Por Neto Curvina
“ROGO-VOS, POIS,
IRMÃOS, PELAS MISERICÓRDIAS DE DEUS, QUE APRESENTEIS O VOSSO CORPO POR
SACRIFÍCIO VIVO, SANTO E AGRADÁVEL A DEUS, QUE É O VOSSO CULTO RACIONAL” (ROMANOS 12:1)
O termo ‘racional’
remete a raciocínio. Parece bastante óbvio. Assim como também, por
associação, se entende que somente os seres humanos podem apresentar tal
culto, visto que somente eles possuem raciocínio. Os anjos também
possuem raciocínio, porém, por natureza não possuem corpo, visto que são
espíritos (Hebreus 1:14). Paulo está falando aqui exclusivamente à
igreja.
O vocábulo
correspondente na versão original o grego “logikên latreian”, ou seja,
‘culto racional’, também pode ser entendido, sem prejuízo, como ‘culto
lógico’. De fato, há lógica na racionalidade e vice-versa. Quem acha que
essas coisas trazem prejuízo à fé, precisa rever seus conceitos.
O que Paulo está querendo dizer à igreja de Cristo?
Por suas colocações
vemos que há uma preocupação do apóstolo em mostrar aos irmãos a
necessidade de que se realmente entenda a natureza de tudo isso, no
caso, a igreja.
Por que estou aqui? Quem
me trouxe aqui? O que vim fazer aqui? O que estão me ensinando é
verdade? São questionamento que todos os crentes deveriam se fazer até
que encontrassem respostas racionais para todos eles.
O contrário de culto
racional é culto irracional. Ou seja, algo que é feito instintivamente,
sem critérios ou razões que justifiquem os procedimentos adotados. Em um
culto assim é praticamente impossível se seguir o que está escrito:
“Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (I Coríntios 14:40) . É
impossível que haja qualquer um dos dois componentes pedidos sem que se
entenda a natureza de cada um. E é preciso racionalidade para que isso
aconteça. Por isso Deus nos fez diferentes das demais criaturas, ou
seja, nos criou à sua imagem e semelhança: para que o adorássemos em
espírito e em verdade, conscientes de nosso ato e de nossa missão de
adoradores.
O reino de Deus é um
reino de decência e ordem. Não há espaço para improvisos de última hora.
A construção da arca e do tabernáculo comprovam a mensagem de
organização que Deus quer nos ensinar. Até na salvação haverá ordem (I
Coríntios 15:23).
Esse é o padrão que deve ser perseguido pela igreja de Cristo. Deus se agrada de uma obra organizada.
Em dias atuais podemos
identificar como grande adversário desse padrão, o excesso de
emocionalismo que tem se alastrado no meio cristão. A busca incessante
pelo êxtase e pela experiência sobrenatural extrabíblica, a incorporação
de ‘anexos’ doutrinários à Palavra de Deus, como se esta não fosse
suficiente e os modismos importados recheados de técnicas mirabolantes
de quebra de maldições e encontros obscuros são os componentes deste fim
de séc. XX e início de séc. XXI. O que não é uma surpresa, Paulo já
alertava que essas coisas fatalmente aconteceriam (I Timóteo 4:1).
Nesse caldeirão
doutrinário sem consistência – já que não se sustentam biblicamente – as
pessoas estão se dirigindo às igrejas sem saber exatamente o que vão
fazer por sua espiritualidade. Vão dançar, cantar, aplaudir, gritar,
enfim, sem entrar no mérito dessas questões, quase sempre falta o
elemento principal: a Palavra de Deus. Entram e saem alegres e exaustas.
O problema é: entenderam a mensagem? A palavra que foi pregada edificou
suas vidas? Deus falou com elas através de seu evangelho? Se à maioria
dessas perguntas as respostas forem algo como “acho que sim”, algo está
fora do lugar.
Cultos de estudo são
sempre vistos como ‘enfadonhos’ e ‘entendiantes’. Já pensou, passar
quase uma hora apenas consultando referências na Bíblia? Que chato, não?
Agora observe Neemias 8:3 “E leu no livro, diante da praça, que está
fronteira à Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante
homens e mulheres e os que podiam entender; e todo o povo tinha os
ouvidos atentos ao Livro da Lei.” Estudo bíblico das seis da manhã até o
meio-dia. Após isso, inclinaram-se, e adoraram o Senhor com o rosto em
terra. Que lindo, não?
Uma proposta dessas nos
dias de hoje seria impensável. Mas se o trabalho for uma celebração com
um nome da moda, aí somente um dia inteiro é pouco.
A questão é que não há
culto racional sem o entendimento da Palavra. Os ‘avivalistas’ de
plantão trocam a bíblia por apostilas preparadas especialmente para
direcionar as pessoas para a conclusão que lhes interessa. Seguem o
exemplo das testemunhas de Jeová. Alguém já viu um deles evangelizando
com uma bíblia em punho? Não, só vão às ruas com exemplares de
‘sentinela’ e ‘despertai’ ou, quando muito, com seus livretos
particulares.
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