![](http://3.bp.blogspot.com/_T9Ev6D2alXk/TN0lqYdSO-I/AAAAAAAAByQ/QhKi5cf7jx4/s400/images.jpg)
“Afirmamos que Cristo morreu para assegurar a salvação de uma tão grande quantidade de pessoas que ninguém é capaz de enumerar, pessoas que mediante a morte de Cristo não somente podem ser salvas, mas são salvas, têm de ser salvas; e não existe a possibilidade de, por meio de qualquer casualidade, elas serem outra coisa, exceto pessoas salvas” (Charles Haddon Spurgeon).
Houve
um tempo em que eu me qualificava como um “calvinista de quatro
pontos”. Existem muitos que utilizam essa expressão e, durante quase
todo aquele tempo, o único ponto que eu rejeitava era o da “expiação
limitada”. Existe algo nessas palavras que não soa corretamente. Como
pode a expiação realizada por Cristo ser limitada? Isso é exatamente o
que eu pensei quando comecei a meditar com seriedade sobre todo o
assunto. A minha experiência é que muitos dos que rejeitam a expiação
limitada ou específica de Cristo realmente não crêem na completa
soberania de Deus, na total depravação do homem e na eleição
incondicional da parte de Deus. Muitas das objeções apresentadas contra
essa doutrina são objeções a algum dos assuntos que acabamos de
mencionar, e não contra a própria expiação limitada. A “quebra” em minha
maneira de pensar resultou da leitura do livro de Edwin Palmer, Os Cinco Pontos do Calvinismo
(The Five Points of Calvinism; Grand Rapids, Baker Book House, 1980,
pp. 41-55). Ao realizar uma transmissão de rádio a respeito da verdade
da graça eletiva de Deus, um ouvinte desafiou-me em relação à morte de
Cristo. “Por que Cristo morreu em favor de todo o mundo, se Deus não
tencionava salvar todos?” Olhei para meu companheiro de programa, ele
olhou para mim; fiz uma decisão mental de estudar mais sobre aquele
assunto em particular. Logo que voltei para casa, peguei o livro de
Edwin Palmer e comecei o capítulo que se referia à obra de expiação
realizada por Cristo.
Tornei-me um calvinista de “cinco pontos”, ao ler a seguinte seção:
“A pergunta que necessita de uma resposta exata é esta: Cristo realmente fez ou não fez um sacrifício vicário pelos pecados? Se Ele o fez, não foi em favor de todo o mundo, pois, se assim fosse, todo o mundo seria salvo” (Palmer, Os cinco Pontos do Calvinismo, p. 47).
Fui
confrontado com uma decisão. Se eu continuasse afirmando uma expiação
“universal”, ou seja, se eu dissesse que Cristo morreu vicariamente no
lugar de todo homem e toda mulher no mundo inteiro, seria obrigado a
dizer: 1) que todos seriam salvos; 2) que a morte de Cristo não foi
suficiente para salvar sem obras adicionais. Eu sabia que não estava
disposto a crer que a morte de Cristo não podia salvar sem as obras
humanas. Por conseguinte, eu tive de entender que a morte de Cristo foi
realizada em favor dos eleitos de Deus e que ela realiza seu
propósito: salva aqueles em favor dos quais ela aconteceu. Nesse ponto,
compreendi que durante todo o tempo havia “limitado” a expiação. Na
verdade, se você não crê na doutrina reformada da “expiação limitada”,
você crê em alguma forma de expiação limitada! Como pode ser isso? A
menos que você seja um universalista (ou seja, crê que todas as
pessoas serão salvas), então, você crê que a expiação realizada por
Cristo, se foi realizada em favor de todos os homens, é limitada em
seus efeitos. Você crê que Cristo morreu em favor de alguém e, apesar
disso, aquela pessoa pode ficar perdida por toda a eternidade. Você
limita o poder e o efeito da expiação. Eu limito o escopo da expiação,
enquanto afirmo que seu poder e efeito são ilimitados! Um escritor
expressou isso muito bem, quando disse:
“Não deve haver qualquer mal-entendido quanto a este assunto. O arminiano limita a expiação assim como o faz o calvinista. Este limita a extensão da expiação quando afirma que ela não se aplica a todas as pessoas… o arminiano, por sua vez, limita o poder da expiação, pois ele afirma que ela não salva ninguém. O calvinista limita quantitativamente a expiação, mas não qualitativamente; o arminiano limita-a qualitativamente, mas não quantitativamente. Para o calvinista, a expiação é como uma ponte estreita que segue em todo o caminho por cima do rio; para o arminiano, a expiação é como uma ponte larga que vai somente até metade do caminho. Na realidade, o arminiano coloca mais limitações severas na obra de Cristo do que o faz o calvinista” (Lorraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination [A Doutrina Reformada da Predestinação]; Philipsburg, New Jersey, Presbiterian and Reformed Publish-ing Company, 1932, p. 153).
