Quando
alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois
Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado
pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo,
tendo concebido, dá à luz o pecado, o e pecado após ter se consumado, gera a
morte.
Meus
amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo o dom perfeito vêm
do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por
Sua decisão Ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos os primeiros
frutos de tudo o que Ele criou. (Tg
1.13-18)
Séculos
de tradição religiosa tem insistido em que Deus não pode ser o autor do pecado.
Eu tenho refutado isto em um número de lugares.[1] Existe a aceitação de que
para Deus ser a causa metafísica direta de todo o mal comprometeria a Sua
retidão. Eu tenho demonstrado que isto não tem base e não é inteligente, e negar
que Deus é o autor do pecado é negar também a Sua soberania e providência. De
fato, é um ataque ao Seu próprio Ser e posição como
Deus.
Pois que
todo acontecimento, seja bom ou mal, tem de ter uma causa metafísica. Se não
existe causa, então este acontecimento seria ele próprio Deus; contudo, não
estamos falando sobre Deus, mas sobre o que acontece na Sua criação. Se a causa
não é Deus, então deve ser alguma outra coisa. E se for alguma outra coisa,
então este acontecimento e a sua causa estão fora do controle direto de Deus.
Isto é uma forma da heresia do dualismo, a de que existem duas ou mais forças
mais elevadas trabalhando no universo, talvez uma para reger o bem e a outra
para reger o mal. É uma filosofia pagã, e é resultado da doutrina de que Deus
não é o autor do pecado.
Todos os
tipos de aceitações arbitrárias são contrabandeadas para dentro da discussão.
Algumas pessoas pensam que para Deus ser o “autor” do pecado é o mesmo que Ele
“cometer” pecado – isto é, para Deus causar o mal no sentido metafísico seria
para Ele o mesmo que praticar o mal no sentido moral. Mas esta suposição é
destruída apenas por se afirmá-la claramente deste modo. É óbvio que as duas
pertencem a duas diferentes categorias de ações e acontecimentos. Acrescentando,
uma vez que Deus é quem define o Bem e o mal, para Ele cometer o mal, Ele antes
deve estabalecer que seria um mal Ele fazer tal coisa, e então ir adiante e
fazê-la. Em outras palavras, a menos que Deus desaprove a Si mesmo, então o que
for que Ele faça é justo por definição. Não cabe aos teólogos definir o mal para
Ele, dizendo-Lhe que, mesmo sendo Deus sobre todas as coisas, Ele não deve
reinar diretamente sobre o mal, mas que Deus tem que ser Deus somente sobre o
bem, e satã deve ser o deus sobre o mal, para reger um reino que o próprio Deus
não pode tocar. Tal doutrina é uma blasfêmia da mais alta categoria. Insistimos
que Deus é o autor de todas as coisas; portanto Deus é o autor do
pecado.
Algumas
pessoas fazem a objeção de que se Deus controla diretamente todas as coisas,
então isto se transforma na doutrina do panteísmo. Esta objeção nos economiza
tempo porque ela imediatamente nos mostra a falta de inteligência deles e a sua
habilidade inferior como pensadores, de modo que não os levaremos muito a sério
daqui para frente. A objeção brota do absurdo princípio de que Deus se
identifica com o que Ele controla, de modo que se Deus controla diretamente
todas as coisas, então Ele é identificado com todas as coisas, o que é
panteísmo. Sendo esta aceitação arbitrária e sem justificativa, nós eliminamos a
objeção simplesmente pela exposição e rejeição da
hipótese.
A pessoa
que exibe a suposição é então deixada com um infeliz dilema. Ou seja, já que
eles assumem que Deus se identifica com aquilo que Ele controla, então
eles têm de negar que Deus controla diretamente qualquer parte da Sua criação,
ou têm de afirmar que Deus é identificado com qualquer coisa que Ele tenha
controle direto. Eles precisam então afirmar que Deus não tem controle direto
sobre qualquer coisa, ou que Deus é identificado com pelo menos uma parte da Sua
criação. Qualquer das duas opções faria deles não-Cristãos. Em sua tentativa de
apresentar uma objeção inteligente contra a total soberania de Deus e controle
direto sobre todas as coisas, eles se tornaram pagãos e
heréticos.
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