Por Maurício Zágari
Gostaria de fazer uma
pergunta objetiva e pediria que você respondesse a si mesmo com toda
sinceridade: você sente uma aversão inveterada e absoluta por alguém, ou
mesmo raiva, rancor, ou antipatia? Pense com calma. Lembre-se dos
indivíduos que você conhece e por quem nutre um desses sentimentos.
Imagine na sua mente o rosto dessas pessoas. Já fez isso? Se não fez,
por favor, não prossiga a leitura antes de fazer. Traga à lembrança
aqueles por quem sente – repito – aversão inveterada e absoluta, raiva,
rancor, ou antipatia. Pois bem, agora que você fez esse exercício,
permita-me dar uma informação: “Aversão inveterada e absoluta; raiva;
rancor; antipatia” são, no dicionário, exatamente o que significa… ódio.
Portanto, se você conseguiu pensar em pessoas por quem tem um ou mais
desses sentimentos, você odeia.
Sim, nós odiamos até
mesmo alguns irmãos em Cristo. Na esmagadora maioria das vezes, temos
sempre uma boa justificativa para essa postura. Para começar, dizemos
que não é ódio, mas zelo, precaução, necessidade de manter a distância…
seja lá o modo que inventemos para explicar nosso ódio, ele continua
sendo ódio. E isso precisa ser trabalhado. Por quê? Veja o que diz o
apóstolo João: “Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até
agora, está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e
nele não há nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está
nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as
trevas lhe cegaram os olhos” (1Jo 2.9-11).
Que coisa séria e
triste… Percebeu o que a Bíblia está dizendo? Que cristãos (sim,
cristãos, repare que João se refere ao ódio a um “irmão”) que odeiam
estão cegos e caminham em trevas. Essa é uma condição lamentável para um
filho de Deus. Justamente porque as Escrituras contrapõem esse ódio ao
amor – que é o maior mandamento. A conclusão é que, se nutrimos o
sentimento de ódio por uma ou mais pessoas, estamos caminhando fora da
vontade divina e nos identificando mais com as trevas do que com a luz.
Bem, e o que fazer?
Muitas vezes esse ódio foi fruto de feridas muito profundas que outras
pessoas nos causaram e é muito difícil administrar o ressentimento que
esses machucados na alma provocaram. Ninguém odeia alguém de graça, o
ódio é sempre consequência de algo ruim que fizeram contra nós ou contra
terceiros e que nos provocou revolta. Nessas horas, temos de combater o
ódio com a arma mais magnífica que Deus nós deu: o perdão. Perdoar a
ofensa que nos levou a odiar. Pois o exercício do perdão é uma das
maiores demonstrações de um coração que ama.
Deus amou o mundo de tal
maneira que se fez como um de nós para morrer e ressuscitar e, assim,
nos conceder perdão. Isso foi possível porque não há espaço no coração
de Deus para o ódio. Por ter e ser tanto amor, o Senhor pede ao Pai o
perdão dos pecados de seus executores. Só um coração transbordante de
amor perdoa a mulher adúltera, Zaqueu, Mateus e outros indivíduos que se
fizeram odiosos. Como eu e você.
Assisti a um
documentário que mostra a história de uma jovem estuprada e assassinada
pelo próprio cunhado. Ao final, a mãe dela, compreensivelmente devastada
e arrasada emocionalmente, diz em entrevista que jamais perdoará o
criminoso. “Eu odeio esse homem, não posso nem olhar para ele”, disse
ela. Fiquei triste. Pois aquela senhora, vítima de tão terrível
tragédia, não percebeu que a falta de perdão a fazia vítima de mais uma
tragédia: a do ódio. O assassino andou em trevas e cometeu tão brutal
pecado. E aquela pobre mãe acabou sendo arrastada para as trevas ao
cultivar o ódio no seu coração. Oro a Deus que um dia ela seja capaz de
perdoar o agressor, para que veja a luz e viva nela.
Sei que pode soar até
mesmo cruel o que vou dizer, mas analise, por favor, se não está de
acordo com a Bíblia: ao dizer que odeia o assassino, aquela pobre mãe
equivale-se a ele. Ouça a Palavra de Deus: “Todo aquele que odeia a seu
irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida
eterna permanente em si” (1Jo 3.15).Perdoar ou odiar? Independentemente
de o perdão ou o ódio se dirigirem a um cristão ou não, temos diante de
nós os dois caminhos. Aquela mãe fez sua escolha. Eu e você também temos
de fazer a nossa.
É duro demais pensar em
perdoar quem nos causou males tão grandes. Mas que outra alternativa
temos? Se não o fazemos nos distanciamos do Crucificado e nos tornamos
como os crucificadores. Como filhos da Luz, devemos andar nela, orar por
quem nos fez mal, abençoar quem nos amaldiçoa, nadar na contramão de
nossos próprios sentimentos. Só a negação de nós mesmos e a incorporação
de Cristo é capaz de nos forjar à imagem do Ser perfeito.
Em um coração cristão só
há espaço para poucos tipos de ódio, em imitação ao que Deus odeia. O
ódio ao pecado. O ódio ao divórcio. O ódio à iniquidade. O ódio à vida
neste mundo. O ódio à soberba.
E o ódio ao ódio.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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