Não
estamos falando sobre apresentar alguma terrível limitação na obra de
Cristo, quando nos referimos à “expiação limitada”. Na verdade, estamos
realmente apresentando um ponto de vista mais elevado sobre a obra de
Cristo no Calvário, quando dizemos que a morte de Cristo realiza alguma
coisa na realidade e não apenas na teoria. A expiação, nós cremos, foi
autêntica, vicária e substitutiva; ela não foi uma expiação possível e
teórica que, para ser eficaz, depende da ação do homem. E, quando
alguém compartilha o evangelho com pessoas envolvidas em falsas
religiões, eu afirmo que a doutrina bíblica da expiação realizada por
Cristo é uma verdade poderosa e a única mensagem capaz de causar
verdadeiro impacto em lidar com os muitos ensinos heréticos sobre a
pessoa de Cristo apresentados em nossos dias. Jesus Cristo morreu em
favor daqueles que o Pai, desde a eternidade, decretou que salvaria.
Existe absoluta unidade entre o Pai e o Filho na salvação do povo de
Deus. O Pai decretou a salvação deles, o Filho morreu no lugar deles, e
o Espírito os santifica e os conforma à imagem de Cristo. Esse é o
testemunho coerente das Escrituras.
O Intento da Expiação
Por
que Cristo veio ao mundo para morrer? Ele veio simplesmente para
tornar a salvação possível? Ou Cristo veio para obter a eterna redenção
(Hebreus 9.12)? Consideremos algumas passagens das Escrituras para
responder essas perguntas.
“Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19.10).
Nesse
versículo, o Senhor Jesus mesmo falou sobre a razão de sua vinda –
buscar e salvar o perdido. Poucos vêem problema no vir de Jesus; muitos
têm dificuldade com a idéia de que Ele realmente realizou toda a sua
missão. No entanto, Jesus deixou claro que viera para salvar o perdido.
Ele fez isso por intermédio de sua morte.
“Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1.15).
Paulo
afirmou que salvar pecadores foi o propósito da vinda de Cristo ao
mundo. Nada nas palavras do apóstolo Paulo nos leva à conclusão que é
tão popular em nossos dias – a morte de Cristo simplesmente torna a
salvação em uma possibilidade, ao invés de torná-la uma realidade.
Cristo veio para salvar. Foi isso mesmo que Ele fez? Então, como Ele o
fez? Não foi por intermédio de sua morte? Com toda a certeza. A morte
expiatória de Cristo outorga perdão de pecados para todos aqueles em
favor dos quais ela aconteceu. Essa é a razão por que Cristo veio ao
mundo.
A Obra Intercessória de Cristo
“Este,
no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio
imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se
chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos
convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula,
separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (Hebreus
7.24-26).
O
Novo Testamento relaciona de maneira íntima a obra de Cristo como nosso
Sumo Sacerdote e Intercessor com a sua morte sobre a cruz. Nessa
passagem de Hebreus, somos ensinados que o Senhor Jesus, devido ao fato
de que Ele vive para sempre, possui um sacerdócio permanente e
imutável. Ele não é semelhante aos antigos sacerdotes que morriam; o
Senhor Jesus é um perfeito sacerdote, porque permanece para sempre. Por
causa disso, Jesus é capaz de salvar totalmente os que por Ele se
achegam a Deus. Por quê? Porque Ele vive sempre para interceder por
eles.
