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Quem
assiste às piadas sem graça de programas como Zorra Total, A Praça é
Nossa ou Show do Tom e conclui que o humor brasileiro vem padecendo de
falta de criatividade precisa conhecer uma categoria nova de comediantes
que atua em outras frentes. Padre Quevedo? Henri Cristo? Nenhum deles é
páreo para o Pastor Francisco Vieira, que faz uma verdadeira romaria
pelas igrejas evangélicas brasileiras narrando a saga do seu personagem
mais famoso, o Ex-bruxo Tio Chico.
O
auto ungido ex-bruxo tem uma agenda bastante disputada. Só em janeiro,
segundo o seu site oficial, fez turnê por cinco cidades: Rio de Janeiro,
São Paulo, Birigui-SP, Araçatuba-SP e Juquiá-SP, pregando em igrejas
como Assembléia de Deus, Internacional da Graça e Evangelho
Quadrangular. Em todos esses lugares, Tio Chico conta com riqueza de
detalhes suas fantásticas aventuras, leva a platéia ao riso e à comoção
e, como ninguém é de ferro, faz seu pé-de-meia.
Para
quem nunca ouviu falar no ex-bruxo Tio Chico, recomendo uma visita ao
You Tube ou a aquisição, por R$ 25,00, de seus DVDs de testemunho. O
preço é salgado, mas é riso garantido. Francisco teria nascido em 18 de
setembro de 1960, estando no momento com 47 anos. Se os cineastas
brasileiros fossem mais atentos, a sua vida renderia um longa-metragem
capaz de deixar Steven Spielberg no chinelo. Forrest Gump não tem a
mesma riqueza dramática.
Tio
Chico conta com naturalidade que fez três pactos com o Diabo. Estranho o
fato dos dois primeiros terem sido invalidados. A precocidade é um dos
pontos destacáveis do nosso herói. Segundo suas palavras, foi o
Pai-de-Santo mais novo do Brasil, tendo conseguido a façanha com 10 anos
de idade. Um fato que me impressiona na história de Tio Chico é a sua
onipresença e capacidade de ultrapassar a barreira do tempo. Segundo
informações do seu site, o bruxo Tio Chico transformou-se em nova
criatura em 1990. Pouco tempo depois foi promovido a Pastor Francisco e
percorre o país tornando conhecidas suas folclóricas atuações em
diversas áreas, sempre com uma espantosa capacidade. Não se sabe como,
Tio Chico foi funcionário do Banco Central por oito anos. Não se sabe
também como chegou ao cargo de chefe de gabinete por meio de concurso
público. Algo inédito no Brasil. Segundo o mago das finanças, desviava
dinheiro dos clientes para sua conta e enviava sua dinheirama para
paraísos fiscais na Suiça. Não se sabe também como o Banco Central tinha
clientes comuns, ao estilo do Bradesco ou da Caixa. Tio Chico conta que
lucrava milhões fazendo desvios.
Impressionante
também é a onipresença de Tio Chico. Apesar de ter afirmado que morou
em 19 capitais brasileiras, achou tempo para praticar Umbanda,
Quimbanda, Vodu, Feitiçaria, Bruxaria,Cartomancia, Universo em
Desencanto, Igreja do Diabo,seita do Reverendo Moon, Budismo, Hinduísmo,
Nova Era, Meninos de Deus, Islamismo, Judaísmo, além de jogar búxios,
baralho, ler mão, ver bola de cristal, ser coroinha da Igreja Católica.
Acha pouco? Tio Chico dá o golpe de misericórdia: ele ocupou o mais alto
posto da Maçonaria e revela detalhes curiosos como sacrifícios de
criancinhas e bodes.
