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Por Alfredo de Souza
Sempre que um pastor for indagado sobre a sua profissão, qual deve ser a resposta? Incomoda-me quando afirmam que são pastores, ou seja, que a profissão que exercem é a de pastor. Quando tenho oportunidade de conversar com esses colegas mais próximos, sugiro que respondam: autônomo em vez de pastor. É claro que muitos discordam.
Sempre que um pastor for indagado sobre a sua profissão, qual deve ser a resposta? Incomoda-me quando afirmam que são pastores, ou seja, que a profissão que exercem é a de pastor. Quando tenho oportunidade de conversar com esses colegas mais próximos, sugiro que respondam: autônomo em vez de pastor. É claro que muitos discordam.
Mas
o tipo de resposta a ser dada não é o problema que quero levantar nessa
postagem. O ponto está mais além e é muito mais complexo. Inicialmente
quero iniciar definindo o que significa ser um pastor e o que significa
ser um profissional.
Por
pastor entendo um ministério, um serviço dedicado ao Reino, ou seja,
alguém que exerce o dom do Espírito Santo no cuidado de um rebanho de
acordo com as normas contidas nas Escrituras. É um trabalho que não visa
a promoção pessoal e nem o lucro, embora dele retire o seu sustento.
Trata-se de um ministro do Evangelho. Por profissional entendo alguém
que luta por uma carreira bem sucedida que se estabelece pelo
reconhecimento vindo de outras pessoas. Também é a busca do progresso
técnico que exige resultados mensuráveis cujo corolário é a recompensa
que surge por meio de altos salários e de uma boa aposentadoria.
Não
há nenhum problema em ser um bom profissional na empresa ou na
instituição pública. A questão é quando o ministério pastoral se
profissionaliza. Isso, sim, traz prejuízos à Igreja e ao propósito de
Deus quanto ao amparo e, até mesmo, a proteção do povo. Como já disse, o
trabalho pastoral deve ser visto como um ministério. Trata-se de um
servo que preside, de um pai que cuida, de um mestre que doutrina ou de
um enfermeiro que trata. Resumindo, o pastor é aquele que dá a vida pelo
rebanho e o vivifica pelo poder de Deus.
Já
o pastor profissional é aquele que não se dedica mais ao propósito
principal no qual fora vocacionado. Ele passa a não mais se importar com
a simplicidade do ministério. Sente necessidade de se perceber
confortável e seguro de si e por si mesmo, não importando os prejuízos
que isso possa causar à igreja. Busca um futuro previsível e um presente
que satisfaça os desejos egoístas. A visão que possui passa a ser
regida pelo humanismo e sente a necessidade de ser notado por aqueles
que deslumbram o seu aparente sucesso. Ou seja, são pastores que
pastoreiam a si mesmo, todo o seu esforço é direcionado aos interesses
pessoais.
Não
tenho dúvidas que tudo isso causa dor e frustração no meio do rebanho
que definha moribundo e desorientado, principalmente quando percebe que o
alvo de seu líder espiritual não é mais as ovelhas, mas, sim, o próprio
estômago enquanto fingem pastorear.
Nessa
altura surge uma pergunta: como podemos detectar alguém que deixou de
ser um ministro do Evangelho e passou a ser um executivo eclesiástico?
Como resposta, quero propor quatro características que são facilmente
percebidas nesse tipo de gente:
O pastor profissional é raso no ensino bíblico.
Este é um ponto extremamente nocivo à igreja com conseqüências
desastrosas. O pastor profissional não possui a menor preocupação em se
debruçar sobre livros, comentários ou literatura que possam auxiliar no
preparo dos sermões. Não há estudo sério da Palavra, não há compromisso
com a Verdade. Tais indivíduos acreditam que podem ir ao púlpito toda a
semana e falar o que lhe vem na mente naquele momento, sem se
preocuparem com o fortalecimento do rebanho contra o pecado. A tônica é
sempre humanista e tolerante sem que haja a denúncia contra o erro ou
contra o mundanismo. Isso porque o pastor profissional teme ser
confrontado e, por essa razão, sempre quer estar de bem com todos,
principalmente com os crentes influentes do meio.
O pastor profissional não se envolve pessoalmente com as ovelhas.
