Por Magno Paganelli
A percepção do judeu
sobre a santificação passa pelo caráter exterior daquilo que pertence ou
que foi consagrado ao Senhor dentro dos seus termos – a Terra
Prometida, Israel e seu local de culto – Jerusalém. No Novo Testamento, o
povo de Deus não está circunscrito a um lugar fixo, a uma terra ou
região. Deus chamou pessoas de todos os povos e nações e fez dos
chamados um só povo, independentemente de cor, raça, cultura e posição
social. Mas há uma diferença entre o povo de Deus no AT e no NT: a
localização geográfica.
Agora os salvos estão
“entre” as nações as quais antes não poderia sequer haver qualquer
relação. Isso demonstra uma mudança radical no modo de interpretar
diversos conceitos, especialmente o conceito de espiritualidade, e
interferirá no modo como se desenvolve a própria santificação.
É possível notar a
dificuldade em ter uma terra santa, um monte santo, um tabernáculo
santo, um templo santo. A solução divina foi mais radical: em vez de
habitar no meio do Seu povo (ou entre o povo), Deus habitaria “dentro do
seu povo” a fim de realizar a santificação:
“E eu pedirei ao Pai,
e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o
Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o
conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em
vocês.” (Jo 14.16,17)
O Antigo Testamento fala muitas vezes da santidade de Deus; o Novo Testamento fala muitas vezes da santificação do crente.
No Novo Testamento a
ideia da santificação é igualmente relevante e mais desenvolvida e a sua
abordagem é feita de maneira diferente. Jesus não fala muito em
santificação, mas o código de moral e ética encontrado no Sermão da
Montanha nada mais é do que o retrato daquilo que Deus Pai espera que
seus filhos sejam: santos e éticos.
No entanto, quando Jesus
fez a oração sacerdotal em João 17 ele reafirmou que santificar-se é
separar-se, e que a santificação dos cristãos não acontecerá como a de
Abraão, fora do alcance dos pecadores – sai da tua terra –, pois agora
haverá discípulos seus em toda parte por toda a terra:
“Não rogo que os
tires do mundo (ek tou kosmos), mas que os protejas do Maligno. Eles não
são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os na verdade; a tua
palavra é a verdade.” (Jo 17.15-17)
A santificação referida
por Jesus ocorre no contato com a Palavra de Deus, e esta Palavra é
conhecida por meio da pregação do Evangelho. Não há outro meio pelo qual
possamos ter contato com os pensamentos de Deus, com seus conselhos e
com seus conceitos, especialmente o da santidade e a ideia da
santificação senão por meio da pregação do Evangelho. Dependendo dos
temas que um pregador habitualmente desenvolve, dependendo dos temas que
uma igreja habitualmente adota, jamais haverá santificação nos
ouvintes.
Uma igreja ou pregador
repetitivo, insistente em determinados pontos ou ideologias, doutrinas
ou filosofias, jamais produzirão uma mensagem que leve seus ouvintes a
serem despertados para a importância e necessidade de santificação. Não é
de hoje que temos notícias sobre líderes de ministérios que proíbem
seus obreiros de falarem contra o pecado, por entenderem que mensagens
com esse teor “incomodam e afugentam” os ouvintes. Sua filosofia de
trabalho diz que os membros devem se sentir à vontade, devem sentir-se
“bem”. As pessoas não vão à igreja para serem incomodadas, mas para
encontrar encorajamento. Se ouvirem sobre seus pecados elas não
retornarão.
Dessa forma, a palavra
pecado, quando não é abolida, deve ser amenizada com termos como
“desvios de comportamento” ou “conduta inadequada”. Os conceitos
bíblicos são substituídos por categorias da psicologia, da psicanálise,
da sociologia, da estatística e até por conceitos corporativos. De
acordo com o discurso proferido, jamais alcançarão eficazmente os
doentes que procuram um médico, mas pessoas doentes que preferem um
placebo ou mesmo um chazinho, mas jamais uma cirurgia definitiva.
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