Ora,
antes de considerarmos a relação entre a morte de Cristo e a sua
intercessão, desejo enfatizar o fato de que a Bíblia afirma a
capacidade de Cristo para salvar totalmente o homem. Ele não está
limitado a um papel secundário como o grande Auxiliador que torna
possível o homem salvar a si mesmo. Aqueles que se achegam a Deus por
intermédio de Cristo encontrarão nEle uma salvação abundante e
completa. Além disso, temos de recordar que Cristo intercede por
aqueles que se achegam a Deus. Sinto que é óbvio o fato de que Cristo
não intercede por aqueles que não se aproximam de Deus por intermédio
dEle. A intercessão de Cristo se realiza em favor do povo de Deus. Logo
veremos o quanto isso é importante.
Sobre
que fundamento Cristo intercede diante do Pai? Ele comparece na
presença de Deus e Lhe suplica que esqueça sua santidade, sua justiça e
simplesmente ignore os pecados dos homens? É claro que não. O Filho
intercede diante do Pai fundamentado em sua própria morte. A inter-
cessão de Cristo repousa sobre o fato de que Ele morreu como substituto
do povo de Deus; e, visto que o Senhor Jesus levou sobre o seu corpo
os pecados de seu povo, na cruz (1 Pedro 2.24), Ele pode apresentar sua
oferta diante do Pai em lugar deles e, com base na sua morte,
interceder em favor deles. O Filho não pede que o Pai comprometa a sua
santidade ou simplesmente ignore o pecado. Cristo cuidou do pecado na
cruz. Conforme lemos em Hebreus 9.11-12:
“Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”.
Quando
Cristo entrou no Santo dos Santos, Ele o fez “pelo seu próprio
sangue”. Ao realizar isso, somos informados que obteve “eterna
redenção”. Novamente, essa não é uma afirmação teórica, e sim a
declaração de um fato. Cristo não entrou no Santo dos Santos para
tentar conseguir a redenção para seu povo! Ele entrou ali depois de já
ter conseguido a redenção. Então, o que Ele está fazendo agora? A sua
obra de intercessão é outra obra que se realiza independentemente de
sua morte sacrificial? A morte de Cristo é ineficaz sem esta “outra”
obra? A intercessão de Cristo não é uma segunda obra, independente de
sua morte. Pelo contrário, Cristo está apresentando diante do Pai o seu
perfeito e completo sacrifício. Ele é o nosso Sumo Sacerdote, e o
sacrifício que Ele oferece em nosso lugar é o seu próprio sacrifício.
Ele é o nosso Advogado, como disse o apóstolo João:
“Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 João 2.1-2).
[Essa
passagem freqüentemente é utilizada para negar a expiação específica
de Cristo; mas, quando consultamos a passagem correspondente em João
11.51-52, se torna evidente que João tencionava que a palavra "mundo"
fosse entendida no mesmo sentido em que é explicado para nós em
Apocalipse 5.9-11, onde a morte de Cristo comprou homens de "toda
tribo, língua, povo e nação", ou seja, de todo o mundo.]
A
expiação realizada pela morte de Cristo está claramente vinculada à
sua advocacia diante do Pai. Por essa razão, podemos reconhecer as
seguintes verdades:
1)
É impossível que o Filho não interceda por alguém em favor de quem Ele
morreu. Se Cristo morreu como Substituto deles, como não poderia Ele
apresentar seu próprio sacrifício em lugar deles diante do Pai? Podemos
crer que Cristo realmente morreu por alguém que Ele não tencionava
salvar?
2) É
impossível que alguém em favor de quem Cristo não morreu receba a
intercessão dEle. Se Cristo não morreu em favor de determinado
indivíduo, como poderia Ele interceder por esse indivíduo, visto que
não tem bases sobre as quais Ele pode buscar a misericórdia do Pai?
3)
É impossível que se perca alguém em favor de quem Cristo intercede.
Podemos imaginar o Filho rogando ao Pai, apresentando sua perfeita
expiação em favor de uma pessoa que Ele deseja salvar, e o Pai
rejeitando a intercessão do Filho? O Pai sempre ouve o Filho (João
11.42). O Pai não ouvirá as súplicas do Filho em favor de todos os que o
Filho deseja salvar? Além disso, se cremos que Cristo pode interceder
por alguém que o Pai não salvará, temos de crer que:
a)
há divisão na Divindade – o Pai deseja uma coisa, e o Filho, outra; b)
o Pai é incapaz de fazer o que o Filho deseja que Ele faça. Ambas as
idéias são completamente impossíveis.
Na
oração sacerdotal de Cristo (João 17), podemos ver claramente que Ele
não age como Sumo Sacerdote em favor de todos os homens. O Senhor Jesus
distinguiu claramente entre o “mundo” e aqueles que, em toda a oração,
são mencionados como pertencentes a Ele mesmo. E o versículo 9
ressalta fortemente esse argumento:
“É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.”
Quando
Cristo ora ao Pai, Ele não ora em favor do “mundo”, e sim em favor
daqueles que Lhe foram dados do mundo, pelo Pai (João 6.37).
Por quem Cristo morreu?
Existem
muitas passagens bíblicas que nos ensinam que o escopo da morte de
Cristo limitou-se aos eleitos. Em seguida, apresentamos algumas delas.
“Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20.28).
Os “muitos” em favor dos quais Cristo morreu são os eleitos de Deus, como Isaías havia dito muito tempo antes:
“O meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Isaías 53.11).
O Senhor Jesus deixou claro que sua morte aconteceu em favor de seu povo, quando falou sobre o Pastor e as ovelhas.
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas… assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10.11,15).
O
Bom Pastor entregou a sua vida em favor das ovelhas. Todos os homens
são ovelhas de Cristo? É claro que não, pois muitos homens não conhecem
a Cristo, e Ele disse que as suas ovelhas O conhecem (Jo 10.14).
Depois, Jesus falou especificamente aos judeus que não creram nEle:
“Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (João 10.26).
Devemos observar que, em contraste com a idéia de que, se cremos, nos
tornamos ovelhas do Senhor Jesus, Ele disse que os judeus não creram
porque não eram suas ovelhas. Se uma pessoa é uma ovelha de Cristo,
esta é uma decisão do Pai (João 6.37; 8.47), e não da ovelha!
“Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave… Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5.2,25-27).
Cristo
entregou-se a Si mesmo em favor de sua igreja, o seu corpo, com o
propósito de purificá-la e torná-la seu corpo. Se este era seu
propósito para com a igreja, por que Ele se entregaria por aqueles que
não constituem a igreja? Ele não desejava santificar esses “outros”
também? Mas, se Cristo morreu por todos os homens, há muitos, muitos,
que permanecerão impuros durante toda a eternidade. A morte de Cristo
foi insuficiente para purificá-los? É claro que não. Ele tinha outro
objetivo em mente quando morreu por eles? [Não estou negando que a
morte de Cristo teve efeitos para todos os homens e, na realidade, para
toda a criação. Creio que a morte dEle é uma parte da "consumação de
todas as coisas" em Cristo. Entretanto, estamos falando aqui apenas
sobre o efeito salvífico da expiação vicária de Cristo. Alguém poderia
argumentar que a morte de Cristo tem efeito sobre aqueles em favor de
quem ela não tencionava ser um sacrifício expia-tório.] Não, o
sacrifício de Cristo em favor da igreja resulta em sua purificação;
isso era o que Cristo tencionava para todos em favor dos quais Ele
morreu.
“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Romanos 8.32-34).
O
Pai ofereceu seu Filho em nosso lugar. A quem se refere o pronome
“nós” nesses versículos? O texto esclarece que são os eleitos do Pai,
ou seja, “os eleitos de Deus”. Novamente, a obra intercessora de
Cristo, à direita de Deus, é apresentada em perfeita harmonia com sua
morte – aqueles em favor de quem Cristo morreu são os mesmos por quem
Ele intercede. E, como essa passagem demonstra, se Cristo intercede por
alguém, quem pode trazer acusação contra tal pessoa e esperar vê-la
condenada? Portanto, reconhecemos o que já consideramos: Cristo morreu
em lugar de alguém, Ele intercede por tais pessoas, que infalivelmente
são salvas. A obra de Cristo é completa e perfeita. Ele é o Salvador
poderoso, que jamais falha em realizar seu propósito.
“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (João 15.13).
Todos
os homens são amigos de Cristo? Todos possuem o nome dEle? Todos se
prostram diante dEle e O aceitam como Senhor? Todos obedecem os
mandamentos de Cristo (João 15.14)? Isso não acontece, portanto, todos
eles não são amigos de Cristo.
“Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2.13-14).
Tanto
o elemento de substituição da cruz (Cristo se entregou por nós) quanto
o propósito (remir-nos… purificar) da crucificação foram vigorosamente
apresentados a Tito. Se o propósito de Cristo era redimir e purificar
aqueles em favor dos quais Ele morreu, porventura, isso não aconteceu?
“Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mateus 1.21).
Cristo salvará o seu povo dos pecados deles. Eu pergunto o que
Edwin Palmer me perguntou antes: Cristo realmente o fez? Cristo salvou ou não o seu povo?
“Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2.20).
Essa
é a confissão peculiar de todo verdadeiro crente em Jesus. Nós
morremos com Ele, nosso Substituto, Aquele que nos amou e se entregou
em nosso lugar.
Temos
visto que a Palavra de Deus nos ensina que Cristo morreu por muitos,
por suas ovelhas, pela igreja, pelos eleitos de Deus, por seus amigos,
por um povo zeloso de boas obras, por seu povo, por todos os crentes.
Purificados e Santificados
É
provável que alguém poderia escrever muitos volumes com estudos sobre a
expiação realizada por Cristo. Não é nosso propósito fazer isso neste
artigo. Ao invés disso, concluiremos nosso breve exame das Escrituras
com as palavras de Hebreus 10.10-14:
“Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”.
Ao
mesmo tempo que consideramos algumas razões lógicas para crermos na
expiação limitada e vimos várias referências sobre a morte de Cristo em
favor de seu povo, essa passagem de Hebreus, acima de todas as outras,
para mim, transforma essa doutrina em um imperativo. Ouça com atenção o
que essa passagem nos diz. Primeiramente, qual é o efeito do único
sacrifício do corpo de Jesus Cristo? O que nos diz o versículo 10?
“Temos sido santificados.” A língua grega usa o tempo perfeito nesse
versículo, indicando uma ação completa realizada no passado. A morte de
Cristo realmente nos tornou santos. Cremos nisso? A morte de Cristo
verdadeiramente santifica aqueles em favor dos quais ela foi realizada?
Ou simplesmente torna possível que eles se tornem santos? Essas
perguntas não podem ser negadas com facilidade. O autor de He- breus
prossegue descrevendo como esse Sacerdote, Jesus, assentou-se à direita
de Deus, de maneira diferente do que acontecia aos antigos sacerdotes,
que tinham de permanecer fazendo sacrifícios continuamente. Ao
contrário disso, a obra de Cristo é perfeita e completa. Ele pode
descansar, pois seu único sacrifício se tornou perfeito para todos
aqueles que em suas vidas estão experimentando a obra santificadora da
parte do Espírito Santo. Cristo os tornou completos, perfeitos. Esse
vocábulo se refere a um término, um fim. Cremos que a morte de Cristo
fez isso? Se percebemos com clareza este ensino das Escrituras, estamos
dispostos a alterar nossa crença e nossos métodos de proclamar o
evangelho, para ajustar-se à verdade?
Uma
crença comum precisa ser apresentada quando transmitimos a verdade.