Um
truque ainda não desvendado é como Tio Chico fazia para sair do Brasil,
só para atender aos caprichos da sua exigente mulher e, almoçar em
Miami, e voltar no mesmo dia. Só para se ter uma idéia, o maior avião
comercial do mundo, lançado após a era Tio Chico, chega a fazer 1.010 km
por hora. De São Paulo a Miami, por exemplo, são 6.561 km. Para ir, sem
escala, considerando o exato momento de embarque e desembraque da
aeronave, Tio Chico e sua garota gastariam 13 horas para realizar este
pequeno luxo. Considerando o passeio de táxi até o aeroporto, espera do
vôo, revista, saída do aeroporto, entrada no restaurante, pedido e o ato
de comer em si, no mínimo mais uma hora.
Concluindo:
para esperar um almoço demorado assim, só mesmo fazendo uns beliscos à
bordo. Agora, difícil mesmo seria ir para Tóquio e voltar no mesmo dia,
como Tio Chico cansou de fazer, para agradar a ingrata esposa. Até hoje
não ficou explicado como ele conseguiu percorrer os mais de 36 mil km
entre o Brasil e o Japão ( considerando ida e volta) num mesmo dia ( de
24 horas), num avião a mil km por hora. Conclui-se que um dos pactos de
Tio Chico o fazia ignorar as leis da Física para realizar seus intentos.
Tio
Chico faz questão de propagar seu passado de vacas gordas. Ele garante
que o contrato com o diabo lhe rendera quatro limusines, uma Ferrari,
uma Mercedes Benz e uma incrível BMW, na qual o intrépido prosador fazia
viagens para a África, ignorando completamente a existência de um
Oceano Atlântico. Nas horas de folga, Tio Chico fazia rituais de magia
negra e sacrifícios infantis na super máquina satânica. O então bruxo
dispunha também de mansões e doze apartamentos em Brasília.
Tio
Chico tem um passado tenebroso, tão tenebroso que faria o mítico
personagem Jason se sentir um anjinho. Ele confessa nos púlpitos por
onde passa o assassinato de quarenta pessoas a bala e o sacrifício de
vinte e duas crianças. Tio Chico é modesto. Não computou no seu catálogo
as mortes indiretas, vamos assim dizer. Ele garante que a cantora Clara
Nunes, o apresentador Chacrinha e o presidente Tancredo Neves, morreram
graças a trabalhos bem sucedidos realizados por ele. Para despachar a
cantora baiana, Tio Chico teria embolsado US$ 45 milhões e um carro 0
Km. Cortesia do ex-prefeito de São Paulo, Orestes Quércia. Nâo se sabe
se o carro tem poderes mágicos. Já Chacrinha foi mal avaliado. Pela
bagatela de US$ 1 milhão, o impiedoso Tio Chico matou o Velho Guerreiro.
A encomenda veio da “amante dele”, Rita Cadillac. Já o presidente
Tancredo Neves foi morto a pedido de Paulo Maluf e José Sarney. Incrível
como era influente o nosso personagem. Apesar de ter morado em 19
capitais, conhecido 68 países, ter feito um curso superior, ter
frequentado com certa importância 28 religiões, chefe de gabinete do
Banco Central, prestador de serviço para a Câmara e o Senado, o
incansável, onipresente e onipotente Tio Chico comandava o Comando
Vermelho no Rio de janeiro, ao lado de figuras como Escadinha,
Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP. Mesmo assim, ainda achava tempo
para visitar cemitérios e se alimentar de vísceras humanas e prestar
“trabalhos espirituais” em seu centro para 68 empresas. Injetou sangue
de bode no corpo, gasolina e éter. Teve um tórrido romance de oito meses
com sua cachorra Fila Brasileira. Tudo isso até os 30 anos de idade.
