Por Antognoni Misael
Queria falar um pouco sobre a Graça de Deus e a nossa infeliz tradição legalista religiosa.
A primeira coisa que venho afirmar com
plena convicção é que os nossos compartimentos relacionados a tradição,
fé e graça parecem ainda estarem confusos, obsoletos, e necessitam sim,
entrar na pauta de uma reformalização urgente.
Por que será que é bem mais fácil demarcar cercas na vida do cristão do que ensiná-lo a liberdade em Cristo Jesus? “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permaneceis, pois, firmes, e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. (Gálatas 5.1)
Enquanto a liberdade de Cristo está
disponível a todos que desejam recebê-la, há muitos agentes do diabo
escondendo as cartas de alforrias para seus fieis e os submetendo a um
novo jugo de escravidão.
A tradição pesa em nosso desfavor. Vejam só:
- quem nunca ouviu há décadas atrás que
televisão era a uma janela do inferno dentro de casa; que mulher de
brinco e calça jeans era uma espécie de Jezabel?
- que, crente que usasse bermuda poderia ficar caso Cristo voltasse?
- que jogar futebol era uma atividade profana e que os anjos poderiam ver aquilo e tentar fazer o mesmo no céu?
- que ouvir canção secular era uma porta de entrada para o capeta?
- que ir a praia e curtir o verão era uma prática carnal?
- que tomar uma taça de vinho ou um shop gelado com os amigos era um costume dos escarnecedores?
- que tocar rock no louvor era um culto ao diabo?
- que galinha pintadinha é coisa do capiroto?
E por aí vai tantas e tantas restrições…
Onde estão estes demarcadores hoje? Será se não estão fabricando novas listas de proibições?
Note que por muito tempo se pregou (e
infelizmente ainda se prega) o Evangelho de condenação, e não das Boas
Novas; se ensinou mais o que não podemos fazer do que o que pode ser
salutar e viável para o bom desenvolvimento da vida do cristão,
principalmente em seu aspecto humano, social e cultural. Neste sentido,
diga-me se não é mais confortável reconstruir regras e demonizar coisas,
do que descobrir os panos da religião e proclamar o Evangelho da Cruz?
É bárbaro notar como Lei retorna em formatos modernos!
O perigo de toda essa inversão é que ao
invés de se estar instalando o Reino de Deus na terra, esteja se
fincando mais uma bandeira religiosa em solo azul anil.
Precisamos repensar muita coisa e a
partir dos nossos cenários locais (igreja e comunidades), proclamarmos a
Graça, a Cruz, e mais do que isso, lutarmos pela verdadeira liberdade
conquistada em Cristo.
Chega de listas! Chega de Lei disfarçada
de novas recomendações, quase sempre impossíveis de serem cumpridas em
sua totalidade! Chega de líderes idiotas e crentes idiotizados!
Não estou abrindo a porta para a
libertinagem cristã. Estou defendendo que é muito mais importante as
orientações para o bom uso da ’chave da vida’ do que a construção da
porta para o legalismo. Há riscos de que haja más interpretações? Sim
claro! Sempre haverá riscos. Mas, não tenhamos dúvida, bem melhor são as
quedas no andaime da Graça do que a construção do prédio da
religiosidade.
“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?
De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” Rm 6:1-2
Certa vez, S. Lewis Johnson escreveu um artigo intitulado “A paralisia do legalismo”, neste texto ele põe o dedo na ferida:
“Um dos problemas
mais sérios que atinge a igreja ortodoxa cristã hoje é a questão do
legalismo. Um dos mais sérios problemas que atingia a igreja nos dias de
Paulo era o problema do legalismo. Em ambos os momentos ele é o mesmo. O
legalismo arranca do crente a alegria do Senhor e, justamente
com a alegria do Senhor, sai também seu poder para uma adoração vital e
um culto vibrante. Nada é deixado de lado, a não ser uma
declaração limitada, sombria, melancólica e apática. A verdade é traída e
o glorioso nome do Senhor torna-se sinônimo de um soturno
desmancha-prazeres. O cristão debaixo da lei é uma horrível paródia do original.”
Fujamos dos assassinos da Graça. Eles são perigosíssimos.
“E isto por causa
dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a
nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em
servidão” Gl 2:4
Eles adoram expiar a vida alheia, saber sobre o que fazemos, por onde passamos, o que comemos, com quem andamos…
Aos que circunstancialmente vestem-se
desta capa, tenhamos paciência, e com amor e brandura falemos sobre a
mais bela carta de alforria escrita por Jesus Cristo naquela Cruz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário