Esforce-se por encher
sua mente e sua consciência com uma percepção clara e constante da
culpa, do perigo e do mal do desejo pecaminoso que está perturbando
você.
1. A culpa do seu desejo pecaminoso
O cristão precisa se
recusar a ser enganado pelos argumentos enganosos da sua natureza
pecaminosa. Ela sempre procurará apresentar desculpas para diminuir a
gravidade da sua culpa. Está sempre pronta a raciocinar da seguinte
maneira:
"Talvez isto seja mal,
mas há coisas que são piores! Outros santos não apenas têm pensado
nessas coisas como as têm praticado..."
Mediante centenas de
maneiras diferentes o pecado procurará impedir que a mente elabore uma
compreensão correta da sua culpa. Como os profetas nos disseram: "A
sensualidade, o vinho e o mosto tiram o entendimento" (Os. 4:11).
Da mesma maneira como
estes desejos pecaminosos têm pleno êxito em produzir isso nos
não-cristãos, assim também, até certo ponto, terão sucesso ao agirem nos
cristãos.
Em Provérbios,
encontramos um quadro triste de um jovem que foi seduzido por uma
prostituta. Este jovem carecia de "juízo" (Prov. 7:7). Qual era
exatamente o "juízo" de que carecia? A resposta é que não sabia que
entregar-se a sua lascívia iria lhe "custar a vida" (Prov. 7:23) - não
levou em conta a culpa do mal no qual estava envolvido.
Se quisermos mortificar o
pecado, precisamos perceber plenamente que ele procurará prejudicar
nossa percepção da culpa envolvida nele. Precisaremos, então, fixar uma
compreensão correta dessa culpa em nossas mentes. Há duas coisas que
devemos ter em mente que nos ajudarão nesse sentido:
a) O pecado de um cristão é muito mais grave que o de um incrédulo.
A graça de Deus que está
agindo no cristão enfraquecerá o poder do pecado que não é mais seu
mestre como, infelizmente, continua sendo dos incrédulos (veja Rom.
6:14,16). Ao mesmo tempo, contudo, a culpa do pecado num cristão é pior
pelo fato de que o cristão peca contra a graça!
"Que diremos, pois?
Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo
nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?"
(Rom. 6:1,2).
Neste texto a ênfase
está na palavra "nós" (subentendida). Como é que nós faremos isso? Sem
dúvida somos piores do que qualquer outro se praticarmos o pecado.
Pecamos contra o amor de Deus. Pecamos contra a misericórdia de Deus.
Pecamos a despeito da promessa de ajuda para derrotarmos o pecado. Muito
mais poderia ser dito, todavia deixem que essa consideração final fique
gravada nas suas mentes.
No coração de cada
cristão há muito mais mal e culpa no pecado que permanece lá, do que
haveria em uma igual medida de pecado num coração que não tem a graça de
Deus.
b) Pense em como é que Deus vê o seu pecado
Quando Deus contempla as
aspirações por santidade que a graça tem produzido no coração de
qualquer um dos Seus servos, Ele vê mais beleza e excelência nelas do
que vê nas mais gloriosas obras dos homens destituídos da graça. Sim,
Deus até mesmo vê mais beleza e excelência nestas aspirações internas,
do que vê na maioria dos seus atos externos. Isso é porque há quase
sempre uma maior mistura de pecado nas nossas ações exteriores do que
nas aspirações e desejos por santidade de um coração com a graça de
Deus.
Por outro lado, Deus vê
grande mal no desejo pecaminoso de um cristão. Ele vê maior mal nesse
desejo pecaminoso, do que vê nos atos visíveis e notórios dos ímpios.
Ele vê ainda maior mal nele do que vê em muitos pecados externos nos
quais os santos possam cair. Por quê? E porque Deus vê que há mais
disposição interna contra o pecado propriamente dito, e geralmente há
mais humilhação pelo pecado. É por isso que Cristo trata da decadência
espiritual nos Seus filhos, indo à raiz e expondo seu verdadeiro estado.
"Eu conheço..." (Apoc. 3:15).
Leitor, você precisa
deixar que estas e outras considera¬ções semelhantes o levem a uma clara
consciência da culpa pelo desejo pecaminoso que habita em você. Não
subestime nem procure desvencilhar-se da sua culpa nisto, ou seu desejo
pecaminoso se fortalecerá e prevalecerá sem que você o perceba.
2. O perigo do seu desejo pecaminoso
Há muitos perigos a serem considerados, mas nós nos limitaremos a quatro deles:
a) O perigo de sermos endurecidos
Considere as
advertências de Hebreus 3:12,13. Nestas palavras o escritor solenemente
admoesta seus leitores a que façam tudo que estiver ao seu alcance para
evitar que sejam "endurecidos pelo engano do pecado". O endurecimento
mencionado aqui é a apostasia total, um endurecimento que "afasta do
Deus vivo". Qualquer desejo pecaminoso que se deixe sem mortificar opera
tal endurecimento e consegue fazer pelo menos algum progresso nessa
direção. A pessoa que está lendo estas palavras pode ter sido certa vez
muito terna para com Deus e freqüentemente percebido o mover--se do seu
coração pela Sua Palavra. Agora, no entanto, eis que as coisas mudaram e
ela pode negligenciar os deveres de orar, de ler e de ouvir a Palavra
de Deus, com pouca preocu¬pação. Não é suficiente que seu coração trema
ao pensar em se endurecer, a tal ponto que você pense levianamente do
pecado, da maravilha da graça de Deus, da misericórdia de Deus, do
precioso sangue de Cristo, da lei de Deus, do céu e do inferno. Leitor,
tome cuidado. Isso é o que um desejo pecaminoso que não foi mortificado
fará, se for deixado sem ser examinado.
b) O perigo de alguma grande punição temporal
Embora Deus nunca vá
abandonar completamente os Seus filhos por deixarem de mortificar seus
desejos pecaminosos, talvez Ele os castigue, causando-lhes dor e
tristeza (veja Sal. 89:30-33). Pense em Davi e em todas as tribulações
que teve porque deixou de mortificar os desejos pecaminosos por
Bate-Seba. Não significaria nada para você que seu fracasso em
mortificar os desejos pecaminosos na sua vida possa trazer sobre você
castigos dolorosos que podem continuar com você até o túmulo? Se não tem
receio de tal coisa, então há uma boa razão para temer que seu coração
já esteja endurecido.
c) O perigo de perder a paz e a força pelo resto da vida
A paz com Deus e a força
para andar diante de Deus são essenciais para a vida espiritual da
alma. Sem gozar destas coisas em certa medida, viver é morrer. Quando
uma pessoa persiste em deixar de mortificar os seus desejos pecaminosos,
mais cedo ou mais tarde será privada de ambas essas bênçãos. Que paz ou
que força pode desfrutar uma alma quando Deus diz: "Por causa da
indignidade da sua cobiça eu me indignei e feri o povo; escondi a face, e
indignei-me..." (como Ele fez em Is. 57:17)? Ainda noutra ocasião Deus
diz: "Irei, e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados"
(Os. 5:15). E, quando Deus age assim, o que será da paz deles e de sua
força?
Pense, leitor, seria o
caso de que em breve, talvez, você não mais veja a face de Deus com paz?
Talvez amanhã você não seja capaz de orar, de ler, de ouvir ou de
realizar quaisquer deveres com pelo menos um pouco de gozo, vida ou
vigor. Talvez Deus lance suas setas em você, e o encha de angústia, de
temores e de perplexidades. Considere isto um pouco, que embora Deus não
o destrua totalmente, Ele poderá lançá--lo em um estado no qual você
sinta que isto é o que acontecerá com você. Não deixe de lado esta
consideração até que sua alma trema dentro de você.
d) O perigo da destruição eterna
Há tal conexão entre a
persistência no pecado e a destruição eterna que enquanto uma pessoa
estiver sob o poder do pecado, ela precisa ser advertida sobre a
destruição e a separação eterna de Deus. O fato de Deus ter resolvido
livrar alguns da permanência no pecado (a fim de salvá-los da
destruição) não muda o outro fato (igualmente verdadeiro) de que Deus
não livrará da destruição quem permanecer no pecado. A regra de Deus é
muito clara. "Aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o
que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção..."
(Gál. 6:7,8). Quanto mais claramente reconhecermos a realidade de que os
desejos pecaminosos que não foram mortificados levarão a destruição
eterna, mais claramente veremos o perigo de permitir que qualquer desejo
pecaminoso na nossa vida permaneça sem ser mortificado. O desejo
pecaminoso é um inimigo que nos destruirá se antes não o destruirmos.
Que isso penetre fundo na sua alma. Não se contente com a suposição de
que já foi suficientemente fundo enquanto não tremer ao pensar em ter um
inimigo vivendo dentro de você, que o destruirá se antes você não o
destruir.
3. Os males da sua lascívia
O perigo se preocupa com
futuras possibilidades mas o mal com as atuais. Há muitos males
relacionados com um desejo pecaminoso que não tenha sido mortificado,
porém focalizaremos nossa atenção apenas em três deles:
a) Entristece o santo e bendito Espírito de Deus
O grande privilégio dos
cristãos é que o Espírito de Deus vive dentro deles. Por causa disso, os
cristãos são especial-mente exortados em Efésios 4:25-29 a se absterem
de uma variedade de desejos pecaminosos e motivados a fazer isso com as
seguintes palavras:
"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção" (Ef. 4:30).
Assim como uma pessoa
terna e amorosa se entristece com a falta de bondade de um amigo, assim
também o Espírito Santo é entristecido quando um cristão permite que
desejos pecaminosos que não foram mortificados vivam no seu coração. O
Espírito Santo escolheu nossos corações como Sua habitação. Ele veio
fazer por nós todo o bem que desejamos. O Espírito Santo Se entristece
muito quando um cristão compartilha seu coração, que Ele veio possuir,
com seus inimigos (nossos desejos pecaminosos), os próprios inimigos que
Ele veio ajudar a destruir.
Ó, cristão, considere
quem e o que você é; considere quem é o Espírito que você está
entristecendo, o que Ele fez por você e o que Ele pretende fazer por
você. Envergonhe--se de cada desejo pecaminoso que não mortificou e que
dessa maneira permitiu que maculasse o Seu templo.
b) O Senhor Jesus Cristo é ferido novamente pelo desejo pecaminoso que não foi mortificado.
Quando o desejo
pecaminoso permanece sem ser mortificado no coração de um cristão, a
nova criação de Cristo naquele coração é ferida, Seu amor é frustrado,
Seu inimigo gratificado. Assim como um abandono total de Cristo pelo
engano do pecado é estar "crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e
expondo-o à ignomínia" (Heb. 6:6), do mesmo modo, abrigarmos pecados
que Ele veio para destruir O fere e O entristece.
c) Rouba a utilidade de um cristão
Desejos pecaminosos que
não tenham sido mortificados geralmente produzem uma doença espiritual
na vida da pessoa. Seu testemunho raramente recebe a bênção de Deus.
Muitos cristãos permitem que desejos pecaminosos que destroem a alma
vivam nos seus corações. Esses jazem como vermes à raiz da sua
obediência, e a corroem e a enfraquecem dia após dia. Todas as graças,
todas as maneiras e todos os meios pelos quais as graças possam ser
exercidas e aperfeiçoadas, são impedidos desta maneira; e Deus mesmo
nega a este homem qualquer sucesso.
Conclusão
Nunca se esqueça da
culpa, do perigo e da malignidade do pecado. Pense muito nestas coisas.
Permita que elas encham sua mente até que levem seu coração a tremer.
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