Por Maurício Zágari
Há
alguns dias uma pessoa me pediu perdão. Foi alguém que me causou mal
meses atrás ao fazer afirmações a meu respeito que foram muito além de
quem eu sou, de minhas atitudes e das verdadeiras intenções de meu
coração. Confesso que eu jamais esperaria que, passado tanto tempo,
chegasse aquele e-mail, com palavras tão cristãs: "Por ser essa vil
pecadora, peço-lhe humildemente perdão por tudo o que lhe fiz, por ter
deixado o mal exercer o domínio da minha vida, quando permiti que o
pecado entrasse em meu coração (...) A vida não para pra gente consertar
os erros, porque erros não se consertam, apenas os confessamos e
esperamos que pela misericórdia sejamos perdoados". Admito que fiquei
muito comovido. Muito, muito, muito. Chorei uma manhã inteira. Pois,
embora o perdão seja um dos alicerces do Evangelho, poucos são os que
têm a grandeza de realmente superar seu orgulho e reconhecer os erros.
Mesmo que no passado aquela pessoa tenha apresentado para pessoas
importantes em minha vida uma imagem distorcida de mim e de meus atos,
no presente seu gesto tornou-a admirável aos meus olhos. E tenho certeza
que muito mais aos olhos de Deus.
Existe
uma ideia de que admitir um erro e pedir perdão seria "se rebaixar".
Mas é exatamente o contrário: é um gesto de bravura, humildade
bem-aventurada e que prova crescimento espiritual de um servo de Deus.
Quando li o email eu não perdoei tal pessoa - pois já a tinha perdoado
meses antes em meu coração e em oração. Mas a fiz saber que estava
perdoada e aproveitei para também lhe pedir perdão por todo mal que
porventura lhe tivesse feito. Quer saber? Foi um dos sentimentos mais
maravilhosos que tive em toda a minha vida. Pois, ao perdoar e pedir
perdão, o Reino de Deus se fez presente, o Evangelho genuíno se
manifestou e eu creio piamente que os anjos no Céu sorriram e
festejaram.
A boa notícia é que pedir perdão está ao seu alcance.
E
isso é algo que precisamos ter em mente: nunca esperar o outro vir até
nós, importa que façamos a nossa parte. Peça perdão sem esperar ser
perdoado ou sem esperar uma boa reação. Faça o que tem de fazer. Faça o
que é certo. Faça Jesus se orgulhar de você. Mas se alguém vier primeiro
até você e pedir perdão de coração contrito... perdoe. Não importa a
dimensão do mal cometido. Importa, isso sim, a dimensão da graça de
Deus. Você não faz ideia do bem que perdoar promove em nosso coração.
Pedir perdão, então, é algo libertador. Magnânimo. Engrandecedor. Não
perca uma oportunidade sequer de fazê-lo, é um dos maiores prazeres e
das maiores alegrias que um cristão pode sentir. É, literalmente,
divino.
Tudo
isso caminha na contramão da nossa cultura. A sociedade prega que
devemos estar sempre por cima e manter nosso orgulho. Só que, para o
Senhor, é o contrário: "Os insensatos zombam da ideia de reparar o pecado cometido, mas a boa vontade está entre os justos" (Provérbios 14.9).
No Reino de Deus, o que te faz grande é se pôr por baixo. Preferir os
outros em honra. Humilhar-se para ser exaltado. Tomar na cara sem
revidar. Em tudo isso Deus agirá em favor de Seus filhos que procederem
conforme o padrão do Reino e não o deste mundo.
Deus
criou mecanismos perfeitos de funcionamento das coisas: quando não
revidamos Ele nos abençoa. Quando não devolvemos mal com mal Ele nos
abençoa. Quando aguentamos o vitupério em silêncio sem nos defendermos
Ele nos abençoa. Quando temos a grandeza de pedir perdão Ele nos
abençoa. Quando concedemos perdão Ele nos abençoa. O modo de ser e agir
do Reino é maravilhoso. É lindo. Nunca será defendido nos filmes de
Hollywood ou nas novelas da televisão, somente nas páginas das
Escrituras. As atitudes cristãs fazem as pessoas se aproximarem entre
si. Fazem as pessoas se aproximarem de Deus. Dá a elas a aparência de
Cristo. Se agirmos sempre como Jesus agiu estaremos pondo no rosto do
manso Cordeiro um largo sorriso.
O
Natal está chegando. Esse pedido de perdão chegou em boa hora, pois me
lembrou enfaticamente do significado primordial dessa celebração cristã.
A vinda do Verbo para reconciliar, perdoar, unir, restaurar. Domingo
passado estive em um culto na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro
e, ao som do belíssimo "Gloria" de Vivaldi, entoado por um grande coral
e um lindo órgão, chorei novamente, emocionado, lembrando-me do real
sentido do Natal. Ali agradeci a Deus por ter-se dado por nós e nos
ensinado a ser como Ele é. Perdoador. Manso. Humilde. Amoroso. Contrito.
Um embaixador da paz.
Gostaria
de terminar com a letra desse hino de Vivaldi, que resume bem a
gratidão que sinto neste momento e o que todos devemos dizer ao Senhor -
palavras que o coral de anjos cantou ao anunciar o nascimento de Jesus
aos pastores no campo próximo a Belém (Lucas 2.14):
Peça
perdão a quem precisa pedir. Hoje. Agora. Já. Não espere. Não perca
tempo. Não condicione isso a qualquer coisa: nunca diga "só pedirei
perdão se...". Não! Passe a mão num telefone, escreva um email, vá até a
outra pessoa... e aja conforme o coração de Jesus. Não espere um
segundo mais. Eu te asseguro que isso te fará admirável aos olhos dos
homens. E, muito mais, de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário