pessoa pode ir à
igreja duas vezes por dia, participar da ceia do Senhor, orar em
particular o máximo que puder, assistir a todos os cultos e ouvir muitos
sermões, ler todos os livros que existem sobre Cristo. Mas ainda assim
tem que nascer de novo”.
Soli Deo Gloria!
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