Por Jorge Fernandes Isah
"Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" [Hb 12.14].
Primeiro,
vamos definir a palavra santo, que quer dizer separado. Como Deus é
santo, Ele é separado de toda a Sua criação. Existe a idéia errônea e
antibíblica de que a criação é a extensão de Deus, como se tudo o que
veio a existir pelo poder da Sua palavra fizesse parte dEle. Ora, esta
visão é pagã, comumente chamada de panteísmo [grego: pan, "tudo", + theós, "deus"],
a qual define ser Deus o todo, e o todo Deus; uma espécie de
universalidade dos seres, onde o conjunto de todas as criaturas
[materiais e espirituais], a sua totalidade, compõem a unidade de Deus. O
problema desta doutrina é que a criação e o Criador se confundem e se
fundem, assim como o infinito e o finito, o material e o espiritual, o
que leva à idéia de que tanto um como o outro são autocriados ou podendo
ser criados por outra força. Mas toda essa confusão é fruto de outra
artimanha do maligno, sempre promovendo a mentira, o qual "não
se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere
mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da
mentira" [Jo 8.44]. A Bíblia nos revela o contrário: toda a criação, seja o bem e o mal, material e espiritual, está separada de Deus, não é uma "extensão" dEle, nem subsiste e vive nEle, mas é sustentada e sobrevive por Ele.
Bem
diferente do sistema proclamado pelos pagãos, anacrônico à Bíblia: a
criação existe, vive e se mantém pelo poder de Deus, segundo a Sua
vontade, nada além disso.
De certa forma, o entendimento errado dos atributos divinos leva até mesmo cristãos a cogitarem inadvertidamente uma espécie de "panteísmo".
A confusão está na incompreensão da doutrina da onipresença e
onisciência, que diz não haver lugar no universo onde Deus não esteja;
não que está a ocupar todo o espaço, visto estar fora dele, mas no
sentido de que tudo o que acontece, seja onde for, encontra-se diante de
Deus e é promovido por Ele; e de que também tem o conhecimento perfeito
de tudo, em seus mínimos detalhes, e nada pode escapar à Sua infinita
presença. Como o salmista diz: "Para onde me
irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu,
lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás
também" [Sl 139.7-8]. O que a Escritura diz claramente é que Deus
está em todos os lugares, não há recôndito que não alcance, o que é
diametralmente oposto à idéia de que Ele é tudo, e tudo é Ele: "Porventura
sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe?
Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o
Senhor. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor" [Jr
23.23-24].
Como
Criador de todas as coisas, Ele conhece todo o processo exaustivamente,
desde o nascimento até a morte, da existência à destruição, sendo que
nada acontece sem que seja da Sua vontade ou alheio a ela, "porque
o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão
está estendida; quem pois a fará voltar atrás?" [Is 14.27]. O
esclarecimento é necessário para não se ter dúvidas de que Deus está
separado da Sua criação, de que Ele não faz parte dela, mas está aparte
dela; de que são coisas distintas, ainda que a criação seja
completamente dependende de Deus e da Sua vontade, sem o que jamais
existiria ou sobreviveria.
Então
Deus é e está separado de toda a criação, ainda que ela seja
consequência do Seu atributo de onipotência; porém como Deus é perfeito,
puro e justo, é distinto da criação, que não possui a perfeição, a
pureza e justiça divinas, sendo imperfeita, impura e injusta.
As
obras de Deus não são Deus, ainda que existam por e para Deus, logo,
pertencentes e sujeitas a Ele [tanto para nascer, viver ou morrer], sem
que possam "contaminá-lO", antes é o Senhor quem as santifica ou não, segundo a Sua soberana vontade.
Por
isso a Bíblia afirma que todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus [Rm 3.23]. Há uma separação natural entre o Criador e as criaturas
em virtude de suas naturezas distintas, agravada pelo pecado [que torna
as criaturas ainda mais distantes do Senhor], sendo que, do ponto de
vista temporal, Deus se aproximará daquelas que foram salvas eternamente
por Cristo, e jamais se achegará àquelas eternamente destinadas à
perdição.
Do ponto de vista atemporal, Deus sempre estará próximo do eleito, mesmo que, no tempo, ele ainda não seja convertido; pois a salvação aconteceu no tempo, mas foi decretada na eternidade. Graças a Ele, Cristo, o Cordeiro sem pecado, o qual morreu na cruz e ressuscitou para que os eleitos, diante de Deus, estivessem mais alvos e mais brancos do que a neve [Sl 51.7], sem nenhuma mácula, santos como santo é o nosso Deus, "porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo" [1Pe 1.16].
Do ponto de vista atemporal, Deus sempre estará próximo do eleito, mesmo que, no tempo, ele ainda não seja convertido; pois a salvação aconteceu no tempo, mas foi decretada na eternidade. Graças a Ele, Cristo, o Cordeiro sem pecado, o qual morreu na cruz e ressuscitou para que os eleitos, diante de Deus, estivessem mais alvos e mais brancos do que a neve [Sl 51.7], sem nenhuma mácula, santos como santo é o nosso Deus, "porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo" [1Pe 1.16].
No
tempo, a santidade se inicia na regeneração que o Espírito Santo opera
em nós, como a boa obra de Deus iniciada e que atingirá o ápice na
eternidade [Fp 1.6], quando o nosso corpo corruptível se transformar em
incorruptível, e formos semelhantes a Cristo nosso Senhor [1Co
15.52-53]; quando não haverá mais morte, nem pecado. Ele operará a
santidade através da incorruptível "palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre" [1Pe 1.23].