Todos sabem que o pastoreio não se restringe aos principais cultos de
domingo. Nenhum ministro de Deus se furta do envolvimento pessoal com o
povo por meio do discipulado ou do aconselhamento. No entanto, o pastor
profissional não leva em conta este importante cuidado individual. Não
cultiva o hábito do pastoreio direto, do acompanhamento pessoal (por
intermédio das visitas nas casas ou no trabalho em horário de folga),
dos aconselhamentos, dos contatos por carta ou pela Internet (embora o
relacionamento presencial seja insubstituível). Para ele tudo isso é
perda de tempo. Por vezes a ovelha está necessitando de uma palavra
orientadora, mas só consegue ser ouvida quando procura o psicanalista ou
o líder de outra denominação mais próxima de si cuja teologia é, muitas
vezes, questionável. São casais que vivem sob forte crise,
relacionamentos desgastados entre filhos e pais, desempregos que
desesperam o coração, enfermidades que atemorizam. São pessoas que
gritam em silêncio sem, contudo, obter eco do seu clamor. O pastor que
possuem só pode vê-las aos domingos na porta da igreja ao final do culto
e que se limita em dizer a mesma frase por anos a fio: “como vai? Que
tenhas uma semana abençoada”. Nada mais que isso. Essas pobres ovelhas
nunca serão encorajadas a seguir em frente, nunca serão visitadas, nunca
serão aconselhadas, nunca receberão uma mão amiga e confiável. Ou seja,
nunca experimentarão o que é ser pastoreada, pois não possuem líderes
amigos. Esses tais são apenas meros profissionais.
O pastor profissional só se preocupa consigo mesmo.
Personalismo parece ser a palavra de ordem em alguns centros
evangélicos. São pessoas que passam a vida lutando por um espaço na
mídia. O resultado é o desperdício de milhões de reais utilizados para
pagar campanhas inócuas ou programas televisivos vazios que nada dizem
além de discursos de auto-ajuda. Mas esse desejo não se restringe aos
grandes eventos ou aos grandes espaços continentais. Há também aqueles
que desejam fama em seu pequeno universo. Pode ser um Presbitério, uma
pequena região ou até mesmo uma igreja local. O alvo é a bajulação que
surge por causa de uma pretensa espiritualidade ou de uma suposta
inteligência respaldada por títulos e certificados alcançados. Não
importa a causa, o importante é o estrelismo. É por isso que muitos
pastores profissionais se preocupam com o crescimento numérico de seu
rebanho em detrimento da qualidade, embora haja também os que se
conformaram com o número reduzido do rebanho. Nesses casos, geralmente, a
fama e o prestígio possuem outra fonte fora da igreja local. Outra
preocupação desses pastores é a sua renda mensal, o seu ganho
financeiro. Sempre defendem cinicamente seus bolsos sem, portanto,
merecerem o que pleiteiam ganhar. Buscam apenas os seus direitos em
detrimento dos legítimos direitos das ovelhas extorquidas. A meta é ter
um emprego-igreja bem remunerado que lhe conceda estabilidade
financeira.
O pastor profissional não é um homem de Deus.
Isso significa a ausência de uma dependência total do Senhor na vida
por meio do temor, da Palavra e da oração. São pessoas que confiam em si
mesmas e não se importam em buscar de Deus a direção certa. Não sentem
falta nenhuma de expressar a submissão ao Espírito, submissão esta que o
próprio Jesus demonstrou quando esteve aqui entre nós. Não são homens
de oração, não são homens da Palavra, não são homens piedosos. Nunca
possuem uma vida devocional particular, nunca gemem por causa do pecado,
nunca se importam com a vontade de Deus. Sempre agem friamente e com
extrema impassibilidade diante de tudo que promove uma vida espiritual
compromissada. Na maioria das vezes são irônicos ou cínicos no que dizem
ou falam com respeito à piedade. Eles também agem despoticamente para
que prevaleça a sua vontade, não obstante a capa de aparente mansidão.
São vazios do poder de Deus, são como penhas que não podem alimentar ou
fortalecer as ovelhas.
Quero
encerrar dizendo que, para mim, ser pastor profissional nada tem a ver
com tempo integral ou parcial no ministério. O ministro pode retirar o
seu sustento de um trabalho que não esteja ligado à sua igreja. Todavia,
tal trabalho não pode comprometer o tempo de qualidade pertencente ao
rebanho quanto ao preparo do sermão e quanto ao envolvimento pessoal.
Entre um e outro, o pastorado é prioridade. Se um dos dois deve ser
descartado ou penalizado, que seja o trabalho secular.
Muitas
igrejas padecem miséria espiritual porque estão debaixo de um pastor
profissional que há muito deixou de ser um ministro de Deus. Vale
ressaltar que essa mutação pecaminosa não acontece da noite para o dia,
ela ocorre ao decorrer dos anos quando aquilo que causava genuíno
espanto, preocupação ou interesse transforma-se em total irrelevância. O
que era importante por pertencer ao Reino, passa a ser desprezado
totalmente.
Que
Deus nos livre dos pastores profissionais que sufocam as igrejas até o
seu extermínio. Que haja entre nós ministros sinceros e cônscios de que
escolheram um excelente, sublime e perene trabalho conforme nos diz o
Apóstolo Paulo.
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