Por Ricardo Mamedes
A
existência de Deus traz indagações ao homem desde os primórdios, ao
mesmo tempo construindo uma espécie de divindade contida no universo, ou
a força criadora impessoal fragmentada em cada parte do todo. Uns
evocam um deus que se manifesta na beleza da criação, tecendo loas à
natureza, outros abandonam o Deus dos seus pais trocando-O por uma série
de abstrações.
Uma
busca febril e contínua que muitas vezes leva ao desespero, à
descrença, ao abandono. Sem Deus, a liberdade tão ferrenhamente buscada
se esfumaça, dando lugar ao vazio. A crença unicamente naturalista,
baseada na ciência, nos conceitos evolucionários também não oferece uma
resposta definitiva à indagação sobre o início de tudo , o fim de todos e
de todas as coisas... Nada é infinito, embora o finito tenha tido
origem em (ou de) algum lugar.
Penso
, logo existo. Mas por que existo, de onde vim e para onde vou? Se a
natureza é tão bela e transformadora; se a cadeia natural se
autoalimenta, pode ela ter sido o gênesis, a própria criação, a essência
que antecede o ser?
Quando ainda não havia alcançado fama e e reconhecimento, pouco antes de escrever "A origem das espécies" (1859), Charles Darwin descreveu-se como um teísta:
"Ao
refletir assim sinto-me compelido a olhar para uma primeira causa
dotada de mente inteligente e até certo grau análoga à mente do homem; e
mereço ser chamado teísta"
Porém,
à medida em que avançava em conhecimento desvendando o mundo natural,
Charles Darwin cada vez mais se afastava da ideia de um Deus criador,
por achar que tudo se fizera por meio de acontecimentos aleatórios,
embora sem conseguir explicar a causa primeira, a vontade inicial, a
essência do universo:
"Minha
teologia é uma simples confusão; não posso ver o universo como
resultado do acaso cego; e, no entanto, não posso perceber qualquer
evidência de desígnio beneficente, ou mesmo de desígnio em qualquer
sentido, em detalhes".
Ao
mesmo tempo em que o homem busca respostas para a sua existência
apegando-se a si mesmo e às coisas criadas, queda-se inerte mergulhado
em dúvidas a respeito da própria existência, abrstraindo a possibilidade
de que a "totalidade do mundo exterior não passe de um sonho, e que somente nós existamos" (Bertrand Russel). A ciência também, dissociada da revelação, não consegue responder essa intrincada equação inicial.
Há,
a meu ver, a necessidade e a possibilidade de se equacionar ciência e
criação sustentada por Deus, não à margem da revelação mas de mãos dadas
com ela, eliminando-se as dicotomias aparentemente existentes. É pois
possível relacionar a verdade da revelação com a verdade da ciência,
naquilo em que a ciência não entrar em choque com a revelação.
A
tentativa em todas as frentes da filosofia em compreender o universo
apenas pelo conhecimento falhou. Não se compreende sequer que haja
liberdade diante de características adquiridas pelo meio , ou, ainda,
pela herança genética. Quando se nega o determinismo bíblico, não se
consegue safar do determinismo natural, ficando ainda o homem tolhido em
sua "liberdade" por causas externas à sua vontade, logo, não havendo
mesmo liberdade.
Incrédulos
fogem de Deus, da ideia de um Criador, mantenedor e sustentador do
universo, mas não têm respostas para a mesma realidade, refugiando-se no
ceticismo, desespero, dúvida. Negam o Absoluto sem oferecer algo em
troca, ficando o universo entregue ao caos, regido por leis que não
existem por si mesmas; tampouco explicam a origem dessas mesmas leis, a
sua essência. Querem um universo sem Deus sem se desvencilhar de
explicá-lo pelos seus próprios métodos científicos, seja através da
"experimentação", ou da observação. Calam-se sem justificar a existência
antecedendo a essência, ou a "existência da essência em si mesma". Não
há resposta, mas o abandono ao nada. Somente o temor do "depois"...
A esperança no homem se revela frustrante. Resta aos pensadores sem Deus aceitar a "probabilidade
de que o homo sapiens seja uma excentricidade biológica, o resultado de
algum equívoco notável dentro do processo de evolução", conforme
já afirmaram outrora. Elegem a razão como explicação do conhecimento,
mas sem a contrapartida da Verdade e sem se livrar das "antíteses".
C. S Lewis, discorrendo sobre a sociedade que remanescerá do humanismo ateu, considerou:
"O
poder do homem de fazer de si mesmo o que lhe agradar... significa o
poder de alguns homens fazerem de outros homens o que lhes agradar. Os
moldadores de homens da nova era estarão munidos de poderes de um Estado
Onicompetente e de uma irresistível técnica científica : finalmente
chegaremos à existência de uma raça de condicionadores que, na
realidade, poderão esculpir toda a posteridade na forma que melhor lhes
parecer."
Sim,
a razão dissociada de Deus traz o absurdo, o caos, o medo, o desespero,
consoante se observa das palavras de Bertrand Russel:
"Breve
e sem poder é a vida do homem; sobre ele e toda a sua raça cai a lenta e
certa condenação, negra e sem dó. Cega para os bons e para os maus, sem
importar-se com a destruição causada, a matéria onipotente avança
incansavelmente; ao homem, condenado em nossos dias a perder seus entes
queridos, para ele mesmo passar amanhã pelos portões tenebrosos, resta
somente desfrutar, antes de sobrevir o golpe, dos elevados pensamentos
que enobrecem os seus poucos dias; desdenhando dos terrores covardes do
escravo da sorte, adora no santuário que as suas próprias mãos erigiram :
sem vergar-se ante o império do acaso, preserva uma mente livre da
tirania extravagante que governa sua vida externa; desafiador orgulhoso
das forças irresistíveis que toleram, por um momento, seu conhecimento e
sua condenação, sustém sozinho um cansado mas inflexível atlas, o mundo
que seus próprios ideais tem moldado, a despeito da marcha
esmigalhadora de um poder inconsciente."
Não
há outra saída, senão aceitar Deus como a Vontade primeira criadora do
Universo, para livrar o homem do caos e do desespero, infundindo-lhe
esperança e alegria, ainda quando face a face com a morte.
"No
princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus; e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por
intermédio dele, e sem Ele nada do que foi feito se fez" (João 1:1-3)
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