Os cristãos devem ouvir a Palavra de Deus, claro, no sentido de dar atenção a ela, segui-la e absorvê-la. Ouvir desta maneira as vozes do mundo que competem contra a Palavra pode nos causar problemas. Mas, em outro sentido, precisamos ouvir o que o mundo está dizendo. Prestar atenção pode nos ajudar a evitar os erros do mundo e nos tornar testemunhas e evangelistas mais eficazes.
A Bíblia elogia os
aliados do Rei Davi da tribo de Issacar, como sendo "homens que tinham a
inteligência dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer" (1
Crônicas 12:32). Estes homens não defendiam a atitude de acompanhar os
tempos, como fizeram mais tarde os falsos profetas da apostasia de
Israel. Antes, os homens de Issacar entendiam os tempos-incluindo, sem
dúvidas, o fascínio da idolatria cananéia naqueles dias-um entendimento
que ajudou Israel a se manter fiel.
Um motivo importante
para ouvir o mundo é reconhecer as falsas filosofias e visões de mundo, a
fim de que a nossa fé cristã não se contamine. Por exemplo, um dos
pressupostos que regem o mundo hoje é o progressismo. Essa visão
pressupõe que o que é "novo" é sempre melhor do que o que é "velho".
Portanto, os educadores progressistas tendem a cortar ou atacar nossa
herança de livros antigos e ideias antigas em favor de "novas ideias",
"últimos desenvolvimentos" e "pensamento de última geração".
Tal linguagem apela para
muitos de nós, visto que somos, quer queira ou não, habitantes de nossa
cultura. Mas entre as ideias antigas, o progressismo não tem utilidade
para o cristianismo, e a crença no progresso - que as coisas estão
melhorando cada vez mais em comparação à "escuridão" do passado - é um
dos principais veículos para extirpar o cristianismo da sociedade.
Se ouvirmos
cuidadosamente aos progressistas, observaremos a síndrome que o apóstolo
Paulo enfrentou no centro intelectual de Atenas: "Todos os atenienses e
estrangeiros que ali viviam não cuidavam de outra coisa senão falar ou
ouvir as últimas novidades". (Atos 17:21). Veremos também as marcas do
darwinismo, a noção de que estamos sempre evoluindo para a um nível
maior.
Crentes, tendo
considerado a fonte, em seguida, observem as falácias. O progresso na
ciência e na tecnologia é real, mas é algo construído sobre as verdades
do passado e não pela rejeição delas. Os computadores não precisam ser
reinventados para continuarem melhorando; as inovações expandem aquilo
que já têm feito. O conhecimento se acumula, portanto pode ser
aumentado. Os cientistas e engenheiros sabem disso, mas os artistas,
autores e filósofos continuam tentando começar tudo do zero nas áreas
humanas. Assim sendo, eles não progridem verdadeiramente - eles se
tornam primitivos.
O ponto é : Os cristãos -
que não têm paciência alguma com o materialismo darwinista - geralmente
parecem mais progressivos do que o evolucionista mais fervoroso. Eles
buscam por "novas" teologias, "novas" formas de adoração e "novas"
músicas, bem dispostos a jogar fora toda uma herança cristã "antiquada".
Tal forma de pensar é o resultado de deixarmos de "entender os tempos"
nos quais vivemos.
O pragmatismo é outra
filosofia não cristã que encontrou espaço na igreja. Do ponto de vista
que não conseguimos saber o que é verdadeiro e bom, segundo os filósofos
pragmatistas, devemos simplesmente fazer "o que funciona" em termos
materiais. Essa é uma vertente importante da filosofia americana, desde o
modernista John Dewey, com seu ateísmo e socialismo, ao pós-modernista
Richard Rorty, com seu relativismo e política esquerdista. Poucos
cristãos concordariam com esses filósofos se os escutassem, no entanto, o
pragmatismo simplificado pode ser ouvido constantemente em assembleias
da igreja, seminários sobre crescimento da igreja e livros para
pastores. "O que funciona" - para aumentar a frequência na igreja,
atrair não cristãos, arrecadar mais dinheiro ou alcançar uma nova
meta-pode passar por cima de todas as considerações teológicas,
históricas e bíblicas.
A Escritura nos dá mais
um motivo para ouvir o mundo com atenção: "Quem responde antes de
ouvir", diz Salomão, "comete insensatez e passa vergonha" (Provérbios
18:13). Ao evangelizarmos não crentes, precisamos "ouvi-los" para que as
respostas que damos como cristãos resolvam suas questões e respondam as
indagações com as quais estão lutando.
Em muitas conversas, os
cristãos e não cristãos seguem em um diálogo de surdos. O cristão pode
estar de conversa fiada evangelística memorizada, enquanto a pessoa que
ouve o testemunho está tentando entender porque Deus permitiu que sua
mãe morresse de câncer. O não cristão talvez comece uma discussão
política, enquanto o cristão está levantando questões de cunho
espiritual. Na apologética, geralmente damos um argumento racional sobre
o cristianismo para os pós-modernistas que rejeitam a razão.
Geralmente, a igreja aborda questões apenas depois que a cultura já
seguiu em frente. As igrejas que tentam alcançar os jovens se voltam
para a música folk e pop quando os seus jovens menosprezam esses estilos
em favor do rock e do rap.
Se em primeiro lugar
ouvíssemos aqueles que estamos tentando alcançar, evitaríamos as
respostas superficiais, pré-prontas e impessoais. Ao invés disso,
podemos abordá-los de forma pessoal, autêntica e de alma para alma. Se
eles sentirem que estão sendo verdadeiramente ouvidos, talvez eles nos
deem ouvidos. Sentirão que nós ganhamos o direito de sermos ouvidos.
Podemos ouvir
superficialmente-ouvir sua música vil e violenta só para condená-la e
julgá-los-ou podemos escutar profundamente e perceber porque essa música
é tão agressiva. Conforme Mary Eberstadt elucidou, muitas delas têm a
ver com ser abandonado, especialmente por um pai. Pela mesma razão, a
pessoa que sofre pela morte de sua mãe não está pedindo apenas uma
dissertação abstrata em teodiceia (uma defesa sobre a bondade e poder de
Deus em vista da existência do mal); antes, essa pode ser a ocasião de
familiarizá-lo com o próprio Jesus que morre, levando sobre si toda a
morte-inclusive a de sua mãe-e derrotando-a por meio de Sua
ressurreição. Os pragmatistas que são impacientes com a abstração podem
ser indicados ao Deus que encarnou. Podemos concordar com os
relativistas de que só o mundo não nos dá base para a verdade universal,
porém, em seguida, apresentá-los o Caminho, a Verdade e a Vida.
Se ouvirmos com atenção o
mundo e aqueles que estão presos no mundo, com sua futilidade e pecado,
podemos ouvir o clamor dos perdidos por trás da cacofonia de falsas
ideias e visões de mundo distorcidas. Isso é capaz de despertar nossa
empatia e compaixão de tal forma que poderemos fazer, de forma eficaz,
aquilo que o apóstolo nos chama a fazer: "Antes, santifiquem Cristo como
Senhor no coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer
que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês". (1 Pedro 3:15).
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