Muitos que acreditam em uma expiação “universal” ou não-específica
afirmam que, enquanto Cristo morreu por todos, sua expiação é eficaz
somente para aqueles que crêem. Em outra oportunidade falaremos sobre o
fato de que a própria fé é um dom de Deus, dada somente aos seus
eleitos. Agora, ao responder esse argumento, queremos apenas
referir-nos ao grande puritano John Owen:
“Poderia acrescentar esse dilema aos universalistas: Deus impôs a sua devida ira, e Cristo suportou as dores do inferno por todos os pecados de todos os homens, ou por todos os pecados de alguns homens, ou por alguns pecados de todos os homens. Se este último for correto – alguns pecados de todos os homens, isso significa que todos os homens têm alguns pecados pelos quais têm de responder a Deus, e, portanto, nenhum homem será salvo; pois, se Deus entra em juízo conosco, embora Ele o fizesse com toda a humanidade por apenas um pecado, nenhuma carne seria justificada diante dEle. ‘Se observares, Senhor, iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá?’ (Salmo 130.3). Se a segunda opção for correta (o que nós afirmamos), isso significa que Cristo sofreu por todos os pecados de todos os eleitos no mundo. Se a primeira é correta, por que, então, todos os homens não se encontram livres da punição de todos os seus pecados? Você dirá: ‘Por causa de sua incredulidade, eles não crêem’. Mas esta incredulidade é pecado ou não? Se não é, por que eles devem ser punidos por sua causa? Se esta incredulidade é pecado, Cristo sofreu a punição devida a ela, ou não? Se Ele sofreu, então, por que esse pecado os impede, mais do que quaisquer outros pecados pelos quais Cristo morreu, de participar dos benefícios da morte dEle? Se Cristo não sofreu por esse pecado, isto significa que Ele não morreu por todos os pecados deles. Eles devem escolher que posição têm de assumir” (John Owen, A Morte da Morte na Morte de Cristo; Londres, Banner of Truth, 1985, pp. 61-62.)
Conclusão
Alguns
rejeitam a doutrina da expiação limitada utilizando fundamentos
bastante pragmáticos. “Essa doutrina destrói o evangelismo, porque você
não pode dizer às pessoas que Cristo morreu por elas, visto que você
não sabe disso!” Mas, perguntamos, existe alguma vantagem em apresentar
uma expiação teórica, um Salvador cuja obra é incompleta e um
evangelho que é apenas uma possibilidade? Que tipo de proclamação Deus
honrará com seu Espírito: uma proclamação elaborada tendo em vista o
“sucesso” ou uma proclamação que está presa à verdade da Palavra de
Deus? Quando os apóstolos pregavam o evangelho, eles não diziam:
“Cristo morreu por todos os homens de todos os lugares; agora cumpre a
vocês tornarem eficaz a obra dEle”. Os apóstolos ensinavam que Cristo
morreu pelos pecadores e que o dever de todo homem é arrepender-se e
converter-se. Eles sabiam que somente a graça de Deus podia produzir
arrependimento e fé no coração do homem. E, ao invés de ser um
obstáculo à obra de evangelização dos apóstolos, essa mensagem era o
poder que estava por trás da evangelização que eles realizavam. Eles
proclamavam um Salvador “poderoso”, cuja obra é todo-suficiente e que
salva total e completamente os homens! Os apóstolos sabiam que Deus
estava trazendo os homens para Si mesmo, e, visto que Ele é o soberano
do universo, não há poder no mundo que seja capaz de parar a sua mão!
Ora, existe um fundamento sólido para a evangelização! E o que poderia
ser mais estimulante para um coração dilacerado por culpa do que saber
que Cristo morreu em favor de pecadores e que a obra dEle não é apenas
teórica, e sim real?
A
igreja precisa desafiar novamente o mundo com a proclamação ousada de
um evangelho que é ofensivo – ofensivo porque fala sobre Deus que salva
a quem Ele quer; ofensivo porque proclama um Salvador soberano que
redime o seu povo.
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