Por Samuel Toralbo
Em tempos, onde a deturpação do
significado do ministério eclesiástico é alarmante, os propósitos e as
motivações no ingressamento da vida ministerial são estarrecedores e
preocupantes. As intenções e os propósitos equivocados podem ser gerados
por inúmeras razões – através de uma cultura religiosa que interpreta
crescimento espiritual, ou vida vitoriosa somente quando o individuo é
chamado para o ministério eclesiástico, onde jargões como: “Um dia você
também estará aqui no púlpito”, ou “Deus não te chamou para ser mais um
no meio do povo, mas para se assentar aqui no púlpito em meio aos
príncipes” são bastante comuns em inúmeros ajuntamentos de cristãos,
descaracterizando assim o significado do discípulo de Cristo Jesus. Não é
raro o crescimento da motivação ministerial simplesmente pelo fato do
desejo pessoal pelo status, objetivos financeiros, ou até mesmo por
falta de opções ou oportunidades na vida profissional.
De modo que, primeiramente é importante
ponderar que, o ministério não é uma questão de ordem que acontece na
horizontal (que parte do homem), mas antes, é uma escolha que acontece
na vertical (é Deus quem chama e capacita para o serviço ministerial) –
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros
para evangelistas, e outros para pastores e doutores,” (Efésios 4.11)
O objetivo não é desestimular aqueles
que foram chamados para o santo ministério, mas antes, alertar aqueles
que não sendo chamado, a evitar o encantamento do “glamour ministerial”
que é vendido por algumas lideranças insanas desprovidas de amor e
verdade. É loucura ingressar no ministério eclesiástico sem nunca ter
sido chamado por Deus para o mesmo.
O apóstolo Paulo declara: “Esta é uma
palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.” (I
Timóteo 3.1), Paulo não afirma que, aquele que desejar o ministério
receberá o mesmo, mas apenas diz que é um excelente desejo. E mais do
que isto, em seguida Paulo expõe a lista de características que deve
pautar o ministério eclesiástico, como quem diz: “Está pronto para uma
vida de renuncia, perseguições, e sofrimento?”
A grande deturpação na atualidade é que a
lista de considerações que encontramos em Paulo para aqueles que
desejam o ministério não passa nem perto de algumas outras listas que
tem sido oferecida aos novos pretendentes ao ministério cristão.
Enquanto que, na listagem de Paulo o obreiro precisar ser:
- irrepreensível,
- marido de uma mulher,
- vigilante,
- sóbrio,
- honesto,
- hospitaleiro,
- apto para ensinar,
- não dado a vinho,
- não espancador,
- não cobiçoso de torpe ganância,
- moderado,
- não contencioso,
- não avarento,
- que governe bem sua casa,
- não neófito (inexperiente na caminha da fé),
- e com bom testemunho,
Na listagem de algumas “lideranças” pós moderna, o que consta como observações para a vida ministerial é:
- ser carismático,
- manter a visão da igreja em arrecadações e desafios financeiros,
- manifestar os dons espirituais,
- elegante e de boa aparência,
- atingir a meta de arrecadação mensal,
- pregar uma mensagem bacana e motivacional,
- ostentar o sucesso “espiritual” (bons carros, roupas, joias, e bens materiais), para estimular a fé dos irmãos.
- e manter sempre a imagem de um herói (super homem)
Observe a disparidade na natureza do
significado do ministério cristão que acompanhava a igreja primitiva
com, aquela que, paira em algumas congregações cristãs no século XXI.
Recentemente perguntei a um pregador em que consistia o seu interesse em
pregar o evangelho, o que logo me respondeu: “dinheiro”. De modo que, a
compreensão equivocada do significado do ministério cristão, fatalmente
gerará motivações pervertidas e adoecidas.
Atualmente, parece pairar no ar uma
certa irresponsabilidade por parte de algumas lideranças que unge,
consagra, e separa ao ministério cristão, pessoas que nunca Deus chamou
para o tal oficio.
Sendo de grande importância neste
momento a reflexão sobre a declaração paulina que diz: “Cada um fique na
vocação em que foi chamado.” (I Coríntios 7.20). Certamente, Paulo
estava querendo evitar desmandos e enganos na igreja em Corinto,
desejando que os irmãos entendessem a importância de uma vida
pacificada, tranquila e relevante através de Cristo Jesus, naquilo que
foram chamados, não necessariamente no ministério eclesiástico.
Certa vez, Martinho Lutero foi abordado
por um homem que acabará de se converter. Desejando desesperadamente
servir ao Senhor, ele perguntou a Lutero:
“O que devo fazer agora?”
Lutero respondeu: “Atualmente, qual é sua profissão?”.
“Sou um sapateiro”.
Para surpresa dele, Lutero respondeu: “Então faça um bom sapato e venda por um preço justo”.
Fica evidente a dificuldade na
compreensão deste princípio bíblico em uma geração (contemporânea) ávida
pela exposição publica ministerial, onde a ideia é de que todos devem
ser apóstolos, pastores, ou possuir algum tipo de poder supra-humano.
Porém, a verdade eterna de Deus
permanece afirmando que, nem todos cristãos foram chamados ao pastorado,
mas todos convocados para uma vida piedosa, nem todos serão profetas,
mas todos discípulos de Cristo, nem todos se tornarão evangelistas, mas
todos deverão anunciar as boas novas de salvação, nem todos serão
mestres, mas todos manifestação o conhecimento do evangelho, e por fim,
nem todos serão chamados apóstolos, mas “a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu
nome;” (João 1.12)
Sendo assim, melhor é terminar a
caminhada cristã sendo salvo em Cristo Jesus, sem nunca ter sido pastor
ou apóstolo, do que, ingressar no ministério sem ter sido chamado por
Deus e terminar a carreira como um obreiro reprovado e relativizado na
fé e na esperança.
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