Portanto, o ser santo é algo inalcançável para o homem, somente o
Senhor é quem pode torná-lo e fazê-lo separado do mundo, e ligado a Ele;
tirados do meio da Sua criação, de entre as criaturas corruptíveis,
tornando-o filho adotivo em Cristo, e assim será mantido pelo Seu poder e
graça.
Eternamente,
já somos salvos antes da fundação do mundo, muito antes do nascimento e
queda do primeiro homem, pois o decreto divino estabeleceu que os
eleitos, em número certo e definido, seriam tantos quanto Deus escolheu,
conheceu e predestinou para serem conforme a imagem de Cristo [Rm
8.29]. Desta forma todos os eleitos [mesmo os que ainda não foram
regenerados no tempo] já são salvos e santos. Pode parecer estranho que
um homem em pecado, irregenerado, tenha comunhão com Deus. A Bíblia diz
que o Senhor abomina o pecado. Porém, como o Espírito Santo faria uma
obra de regeneração em um pecador? Haveria como Deus ter comunhão com o
ímpio? Segundo as Escrituras, não! A pergunta é: em que ponto o homem
deixa de ser ímpio? Como é possível ao homem sair da esfera pecaminosa
para a santa? Teríamos de concordar com os arminianos de que somente
após escolher a Deus o homem poderá ter comunhão com Ele. Ou seja, a
decisão humana o santifica ao ponto de ser capaz de reconhecer em Cristo
o seu salvador, e então, somente então, ter o privilégio de comunhão
com Deus. O que remeteria os méritos da regeneração ao homem, não a
Deus. Mas há uma profusão de textos bíblicos que desmentem essa
hipótese. Paulo diz: "Não há um justo, nem um
sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a
Deus.Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem
faça o bem, não há nem um só" [Rm 3.10-12].
O
dilema persiste: o homem não pode se tornar santo nem Deus ter comunhão
com o pecador. Logo, Deus, que está fora do tempo, já nos tem como
santos, porque fomos santificados eternamente. Ao promulgar o decreto
eterno, sendo o Senhor imutável, e de que toda a Sua vontade se
realizará infalivelmente, "pois nenhum dos teus propósitos pode ser impedido" [Jó 42.2],
mesmo sem ainda existir, o eleito já está salvo, já é santo. A vontade
e decisão em eleger um povo para Si não aconteceu no tempo, mas muito
antes dEle criar o tempo. Também escolheu que o processo ocorresse no
tempo e, por nossas limitações, tomássemos consciência da pecaminosidade
natural, do estado degradante, da morte iminente e incontestável, caso
não tivesse nos escolhido. Pois a santidade divina é que nos impede de
permanecer no pecado, transformando pecadores em santos aos nossos
olhos, mas aos Seus olhos já fomos santificados pelo sacrifício de
Cristo, muito antes do Senhor morrer na cruz.
A
questão é de perspectiva: quando olhamos para nós mesmos, não temos a
visão do resultado [ainda que a Bíblia nos revele o fim de todo eleito: a
eternidade diante de Deus]. O fato de estarmos no tempo revelará um
encadeamento de situações, as quais serão reveladas progressivamente,
indicando o estado de regeneração ou de corrupção. Mesmo assim, para
muitos, será impossível conhecer o real estágio em que se encontram, e o
fim que os aguarda; apenas no dia do Juízo tomarão conhecimento de que
estavam mortos, e permanecerão mortos. Ao passo que, para o Senhor, não
somente os fatos, mas todo o fim já é do Seu conhecimento. Como tudo
ocorrerá segundo o Seu desejo, seguindo rigorosamente o decreto eterno
em que todos os detalhes foram determinados, Deus conhece os Seus
escolhidos, e já os tem por certo como Seus. Ou seja, para nós, é um
processo; para Deus, já está tudo consumado.
Certo é que somos nós a alcançar a santidade [não é Deus quem a alcança por nós; já que Ele é e sempre foi santo, e não precisa alcançar nada, pois é e sempre foi o perfeito Senhor do universo]. Deus nos capacita, nos habilita e transforma para sermos santos, constituindo-nos o corpo do Seu Filho Amado, o qual é a cabeça. E assim seremos um com todos os escolhidos, os quais são justificados exclusivamente por Deus. A obra é dEle, mas nós é que somos feitos santos e mantidos santificados. Assim, devemos sempre buscá-la, clamar ao Senhor que nos transforme a cada dia, para que a boa obra seja concluída naquele dia.
Certo é que somos nós a alcançar a santidade [não é Deus quem a alcança por nós; já que Ele é e sempre foi santo, e não precisa alcançar nada, pois é e sempre foi o perfeito Senhor do universo]. Deus nos capacita, nos habilita e transforma para sermos santos, constituindo-nos o corpo do Seu Filho Amado, o qual é a cabeça. E assim seremos um com todos os escolhidos, os quais são justificados exclusivamente por Deus. A obra é dEle, mas nós é que somos feitos santos e mantidos santificados. Assim, devemos sempre buscá-la, clamar ao Senhor que nos transforme a cada dia, para que a boa obra seja concluída naquele dia.
E,
ao fim, como o próprio Senhor disse, seremos um com Ele, assim como o
Pai é um com o Filho [Jo 17.21]; separados para Ele, por intermédio
dEle, para a Sua glória; definitivamente afastados do pecado, da morte,
da corrupção e do mal; o que não é panteísmo, mas Cristianismo bíblico,
por que as criaturas destinadas à perdição estarão irremediavelmente
separadas de Deus na eternidade, ao contrário de nós.
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