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Por João Calvino
Daqui nos desponta, e
nitidamente nos emerge aos olhos, a face da Igreja. Pois onde quer que
vemos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos os
sacramentos serem administrados segundo a instituição de Cristo, aí de
modo algum há de contestar-se que está presente uma igreja de Deus,
visto que sua promessa não pode enganar: ”Onde estiver dois ou três
congregados em meu nome, aí estou no meio deles” [Mt 18.20]. Mas, para
que apanhemos claramente a suma desta matéria, é preciso que avancemos
com estes passos: a Igreja Universal é a multidão congregada de todas as
nações, a qual, espalhada e dispersa pelos lugares mais remotos,
entretanto consente na única verdade da doutrina divinal e é congregada
pelo vínculo da mesma religião; sob esta Igreja Universal estão assim
compreendidas as igrejas individuais, as quais, em razão da necessidade
humana, estão dispostas por cidades e vilas, de sorte que, de direito,
cada uma obtenha o nome e a autoridade da Igreja; os indivíduos que,
pela profissão de piedade, são desse modo contados entre as igrejas,
embora de fato sejam estranhos à Igreja, contudo a ela, de certo modo,
pertencem, até que, pelo consenso público, tenham sido eliminados.
Todavia, um pouco
diverso é o procedimento no julgar os indivíduos em particular e as
igrejas. Ora, é possível que aconteça que, em virtude do consenso comum
da Igreja, mercê do qual são introduzidos e tolerados no corpo de
Cristo, no entanto devamos tratar como irmãos e tê-los na condição de
fiéis quem absolutamente não pensaremos serem dignos do consórcio dos
pios. A tais não aprovamos com nosso sufrágio como membros da Igreja,
mas lhes deixamos o lugar que têm no povo de Deus, até que seu direito
legítimo lhes seja tirado. Mas da própria multidão se sentirá de outra
maneira: se ela tem o ministério da Palavra e se honra com a
administração dos sacramentos, indubitavelmente longe de merecer ser
tida e considerada como igreja, porque essas coisas certamente não são
sem fruto. Assim também preservarmos à Igreja Universal sua unidade, a
qual espíritos diabólicos têm sempre diligenciado por destruir; tampouco
defraudamos as assembleias legítimas de sua autoridade, as quais foram
distribuídas conforme a oportunidade dos lugares.
Igreja genuína é toda
aquela que proclama a Palavra fielmente e ministra os sacramentos
Dignamente. Abandoná-la constitui falta mui grave.
Já estabelecemos a
pregação da Palavra e a observância dos sacramentos como sinais para
distinguir-se a Igreja, porque estas não podem existir em parte alguma
sem que frutifiquem e prosperem pela bênção de Deus. Não estou dizendo
que onde quer que a Palavra é pregada aí apareça fruto de imediato; mas,
em nenhum lugar é ela recebida e tem seu assento firmado que não ponha à
mostra sua eficácia. Seja como for, onde se ouve reverentemente a
pregação do evangelho, nem os sacramentos são negligenciados, aí, por
todo esse tempo, a face da Igreja aparece não enganosa, nem
ambiguamente, da qual a ninguém se permite impunemente a autoridade
menosprezar, ou as advertências rejeitar, ou os conselhos resistir, ou
das censuras zombar; muito menos a abandonar e cindir sua unidade. Pois o
Senhor tem em tão elevada conta a comunhão de sua Igreja, que considera
covarde e desertor da religião todo aquele que contumaz se aliena de
qualquer comunidade cristã que, ao menos, cultive o verdadeiro
ministério da Palavra e dos Sacramentos. Ele estima a tal ponto sua
autoridade que, quando é violada, considera como que diminuída sua
própria autoridade. Ora, nem é de pouca importância que a Igreja seja
chamada “a coluna e fundamento da verdade” e “a casa de Deus” [1Tm
3.15], palavras estas por meio das quais Paulo dá a saber que, para que
não pereça a verdade de Deus no mundo, a Igreja é sua fiel depositária;
porquanto, por seu ministério e obra, Deus quis fosse conservada pura a
pregação de sua Palavra; e, enquanto nos nutre com alimentos espirituais
e procura fomentar tudo quanto nos enriqueça a salvação, ele se nos
exibe como um pai de família.
Igualmente, não é louvor
vulgar dizer que a Igreja é eleita e separada por Cristo para ser sua
esposa, que “fosse sem ruga e sem mácula” [Ef 5.27], “seu corpo e sua
plenitude” [Ef 1.23]. Do quê se segue que o abandono da Igreja é negação
de Deus e de Cristo, razão por que mais se deve guardar de tão celerado
dissídio, porque, enquanto nos esforçamos, quanto está em nós, por
fomentar a ruína da verdade de Deus, somos dignos de que ele dardeje
seus raios com todo o ímpeto de sua ira, a fim de fazer-nos em pedaços.
Não se pode imaginar mais atroz qualquer crime do que o de violar com
sacrílega perfídia o matrimônio que o Unigênito Filho de Deus se dignou
contrair conosco.
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