![](http://4.bp.blogspot.com/_T9Ev6D2alXk/Sw7fK8Y4ncI/AAAAAAAAAvw/t6ihVyhX2XI/s400/images.jpg)
Por A. W. Tozer
Contrariamente à opinião popular, o cultivo de uma psicologia da crença acrítica não é um bem incondicional e se levado longe demais, pode tornar-se positivamente um mal: O mundo inteiro caiu estupidamente nas arapucas do diabo, e a arapuca mais mortal é a religiosa. O erro nunca parece tão inocente como quando se acha no santuário.
Um
campo em que armadilhas aparentemente inofensivas, mas de fato mortais,
aparecem em grande profusão é o da oração. As doces noções sobre oração
existentes são tantas que não caberiam num volumoso livro, todas elas
erradas e sumamente prejudiciais às almas dos homens.
Penso
agora numa dessas falsas noções que se acha muitas vezes em locais
aprazíveis, em sorridente consórcio com outras noções de inquestionável
ortodoxia. É a de que Deus sempre responde à oração. Este erro aparece
entre os santos como uma espécie de terapia filosófica para todos os
fins, para impedir que algum cristão decepcionado sofra um choque forte
demais quando se evidencia que as suas expectativas, calcadas na oração,
não se estão cumprindo. Dá-se a explicação de que Deus sempre responde à
oração, seja dizendo Sim, seja dizendo Não, ou substituindo o favor
desejado por alguma outra coisa.
Ora,
seria difícil inventar um artifício mais bonito que esse para salvar a
situação do suplicante cujos pedidos foram negados por sua
desobediência. Assim, quando uma oração não é respondida, ele só tem de
sorrir vivamente e explicar: “Deus disse Não”. Isso tudo é muito cômodo.
Sua hesitante fé é salva de confusão e permite que sua consciência
minta tranqüilamente. Mas eu pergunto se isso é honesto.
Para
receber-se resposta à oração, como a Bíblia emprega o termo e como
historicamente os cristãos o tem entendido, dois elementos precisam
estar presentes: (1) Um claro pedido feito a Deus, de um favor
específico. (2) Uma clara concessão desse favor, feita por Deus, em
resposta ao pedido. É preciso que não haja nenhum desvio semântico,
nenhuma troca de rótulos, nenhuma alteração do mapa durante a viagem
empreendida para ajudar o embaraçado turista a encontrar-se a si mesmo.
Quando
nós dirigimos a Deus a petição de que Ele modifique a situação em que
nos achamos, isto é, de que Ele responda a oração, precisamos preencher
duas condições: (1) Devemos orar segundo a vontade de Deus e (2) devemos
estar naquilo que os cristãos à moda antiga muitas vezes chamam de
“território da oração”; isto é, devemos estar vivendo de modo agradável a
Deus.
É vão pedir a Deus que aja de
maneira contrária aos Seus propósitos revelados. Para orar com
confiança, o peticionário deve assegurar-se de que a súplica se enquadra
na livre vontade de Deus quanto ao Seu povo.
A
segunda condição também é de vital importância. Deus não se pôs na
obrigação de acatar pedidos de cristãos mundanos, carnais ou
desobedientes. Ele só ouve e responde às orações dos que andam em Suas
veredas. “Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança
diante de Deus; e aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos
os seus mandamentos, e fazemos diante dele o que lhe é agradável… Se
permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o
que quiserdes, e vos será feito” (1 João 3:21, 22; João 15:7).
Deus
deseja que oremos e deseja responder às nossas orações, mas Ele faz o
nosso uso da oração como privilégio, fundir-se com o Seu uso da oração
como disciplina. Para recebermos respostas à oração precisamos cumprir
os termos de Deus. Se negligenciarmos os Seus mandamentos, as nossas
petições não serão levadas em consideração. Ele somente alterará
situações à solicitação de almas obedientes e humildes. O sofisma,
Deus-sempre-responde-às-orações, deixa sem disciplina o homem que ora.
Pelo exercício desta peça de lisonjeiro casuísmo, ele ignora a
necessidade de viver sóbria, justa e piedosamente neste mundo, e de fato
entende a peremptória recusa de Deus a responder sua oração como sendo a
própria resposta. É natural que tal homem não cresça em santidade; que
nunca aprenda a lutar e a esperar; que nunca saiba o que é ser
corrigido; que nunca ouça a voz de Deus, convocando-o para ir avante;
que nunca chegue ao ponto em que estaria moral e espiritualmente apto
para ter respondidas as suas orações. Sua filosofia errônea o arruinou.
Por
isso exponho a má teologia em que se firma a sua má filosofia. O homem
que a aceita nunca sabe onde está; nunca sabe se tem a verdadeira fé ou
não, pois, se o seu pedido não é atendido, ele evita a conclusão certa
com o artifício de declarar que Deus fez girar a coisa toda e lhe deu
outra coisa. Ele não se sujeitará a atirar num alvo, de modo que não se
sabe se é bom ou mau atirador.
De certas pessoas Tiago diz claramente: “… pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.”
Dessa breve sentença podemos aprender que Deus rechaça alguns pedidos
porque aqueles que os fazem não são moralmente dignos de receber a
resposta. Mas isto nada significa para aquele que foi seduzido pela
crença em que Deus sempre responde à oração. Quando um homem desses pede
e não recebe, faz um passe de mágica e identifica a resposta com alguma
outra coisa. A uma coisa ele se apega com grande tenacidade: Deus nunca
manda ninguém embora, mas invariavelmente atende todos os pedidos.
A
verdade é que Deus sempre responde à oração que se harmoniza com a Sua
vontade revelada nas Escrituras, contanto que aquele que ora seja
obediente e confiante. Além disto, não nos atrevemos a ir.
A.W.Tozer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário