Por Joe Holland
Em dezembro de 2013,
presenciamos dois eventos de enorme impacto – o primeiro foi o
aniversário do tiroteio de Sandy Hook e o segundo, a morte de Nelson
Mandela. Ambos eventos, posicionados em um contexto de morte, são
opostos um ao outro. Um foi uma triste memória de um mundo quebrado pela
doença mental e violência. O outro foi o reconhecimento de uma vida em
prol da dignidade humana. E é nessa tensão entre a dignidade e a
fragilidade que todo humano nesse planeta vive, tentando encontrar um
sentido em tudo isso.
Que é o Homem?
O salmo 8 representa uma
ilha de esperança no Velho Testamento e atesta essa tensão tão real. É
uma canção de Davi em que o autor reflete acerca da dignidade humana em
face da fragilidade da humanidade. Os versos 4 a 8 dizem:
“Que é o homem, que
dele te lembres e o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no
entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o
coroaste. Deste-lhe
domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste:
ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; as aves do céu, e
os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares”.
Note algumas coisas que esse Salmo ensina:
Apesar da fragilidade do
homem e seu tamanho minúsculo se comparado aos pores do sol e extensões
das montanhas, Deus o deu dignidade. Deus está atento ao homem.
Sobre todas as
criaturas, Deus escolheu o homem para carregar a imago dei, a imagem de
Deus. O Senhor coroou o homem com glória e com honra.
O homem foi designado
por Deus para administrar a criação. O propósito de Deus para a criação
foi de que todas as coisas estariam submetidas à humanidade.
Essas são três promessas
maravilhosas sobre a capacidade e o plano para a humanidade. Mas, ao
olharmos para o mundo e para a história humana, encontramos essas três
coisas se concretizando?
Um investigação CSI: Mundo
Ao consideramos a
humanidade no laboratório forense de nossos corações e mentes,
encontramos uma história bem diferente acontecendo. Apesar das promessas
de dignidade, a fragilidade parece constantemente ganhar o dia.
Tentações abundam. O pecado flui excessivamente. As notícias nos
apontam repetitivamente para assassinatos e corrupção, enquanto nossas
vidas diárias produzem montanhas de descontentamento, desapontamento e
descrença. Por favor, note que eu não estou pretendendo ser macabro.
Estou, entretanto, procurando o realismo que apenas o Cristianismo pode
dar. O autor de Hebreus segue essa linha de pensamento em Hebreus 2.8,
em que considera o salmo 8 e diz:
“Todas as coisas
sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as
coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos
todas as coisas a ele sujeitas”
O autor de Hebreus
obviamente tinha uma propensão para o eufemismo. Nós ainda não vimos
nenhum homem como um mordomo totalmente livre dominando sobre a criação
como um representante da imago de Deus. Na verdade, vemos o oposto.
Pecamos, e o pecado facilmente nos envolve (Hb 12.1). O que queremos
fazer além da nossa capacidade e as coisas que odiamos por muitas vezes
aparecem como nossa experiência habitual (Rm 7). Nos encontramos
ansiando sem resposta por uma dignidade definitiva e pela liberdade da
fragilidade. Mas a intenção de Deus nunca foi para que o homem caído
retirasse a si mesmo de sua própria corrupção. Dignidade e fragilidade
encontrariam reconciliação de outra forma bem mais radical e custosa.
Nós vemos Jesus
O autor de Hebreus leva
seu processo de pensamento teológico a uma conclusão ao nos dizer que,
como não vemos a mudança que procuramos em nossas próprias vidas, vemos
sim a Ele:
“Vemos, todavia,
aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus,
por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para
que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hb 2.9).
Deus soluciona a tensão
do salmo 8 de uma forma totalmente inesperada. O Deus da criação
reconcilia a dignidade e fragilidade humanas na encarnação de seu filho,
Jesus Cristo. Na edição do “Comentário do uso do Novo Testamento no
Velho Testamento” de DA Carson e GK Beale, lemos:
“Cristo, então, em sua
solidariedade para com os seres humanos, foi capaz de trazer a
realização completa da intenção do salmo… Ao adicionar humanidade à sua
deidade através da encarnação, Cristo se juntou a nós em nossa
fragilidade, nossa pequenez frente ao escopo da vasta criação. Ele se
moveu de sua atmosfera pré-encarnada de poder e autoridade que empunha
ao criar o mundo e assumiu um lugar menor na ordem criada. A fragilidade
consequente desse movimento foi finalizada na morte do Filho por todos
(Hb 2:8-9). Ainda assim, por causa do sofrimento e da morte, ele foi
“coroado em glória e honra”, nas palavras do salmo. A dignidade dos
humanos, garantida a Adão em seu lugar no mundo, vem ao completo
cumprimento e expressão no Filho enquanto ele é feito Senhor de todas as
coisas, todas as coisas sendo colocadas debaixo de seus pés”.
Jesus, como
verdadeiramente Deus e homem, é também verdadeiramente digno e frágil.
Ele é tanto Deus quando a imago de Deus. Ao provar a morte por aqueles
que colocariam a sua fé nele, ele traça um caminho para que pecadores
façam parte da intenção original de Deus para a humanidade, conforme
expressa no salmo 8. Se a queda de Adão é o grande evento desumanizador
na história humana, então, a encarnação do segundo Adão e sua
subsequente morte e ressurreição é o re-humanizador daqueles que
encontram salvação nele.
O que fazer
1. Admita a fragilidade da experiência humana.
Discussões próximas ao Natal são um bom momento para se conectar com as
vidas machucadas e quebradas a nossa volta. Apesar da sua aparência
comemorativa, feriados festivos são algumas das épocas mais penosas para
um grande segmento da nossa sociedade. A maioria das pessoas está
procurando desesperadamente por alguém com quem passa ser transparente
acerca de suas dificuldades. O cristianismo nos permite dizer
francamente: “as coisas (ainda) não estão da maneira como deveriam ser”.
2. Admita o que você vê quando você se olha.
Como o autor de Hebreus diz, se estivéssemos trabalhando com evidências
forenses, ao olharmos para nós mesmos, não veríamos a dignidade que
desejamos. Não vemos a mudança pela qual oramos. Certamente, pela
providência e ao longo do tempo, nós experimentamos a santificação da
graça de Deus. Mas, quando olhamos para nós mesmo, sempre percebemos uma
falta.
3. Olhe para Jesus.
Esse é o maior ponto do autor de Hebreus. Pare de olhar para si mesmo
para completar o que diz o salmo 8. Deus queria que Jesus fizesse isso.
Apenas ele, em sua encarnação, abarca os requisitos necessários para se
alcançar a salvação. Apenas ele, em sua fragilidade, pôde testar a morte
e apenas ele foi digno de conquistá-la.
4. Viva dessa verdade.
Se nós podemos, pela graça de Deus, começar a olhar menos para nós
mesmos e mais para Jesus, então começaremos a mudar. Começamos a viver
uma vida conforme o evangelho (Gálatas 2.14) ao sermos transformados na
imagem daquele homem coroado com glória e honra, ainda Jesus (2 Co
3.18).
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