A
história de Tio Chico que mais me seduz é a que ele claramente desafia
toda a possibilidade matemática e diz que comprou a esposa, quando esta
tinha 12 anos de idade. Ficou casado 19 anos com ela e já está há 17
separado. Como Tio Chico tem hoje 47 anos, estima-se que ele tenha feito
isso com incríveis 11 anos de vida. Em um de seus testemunhos, Tio
Chico conta que trabalhou para a Wagner Canhedo, tendo inclusive
sugerido o nome para a Vasp. Ele só não explica em qual encarnação fez
isso, já que a empresa foi fundada em 1933. Tio Chico também garante que
trabalhava nos bastidores para a Chevrolet, que segundo ele cada letra
significa uma palavra, que descamba na frase “Chegou Hoje Este Vagabundo
Roubando Ouro Liquidando Esta Terra”. Nem o fato da montadora ter sido
fundada pelo piloto franco-americano Louis Chevrolet, em 1911, nos EUA,
intimida Tio Chico. Presumo que ele terá alguns problemas para traduzir a
frase para o inglês usando as mesmas iniciais. Idem para o francês e o
espanhol. Espantoso também foi o fato de Tio Chico ter experimentado uma
recaída, já que afirma que nomeou o Marea, veículo da Fiat, que
significa no idioma diabês Enxu Marea. O problema é que Tio Chico
garante que se aposentou das suas atividades mirabolantes em 1990. Como o
Fiat Marea foi lançado em 1998 no Brasil, fica no mínimo, curiosa a
participação do mestre neste episódio.
O
maior troféu de Tio Chico é a apresentadora Xuxa, da Rede Globo
(emissora que se valia de seus préstimos também). Ele garante que a
Rainha dos Baixinhos realizou três pactos com o Coisa-Ruim, para se
tornar famosa e rica. O generoso Tio Chico teria intermediado o negócio.
Não se sabe quanto lucrou nesta transação. Aliás, Tio Chico faturava de
todas as formas. Garante que há um processo contra ele no Distrito
Federal, por ter falsificado 1800 folhas de cheque. Curiosamente, não
consta nenhum processo contra Francisco José Vieira Guedes na Justiça de
Brasília. Tio Chico tem a espantosa capacidade de fazer os processos
evaporarem como mágica das gavetas dos tribunais. Curioso também o fato
de em seu site não constar nenhuma cópia de qualquer documento de suas
transações, uma lembrança de alguma viagem para algum das dezenas de
países, nenhuma certidão de óbito de duas filhas que ele garante terem
sido sacrificadas. Tio Chico é um homem muito reservado.
Quando
Tio Chico foi tocado por Jesus e resolveu jogar sua vida perversa no
mar do esquecimento, sofreu várias retaliações de seu antigo patrão. Ele
conta que foi vítima de um terrível acidente de carro, que lhe rendeu
25 cirurgias. Como desgraça pouca é bobagem, Tio Chico conta que está
vivo pela graça de Deus, já que os médicos retiraram incríveis 250
gramas de estilhaços de vidro de sua cabeça, perdeu as cordas vocais
(usa uma até então inédita prótese de borracha) e outros detalhes que
não convém relatar. Fato incrível é que o Pastor Francisco tem
passaporte livre em centenas de igrejas e nenhum pastor pede alguma
comprovação de seus feitos ou chama a Polícia Federal. É uma
encruzilhada santa: se Tio Chico (apesar da Cronologia, Geografia,
História, Biologia, Matemática, Física, Química e todas as outras
ciências provarem o contrário) diz a verdade, é merecedor de capa na
Veja, destaque no Fantástico e no mínimo uns cem anos de solidão
carcerária. Normalmente, Deus perdoa o pecado hediondo. Mas a Justiça
dos homens não é assim tão compreensiva. Se Tio Chico, como tudo leva a
crer, falta com a verdade (no que compensa com muita criatividade), pode
responder processo por calúnia, difamação e falso testemunho. É também
de se duvidar da seriedade das instituições religiosas que o recebem.
Das duas uma: ou levam um criminoso hediondo e plural para usar seus
púlpitos ou patrocinam um mentiroso de proporções nunca alcançadas por
uma mente humana antes.
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